Especialista destaca o impacto psicológico profundo e reforça que apoio familiar e social é essencial para adesão ao tratamento e qualidade de vida.
No mês dedicado a abordar a importância da prevenção ao HIV/AIDS e a outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), por meio da Campanha Dezembro Vermelho, a população idosa, involuntariamente, acaba sendo “deixada de lado” por não ser considerada o público-alvo. No entanto, esta atitude se mostra equivocada. Dados do Boletim Epidemiológico sobre HIV/AIDS do Ministério da Saúde mostram que entre 2011 e 2021 foram registrados 12.686 diagnósticos de HIV em pessoas com 60 anos ou mais, além de 24.809 casos de AIDS e 14.773 mortes nessa faixa-etária. Outro dado que chama a atenção é o crescimento acelerado da doença na população idosa. Para se ter ideia, entre 2012 e 2022, houve um aumento de 441% no número de diagnósticos, sendo a única faixa-etária que apresentou aumento percentual no número de óbitos ao longo dessa década.
O fato é que receber um diagnóstico de HIV após os 60 anos é algo que provoca um forte abalo emocional, que exige uma rede de apoio sensível, acolhedora e, acima de tudo, preparada para lidar com essa nova situação.
De acordo com a psicóloga, Cecília Galetti, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (Seccional Paraná), diferentes reações refletem o peso emocional do diagnóstico em pessoas idosas, pois muitos ainda carregam as lembranças da época em que o HIV era associado diretamente à morte e isso intensifica o sofrimento psíquico, podendo levar ao retraimento social. “Quando um idoso recebe esse diagnóstico, preconceitos e julgamentos morais costumam surgir, tanto no entorno social quanto dentro da própria família, e para quem vivencia essa situação, o medo da discriminação se torna central, favorecendo o isolamento, a ocultação do diagnóstico e a diminuição da busca por cuidados com a saúde.”
Ela explica que o
impacto emocional costuma ser profundo, sendo que depressão, ansiedade,
desesperança, dificuldade de adaptação e até mesmo o aumento de tentativas de
suicídio são frequentes. “A depressão é um dos transtornos mais prevalentes
entre a população 60+ que vive com o HIV. Além disso, a apatia, a tristeza, a
perda de interesse pelas atividades e alterações do sono podem prejudicar a
adesão ao tratamento antirretroviral. E há também os casos que o uso de álcool
e outras substâncias surge como tentativa inadequada para enfrentar a doença,
agravando o caso”, aponta.
Apoiar,
sempre!
Cecília reforça que o apoio do círculo social é essencial. Família, amigos e comunidades que acolhem, ouvem e validam os sentimentos da pessoa idosa ajudam de maneira significativa no processo de aceitação e cuidado. “Já os que vivem sozinhos ou que enfrentam rejeição, têm índices maiores de abalo na saúde mental e pior adesão ao tratamento.”
Segundo a
psicóloga, para que os familiares possam ajudar, é preciso descontruir antigos
paradigmas, abandonando crenças de que pessoas idosas não têm vida sexual
ativa. “Sexualidade é parte da condição humana em todas as fases da vida e
reconhecer isso possibilita conversas honestas, sem qualquer tipo de moralismo
e sem medo”, ressalta Cecília, ao comentar que familiares e cuidadores devem
ter atitudes que favoreçam o bem-estar emocional e a autonomia da pessoa idosa.
“Ouvir sem julgar e reconhecer o sofrimento da pessoa; rever valores pessoais;
incentivar o tratamento clínico e psicológico e fortalecer a autonomia das
pessoas são as principais atitudes. Tudo isso melhora a autoestima, reduz o
sofrimento emocional e promove a qualidade de vida.”
Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia - SBGG
Nenhum comentário:
Postar um comentário