Thaísa Durso, educadora financeira da Rico, analisa os desafios e caminhos para as mulheres conquistarem independência financeira
Por muito tempo, muitas mulheres delegaram suas
decisões financeiras aos pais, maridos ou parceiros, seja por influência
cultural ou pela falta de estímulo à educação financeira feminina. No entanto,
esse cenário está mudando, e essa transformação merece ser celebrada e
incentivada.
A independência financeira é um dos pilares para
que as mulheres tomem decisões livres e seguras sobre suas próprias vidas.
Quando assumem o controle de suas finanças, conquistam confiança para planejar
e realizar sonhos no futuro. Ainda assim, para muitas, o mercado financeiro
parece um universo distante, marcado pela limitada representatividade feminina,
por uma linguagem técnica pouco acessível e pela crença de que investir exige
valores expressivos ou conhecimentos financeiros avançados.
Diante desse cenário desafiador, é possível mudar
essa realidade. Leia a análise a seguir para entender os obstáculos enfrentados
e como superar essas dificuldades para conquistar mais autonomia financeira no
mundo feminino.
Os desafios femininos no
mercado financeiro
Um dos principais desafios que as mulheres
enfrentam ao começar a investir é encontrar um tempo para se dedicar às
finanças. Com múltiplas responsabilidades no trabalho, na gestão do lar e no
cuidado com a família, muitas mulheres acabam postergando os investimentos, por
acreditarem que não têm tempo suficiente para se dedicar a eles.
Além disso, a ideia de que é necessário ter grandes
quantias para começar ainda impede muitas mulheres de dar o primeiro passo. No
entanto, investir não deve ser tratado como algo opcional, mas sim como um
compromisso dentro do planejamento de cada mulher.
Pequenos aportes feitos de maneira consistente
podem gerar resultados expressivos no longo prazo. O mais importante é criar o
hábito e manter uma rotina de investimentos, independentemente do valor
inicial. Para isso, é essencial traçar metas financeiras, e para ajudar nesse
processo, neste
link há um passo a passo prático e eficiente.
Com pequenos ajustes na organização financeira e
uma mudança de mentalidade, é possível reservar uma quantia mensal para
investir e, assim, construir um futuro mais próspero e seguro.
Por que as mulheres investem
de forma diferente?
A forma como as mulheres investem é influenciada
por uma combinação de fatores sociais, históricos e biológicos. Durante
séculos, a administração do dinheiro esteve majoritariamente nas mãos dos
homens, enquanto as mulheres eram ensinadas a depender financeiramente de seus
pais ou parceiros. Essa dependência era reforçada por leis que limitavam sua
autonomia financeira.
Até meados do século XX, por exemplo, mulheres
casadas não podiam abrir contas bancárias ou registrar um negócio sem
autorização do marido. Apenas em 1962 conquistaram o direito de obter CPF e
administrar seu próprio dinheiro de forma independente. Esse contexto histórico
ainda reflete na relação de muitas mulheres com as finanças, tornando o
investimento um território que, para algumas, parece distante e
intimidador.
Além disso, culturalmente, as mulheres eram
responsáveis pelo cuidado do lar e da família, enquanto os homens exerciam
atividades remuneradas fora de casa. Com a Constituição de 1934, as mulheres
começaram a conquistar direitos trabalhistas e ingressar no mercado de
trabalho, mas isso não significou um alívio em suas responsabilidades
domésticas. A jornada dupla – trabalho remunerado somado aos afazeres do lar e
ao cuidado com os filhos – ainda é uma realidade.
Segundo a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) 2022, do IBGE, as
mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais a essas atividades, quase o
dobro do tempo dos homens, que gastam 11,7 horas. Essa sobrecarga reduz o tempo
disponível para estudar sobre finanças, planejar investimentos e se aprofundar
em estratégias de crescimento patrimonial.
Outro fator determinante é a desigualdade
salarial. Dados
recentes mostram que, em empresas com 100 ou mais funcionários, as
mulheres ainda recebem, em média, cerca de 20% a menos do que os homens. Essa
diferença impacta diretamente sua capacidade de poupança e investimento,
tornando mais desafiador o processo de construção de patrimônio no longo prazo.
