Levantamento ouviu mais de 21 mil mulheres e revela que a rua continua sendo o lugar onde as mulheres são menos respeitadas. 94% consideram o Brasil um país machista
Quase metade das brasileiras (46%)
acredita que as mulheres não são tratadas com respeito no país. A sensação não
é isolada: ela se repete em casa, no trabalho e, principalmente, nas ruas, onde
49% delas dizem que as mulheres não são respeitadas. Os números são da 11ª
Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, o maior levantamento do país
sobre o tema, realizado pelo DataSenado e pela Nexus, em parceria com o
Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), do Senado Federal.
Parte do estudo integra o Mapa
Nacional da Violência de Gênero, plataforma criada pela OMV com apoio do
Instituto Natura e da associação Gênero e Número para reunir informações
oficiais do Ministério da Justiça, Ministério de Relações Exteriores, SUS, IBGE
e outras fontes.
A nova edição da pesquisa do
DataSenado e da Nexus ouviu mais de 20 mil mulheres em todas as regiões do país
e expõe que a percepção é de que o machismo segue sendo regra, e não exceção:
94% das entrevistadas classificam o Brasil como um país machista. A
percepção de desrespeito permanece estável em relação a 2023, mas ainda em
patamar elevado. Além disso, atravessa todos os espaços da vida das mulheres:
- 49% acham (pensam/percebem) que as mulheres
não são respeitadas nas ruas;
- 24% acham (pensam/percebem) que as mulheres
não são respeitadas no trabalho;
- 21% acham (pensam/percebem) que as mulheres
não são respeitadas em casa, pela família;
- Mais de 60 milhões de mulheres dizem viver em
um país “muito machista”.
“Esse acompanhamento e atualização
bienal dos dados permite que a gente mensure como está e o que tem mudado no
País em relação à violência contra mulheres e a percepção sobre o tema. Ou
seja, é essencial para apoiar senadores e governo na hora de criar e mensurar o
sucesso de leis e políticas públicas de proteção às mulheres”, diz Marcos Ruben
de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado.
Sensação de desrespeito dentro de casa aumentou nos últimos anos
Desde 2011, a rua é o ambiente mais
mencionado como local de maior desrespeito. Ainda que a quantidade de mulheres
com esta percepção tenha caído 3 pontos percentuais entre 2023 e 2025, quase
metade (49%) das entrevistadas ainda afirma que é nas vias públicas que as
mulheres ficam mais vulneráveis. Já a percepção de que o desrespeito é maior
dentro de casa aumentou 4 pontos, o que corresponde a cerca de 3,3 milhões de
mulheres a mais que passaram a ver o ambiente familiar como o lugar mais
inseguro. No ambiente de trabalho, não houve alteração significativa, mas este
permanece sendo o segundo ambiente em que as mulheres percebem que há menos
respeito.
“Esse aumento da declaração sobre
desrespeito na família pode estar relacionado a uma maior conscientização das
mulheres em relação à violência doméstica e familiar. Embora seja preocupante a
percepção de que as mulheres não são respeitadas no círculo social mais íntimo,
aquele que, em tese, deveria ser um espaço de proteção e acolhimento, isso vai
ao encontro dos números altos de violência doméstica no país. Infelizmente, não
é só a rua que apresenta perigo e desrespeito, conforme demonstram nossos altos
índices de feminicídio”, comenta Beatriz Accioly, antropóloga e líder de
Políticas Públicas pelo Fim da Violência Contra Meninas e Mulheres do Instituto
Natura.
Violência de gênero segue em alta
Desde 2017, cerca de oito em cada dez
mulheres acreditam que a violência doméstica aumentou no país. Em 2025, 79%
afirmaram perceber um crescimento da violência. Quando perguntadas sobre a
reação das vítimas:
- Apenas 11% acreditam que mulheres denunciam
“sempre” ou “na maioria das vezes”;
- 23% dizem que as vítimas não denunciam;
A percepção de que o Brasil é um país
machista continua praticamente unânime entre as mulheres. Em 2025, 94% delas
afirmam viver em um país machista, mesmo índice de 2023. O que mudou foi a
intensidade: o grupo que considera o Brasil muito machista subiu de 62% para
70% em dois anos, o que representa 8 milhões de mulheres a mais com avaliação
mais crítica sobre a desigualdade de gênero.
Desde 2017, o percentual nunca ficou
abaixo de 90%, e apenas 2% das brasileiras dizem não ver machismo no país. O
aumento da percepção de machismo caminha junto com a sensação de que a
violência doméstica cresceu: 79% das mulheres acreditam que esse tipo de
violência aumentou nos últimos 12 meses, retomando o maior patamar da série
histórica.
Diferenças regionais e escolaridade
As diferenças na percepção de
respeito também variam de acordo com a região do país. No Sul, por exemplo, 53%
das mulheres afirmam que “às vezes” as mulheres não são tratadas com respeito,
o maior índice entre todas as regiões. Já no Nordeste, metade das entrevistadas
(50%) diz que as mulheres não são respeitadas.
