Após perder o
filho em um acidente, Luiz Fernando Maia compartilha em livro a própria jornada
espiritual na busca por respostas
A dolorosa experiência do luto foi o estopim para
uma jornada espiritual profunda na vida do advogado Luiz
Fernando Maia. Em busca de entender o sentido da existência, da morte
e o que há após o fim da vida, ele estudou diversas doutrinas religiosas, conceitos
filosóficos e científicos para escrever Jamais
conheceremos Deus.
Em entrevista, ele explica como foi essa busca, o
processo de pesquisa e as conclusões que chegou. Maia explora a relação das
pessoas com o divino, a força da espiritualidade e a importância de entender o
papel do amor na vida das pessoas. “Vivemos aqui, o ciclo inicial de evolução
de nosso ser eterno, ainda que em limitada percepção da essência e amplitude do
amor de Deus”, complementa.
Confira a entrevista completa com o escritor Luiz
Fernando Maia:
1. No seu livro “Jamais
conheceremos Deus”, você afirma ser impossível conhecer Deus em sua plenitude,
mas de que forma você acha que as pessoas podem sentir e se conectar com o
divino?
Luiz Fernando Maia: Tal afirmação decorre de que Deus é o absoluto, e o que é absoluto
ninguém jamais conhecerá, seja mesmo no mais alto nível de evolução que um
dia possa experimentar a humanidade, ou mesmo no mais elevado nível de
evolução que possa alcançar nosso ser imortal. Deus implica sua condição do
absoluto criador e da essência do absoluto amor, que emana energias ao
cosmo infinito E, na escala de evolução de nosso ser imortal, este em pura
energia, chegará à purificação e, assim, conheceremos Deus, ao sentir seu
amor absoluto.
2. A perda do seu filho
influenciou na busca por respostas acerca da existência. Você acredita que o
luto, assim como outros momentos difíceis da vida, pode ser ponto de partida
para reflexões mais profundas sobre a vida e a espiritualidade?
L. F. M.: Na Terra, coexistindo com um corpo físico, a fruição das energias do
absoluto amor de Deus é arrefecida. Porém, como não é contínua, precisamos ser
proativos na sua busca. Nossa existência material é repleta de momentos em que
nos distanciamos de nosso ser eterno e que nos distanciam do amor de
Deus.
O fato é que a Terra não é um mundo de expiação ou
onde experimentaremos a santificação. Vivemos aqui o ciclo inicial de evolução
de nosso ser eterno, ainda que em limitada percepção da essência e amplitude do
amor de Deus. Assim, o sofrimento, como o luto, é um dos fatores que pode nos
levar à maior espiritualização, pois quebra esta rotina materialista. Importa
que esta busca não se limita ao tempo de superar tais adversidades,
perpetuando-se em nosso ser como verdadeira necessidade existencial.
3. Você explora diversos
textos sagrados e tradições religiosas. Como o mergulho no estudo de várias
religiões podem contribuir para aprender lições sobre a vida? Essa abertura
para explorar ensinamentos de religiões diversas pode contribuir para o
conhecimento das pessoas de que forma?
L. F. M.: Quando me deparei com religiões extremamente dogmáticas, como o
islamismo radical – com a Lei da Sharia, com regras de vestimenta impostas à
mulher –, ou o cristianismo, com formalidades do culto (batismo), resolvi
montar a minha própria visão sobre o divino. Penso que Deus não nos pune, nos
cobra ou vigia. Ele não é este Deus antropomórfico trazido nos escritos dos
homens.
No caso das religiões mais ligadas ao panteísmo,
embora ainda tragam uma limitação de Deus que é o absoluto, temos uma visão
agradável da simplicidade que devemos viver nosso ser. No dizer de um monge
taoísta, por exemplo as estrelas
a brilhar no céu são suficientes para nos guiar ao caminho da felicidade,
como as que norteiam um marinheiro em alto mar (Estrela do Sul, Polaris e
a Celestial). Ocorre que acabamos por encher este céu de
estrelas, dificultando encontrar aquelas três estrelas guias. No resumo,
quanto mais simples a nossa vida (menos estrelas no céu) mais orientados estamos
no Divino.
4. Ao longo dessa busca, como
foi o processo de conciliar a razão, própria da sua atuação no direito, com a
subjetividade da busca espiritual?
L. F. M.: O direito não é uma ciência exata. Na verdade, é a busca da justiça, na
lei dos homens, que seguramente é susceptível a falhas. Como
advogados/juristas, devemos buscar esta justiça, mas não há como negar que este
dia a dia implica em participarmos de conflitos de pessoas e empresas, onde
vivemos nossa essência de seres materiais. Na prática, não vejo nenhuma
possibilidade de conciliar nossa existência material com a espiritual, além
daquilo que já ocorre em decorrência do grau de razoabilidade que se encontra
nossa evolução social. O que precisamos é viver Deus em nosso ser e levar seu amor
o máximo possível em nosso sentir, agir e pensar em nosso dia a dia. A maior
conciliação que experimentei com a espiritualidade foi ao escrever este livro,
quando me apercebi o quão longe estava dela.
5. Além da conexão espiritual,
quais outras mensagens você espera que o leitor leve consigo ao concluir a
leitura de Jamais conheceremos Deus?
L. F. M.: A primeira é de que não existe uma religião, uma forma exata, uma
condição cármica, ritos e formalidades para encontrarmos Deus. Nós o
encontramos quando nosso ser eterno se desprende de nosso ser material e está
em sintonia com o cosmo infinito, onde se irradia as energias do absoluto amor
de Deus. A segunda é que Deus (o absoluto) não nos cobra, nos julga ou nos
pune, nos serve de seu absoluto amor e nos dá o livre arbítrio para buscar
fruí-lo. Por fim, a conclusão de que somos os próprios juízes de nossas ações
como seres eternos e experimentaremos em nosso autojulgamento o arrependimento
daquilo que deixamos de viver e de levar Deus ao nosso próximo. Lembro que
temos a eternidade para encontrarmos este momento e que não cabe a Deus nos
receber, pois jamais deixou de nos disponibilizar seu amor absoluto.
Sobre o autor: Luiz Fernando Maia é advogado apaixonado pela área jurídica. Nascido e criado em Bauru (SP), é sócio-fundador da LFMAIA Sociedade de Advogados e foi professor universitário por mais de 15 anos, lecionando Direito Tributário, Financeiro e Administrativo.
É autor de dois livros sobre Direito Tributário e
diversos artigos em revistas especializadas. Agora se aventura na literatura
com a obra Jamais conheceremos Deus, com temas relacionados a filosofia e
espiritualidade, para compartilhar sua visão sobre a busca por Deus e a conexão
com o divino.
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