Professor da Unesp alerta para aumento de incidência no verão
Ouriço-do-mar
O verão faz com que um grande número de pessoas se
instale em ambientes aquáticos, devido à busca de atividades de lazer. Estas se
somam aos habitantes de áreas de praias, rios e lagos, predispondo acidentes
por animais aquáticos. Há anos, Vidal Haddad Junior, Professor Livre-Docente da
Faculdade de Medicina de Botucatu da Unesp, procura fazer com que descobertas e
tratamentos de primeiros socorros para estes acidentes (por ouriços-do-mar,
águas-vivas e caravelas e peixes venenosos como arraias e bagres) sejam
passados à população contando com o papel fundamental da mídia no processo.
Estes dados foram obtidos, registrados e organizados
de uma forma simples e acessível à população por mais de 25 anos através de
atuação direta e folhetos informativos que produzimos (ver exemplo em http://cebimar.usp.br/index.php/pt/com-flippingbook-menu/com-manage-pages-menu/folheto-animais-marinhos-prevencao-de-acidentes-e-primeiros-cuidados.html).
No verão, muitas campanhas são deflagradas
prevenindo contra vários problemas, como queimaduras solares, afogamentos,
etc., mas praticamente não se fala sobre estas ocorrências, que são comuns em
ambientes aquáticos.
O professor está disponível para entrevistas e
informações nos seguintes contatos: 14 3880 12 72, 14 3880 12 59 e 14 3880 12
67. E-mail: haddadjr@fmb.unesp.br . Currículo LATTES:
http://lattes.cnpq.br/7385129302501798
Entrevista
1. Quais os animais marinhos mais perigosos das
praias brasileiras?
Os animais que podem provocar acidentes nas praias
são principalmente os ouriços-do-mar, as águas-vivas e caravelas e alguns
peixes peçonhentos como os bagres e mais raramente, as arraias e os
peixes-escorpião. Outros peixes podem causar traumatismos graves, como os
tubarões, em situações ainda mais raras (com algumas áreas do Brasil sendo
exceção, como a região de Recife, em Pernambuco).
2. Como identificar se um animal marinho é
peçonhento?
Não há uma regra definitiva. Qualquer pessoa sabe
que deve evitar a proximidade de um tubarão, mas algumas águas-vivas são de
difícil visualização na água e também podem causar graves acidentes. Uma regra
básica é não tocar nenhum animal trazido às praias pelas ondas.
3. Quais os animais marinhos que mais provocam
acidentes nas praias?
Em dados obtidos em mais de 25 anos de trabalho na
área e obtidos no litoral da região Sudeste (no Pronto-Socorro de Ubatuba, SP)
vimos que 2% dos atendimentos foram por animais aquáticos. Os animais
causadores foram os ouriços-do-mar (50% de mais de 2500 casos), as caravelas e
águas-vivas (25%) e os bagres e arraias (25%). Entre os peixes peçonhentos, a
maioria absoluta dos acidentes em humanos é causada por bagres atirados na
areia por pescadores de pequenas redes e pisados por banhistas e caminhantes.
4. Como evitar acidentes por águas-vivas?
Nos acidentes por águas-vivas, raramente se vê o
animal, que é transparente (a menos que seja uma caravela, que tem uma bolsa
flutuadora arroxeada). Quando acidentes deste tipo acontecem, a melhor coisa a
se fazer é deixar a água, pois pode acontecer de haver um grande número destes
bichos chegando à praia (embora animais isolados possam causar acidentes).
5. Quais as situações que precipitam acidentes por
ouriços-do-mar e quais são as medidas de primeiros socorros para um acidentado?
O ouriço-do-mar é recoberto por espinhos. Ele fica
em colônias em paredões rochosos ou em pequenas lagoas que se formam nas marés
em terrenos pedregosos entre praias. Quando pisados, os espinhos se quebram e
penetram profundamente na pele da vítima. O acidentado deve ficar em repouso,
evitando pisar sobre a área atingida, o que irá fazer os espinhos penetrarem
ainda mais na pele. Deve-se procurar atendimento hospitalar para extração dos
espinhos, o que pode ser uma tarefa muito difícil, uma vez que estes se
fragmentam.
6. Quais as medidas de primeiros socorros para um
acidente por água-viva?
O acidente deixa linhas avermelhadas e dor intensa,
correspondentes aos tentáculos dos bichos. A dor é instantânea e violenta. Os
tentáculos ainda aderidos devem ser retirados sem usar as mãos nuas e é
fundamental o uso de compressas de água do mar gelada ou cold-packs - gelo
artificial - (água doce piora o quadro!). Banhos com vinagre ajudam a inativar
o veneno.