Embora sem diferença estatisticamente
significativa em relação ao Nordeste, o Sudeste aparece logo em seguida, com
48% afirmando que as mulheres não são respeitadas, seguido do Centro-Oeste
(44%) e do Norte (41%). Apesar das variações, em todas as regiões há uma
presença significativa de mulheres que oscilam entre o respeito ocasional e o
completo desrespeito, o que demonstra que o sentimento de instabilidade na
forma como a sociedade trata as mulheres é generalizado.
“Os dados ajudam a dimensionar como a
violência contra a mulher deixa de ser um assunto restrito à esfera doméstica e
passa a ser estrutural, com efeitos sociais e econômicos de longo prazo”,
aponta Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a
Violência no Senado Federal.
Quando os dados são analisados a
partir do nível de escolaridade, o cenário revela desigualdades ainda mais
profundas. Entre as mulheres não alfabetizadas, 62% afirmam que as mulheres não
são tratadas com respeito, índice muito superior ao registrado entre as que
concluíram o ensino superior (41%). A percepção de respeito aumenta conforme
cresce o nível de instrução, mas não desaparece completamente: mesmo entre
mulheres com diploma universitário, apenas 8% dizem que as mulheres são
plenamente respeitadas. As maiores variações se concentram nas faixas com
ensino médio e superior incompleto, em que mais da metade das entrevistadas
afirma que as mulheres são tratadas com respeito apenas “às vezes”, revelando
que a escolaridade pode reduzir, mas não elimina, a percepção de desrespeito e
machismo estrutural.
“O cruzamento entre escolaridade e
percepção de respeito também mostra como as desigualdades educacionais se
convertem em vulnerabilidade social. Mulheres com menor acesso à educação
formal não apenas percebem mais situações de desrespeito, como também enfrentam
maior dificuldade para denunciar ou acessar serviços de proteção”, analisa
Vitória Régia da Silva, diretora executiva da Associação Gênero e Número.
METODOLOGIA
O Instituto de Pesquisa DataSenado,
em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência, lança a 11ª
edição da Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher. A pesquisa bienal
acompanha a percepção das mulheres brasileiras sobre a violência doméstica e
familiar há 20 anos, desde 2005.
A edição deste ano teve como
população-alvo mulheres com 16 anos ou mais, residentes no Brasil. No total,
foram 21.641 entrevistas. As amostras do DataSenado são totalmente
probabilísticas, permitindo calcular a margem de erro para cada resultado com
nível de confiança de 95%. Para estimativas simples envolvendo todas as 21.641
mulheres entrevistadas, a margem de erro média foi de 0,69 ponto percentual,
com desvio padrão de 0,45 ponto percentual. As entrevistas foram distribuídas
por todas as unidades da Federação, por meio de ligações para telefones fixos e
móveis, com alocação uniforme por estado e Distrito Federal.
SOBRE O INSTITUTO DE PESQUISA DATASENADO
O Instituto de Pesquisa DataSenado
tem mais de 20 anos de história e foi criado pelo Senado Federal para reforçar
a representação parlamentar federativa do Senado Federal. Este
levantamento integra série histórica iniciada em 2005 e tem por objetivo
ouvir cidadãs brasileiras acerca de aspectos relacionados à desigualdade de
gênero e a agressões contra mulheres no país.
SOBRE O OBSERVATÓRIO DA MULHER CONTRA A VIOLÊNCIA
Criado em 2016 pelo Senado Federal, o
Observatório da Mulher contra a Violência reúne, analisa e divulga dados sobre
a violência de gênero no Brasil. Em parceria com o Instituto DataSenado, atua
na produção e integração de informações que subsidiam políticas públicas e
fomenta o intercâmbio entre as principais instituições envolvidas no
enfrentamento à violência contra mulheres.
MAPA NACIONAL DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO
O Mapa é resultado da união de
esforços de muitas mãos e corações. A ideia de fazer diferente, de construir
algo relevante, motivou organizações, profissionais e vontades, todos com um
único propósito: criar uma ferramenta poderosa na luta contra a violência que
atinge mulheres e meninas. Realizado por meio da cooperação entre Estado,
sociedade civil e imprensa, o projeto é fruto da parceria entre o Senado
Federal (representado pelo Observatório da Mulher e DataSenado), o Instituto
Natura e a Gênero e Número, que reuniram seus projetos em uma plataforma
pública e interativa dedicada à integração e à transparência dos principais
dados sobre a violência de gênero no Brasil.
https://www12.senado.leg.br/institucional/datasenado/publicacaodatasenado?id=pesquisa-nacional-de-violencia-contra-a-mulher-datasenado-2025
Nexus
https://www.nexus.fsb.com.br/estudos-divulgados/quase-metade-das-mulheres-brasileiras-acredita-que-nao-e-tratada-com-respeito-no-pais/
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