7. O que é mais perigoso para um banhista:
águas-vivas ou caravelas? Como diferenciá-las?
Apesar de ambas pertencerem a um mesmo grupo de
animais (cnidários), as águas-vivas são transparentes e raramente são visíveis
na água, enquanto que as caravelas apresentam uma bolsa púrpura que flutua cima
da linha da água, sendo facilmente avistadas. É importante ainda saber que
cnidários permanecem com capacidade de envenenar até cerca de 24 horas fora da
água, o que deve ser levado em consideração pela possibilidade de crianças
brincarem com animais encalhados nas praias.
8. Em que época do ano caravelas e águas-vivas
aparecem mais?
As águas-vivas e caravelas realmente aumentam em
quantidade durante o verão, provavelmente devido a épocas de reprodução dos
animais e a chegada de correntes frias de alto-mar em nosso litoral (e nesta
época os turistas também aumentam nas praias). Os acidentes por ouriços-do-mar
também aumentam nesta época, mas somente pelo aumento dos turistas descuidados
nas praias.
9. Quais os peixes mais perigosos para os
banhistas?
Os peixes que mais provocam acidentes são pequenos
bagres atirados na areia e águas rasas por pescadores amadores e que tem veneno
ativo em seus ferrões por horas após sua morte. Deve-se tomar cuidado ainda com
arraias, que permanecem enterradas na areia e podem provocar acidentes graves
através de ferrões presentes na cauda. É importante se ter em mente que todo
acidente por peixe tem a dor aliviada por imersão do local em água quente (mas
nunca quente demais). Nos rios, os mandis e bagres tem o mesmo papel dos bagres
marinhos. Os acidentes por arraias podem ser graves e existem muitos peixes
traumatizantes, como as piranhas, pintados, dourados, etc. Acidentes por peixes
marinhos e fluviais causam dor e necrose (feridas) na pele.
10. Em que praias aparecem tubarões?
Os acidentes causados por tubarões são raros na
costa brasileira e no mundo todo. Na região metropolitana de Recife, no
entanto, vem ocorrendo dezenas de acidentes nos últimos anos, provavelmente
pela mudança do ecossistema local e do ambiente dos tubarões, que vem se
aproximando das praias e vitimando surfistas. Em outros locais do Brasil é
muito pouco provável acontecer um acidente.
11. Quais os perigos a que estão expostos os
mergulhadores? E os pescadores amadores?
Os mergulhadores estão sujeitos a acidentes com
mais espécies de animais perigosos que os banhistas. Por exemplo: o peixe mais
venenoso da costa brasileira é o peixe-escorpião, que fica camuflado nos fundos
rochosos. Um acidente provoca dor intensa por mais de 24 horas. As arraias
também podem causar acidentes, assim como moréias, barracudas e outros peixes
grandes. A regra é olhar, mas não tocar, uma vez que quase todo animal marinho
possui alguma forma de defesa. Pescadores amadores se acidentam ao retirar
peixes venenosos dos anzóis, como bagres ou peixes-escorpião.
13. Quais os cuidados que um banhista deve ter ao
nadar nos rios e lagos?
Não há necessidade de cuidados especiais em relação
aos animais fluviais. Os acidentes ocorrem principalmente em pescadores, por
ferroadas de mandis, mordidas de piranhas, dourados, etc. Nos rios da Amazônia,
no entanto, existe um pequeno bagre parasita que pode penetrar na uretra humana
(o candiru) e só pode ser extraído através de cirurgia, razão pela qual quem
nada nos rios evita urinar na água e usa proteção para impedir a entrada do
peixinho. Outro perigo são as arraias de água doce, que ferroam pessoas que as
pisam em águas rasas e causam dor e feridas.
14. Os frutos do mar provocam alergia? Qual a
gravidade?
Os
crustáceos (siris, caranguejos, lagostas, camarões) apresentam pigmentos que
podem provocar alergia em humanos com certa frequência. Esta se manifesta por
placas avermelhadas e muito prurido (urticária), com ocasionais problemas
respiratórios por inchaço na garganta e podem até causar a morte rápida (choque
anafilático), de forma semelhante ao que acontece nas picadas de abelhas.
Qualquer pessoa que apresente este tipo de alergia deve ser levada ao
Pronto-Socorro mais próximo.