Diante desse cenário, torna-se ainda mais essencial um planejamento financeiro
estratégico, que leve em conta pequenos aportes constantes, a diversificação de
investimentos e o poder dos juros compostos para potencializar o crescimento do
capital ao longo do tempo.
Além da falta de tempo e da limitação de renda,
muitas mulheres ainda não se sentem seguras para tomar decisões financeiras
mais complexas. Essa cautela se manifesta tanto na escolha de ativos mais
conservadores quanto na hesitação em diversificar investimentos. Como
consequência, a insegurança financeira pode levar a um menor acúmulo de
patrimônio ao longo dos anos, tornando a educação financeira essencial para
mudar esse cenário e garantir maior autonomia econômica.
Para entender o impacto de adiar investimentos, é
fundamental observar o poder dos juros compostos ao longo dos anos. Imagine
que, há 25 anos, uma pessoa tivesse feito um único aporte de R$ 1.000,00 em um
ativo de renda fixa atrelado à Taxa Selic, considerando uma rentabilidade média
de 12,21% ao ano, esse dinheiro teria crescido de forma exponencial, alcançando
R$ 17.815,13. Isso acontece porque, no longo prazo, os rendimentos acumulados
passam a gerar novos rendimentos, potencializando o crescimento do
patrimônio.
No entanto, antes de escolher um ativo, é
importante que ele esteja alinhado ao perfil do investidor. Estudos indicam
que a testosterona, predominante nos homens, está associada a uma postura mais
ousada e impulsiva nos investimentos. Já as mulheres, devido a variações
hormonais ao longo da vida, tendem a ser mais cautelosas e priorizar a
segurança financeira. Essa abordagem pode ser uma vantagem, especialmente em
períodos de instabilidade do mercado, pois reduz decisões impulsivas e protege
o patrimônio no longo prazo.
Por outro lado, o crescimento do interesse feminino
por investimentos é um movimento claro e positivo. Cada vez mais jovens estão
atentas ao universo financeiro, compreendendo a importância de fazer o dinheiro
trabalhar a seu favor. Esse despertar tem se intensificado nos últimos anos,
impulsionado pelo acesso à informação e pelo desejo de maior liberdade
financeira.
Segundo um estudo
da Serasa, 9 em cada 10 mulheres buscam constantemente educação financeira,
utilizando a internet e influenciadores digitais como fontes de conhecimento.
Entre elas, 48% recorrem a buscadores online para encontrar informações,
enquanto 40% preferem seguir influenciadores e perfis especializados em
finanças nas redes sociais. Esse acesso à informação tem sido fundamental para
ampliar o conhecimento financeiro e incentivar a participação feminina no
mercado de investimentos. Com mais aprendizado e suporte, é possível
transformar esse cenário, permitindo que cada vez mais mulheres assumam o
protagonismo financeiro e conquistem sua autonomia.
Mulheres no comando das
finanças
Apesar dos desafios, há caminhos viáveis e
encorajadores para quem deseja começar a investir, mesmo com pouco dinheiro,
tempo ou conhecimento. O primeiro passo é um bom planejamento financeiro, com a
definição de metas claras e realistas. A partir disso, é possível explorar
alternativas acessíveis, como o Tesouro Direto e fundos de investimento com
aplicação inicial baixa. Além disso, adotar estratégias como a diversificação e
a visão de longo prazo é essencial para construir patrimônio de maneira
consistente, segura e rentável.
Esse movimento de inclusão financeira não apenas
amplia o acesso aos investimentos, mas também fortalece a presença feminina no
mercado financeiro. No entanto, essa transformação precisa ser impulsionada
também pelo mercado financeiro, tornando a linguagem mais acessível e
desenvolvendo produtos que atendam às necessidades das mulheres. Afinal,
incentivar a participação feminina no mundo dos investimentos não é apenas uma
questão de equidade, mas também uma transformação econômica e
social.
Aos poucos, as mulheres estão ressignificando sua
relação com o dinheiro. Esse é um caminho sem volta. Com informação,
planejamento e confiança, cada vez mais mulheres estão assumindo as rédeas de
suas finanças e construindo um futuro de mais liberdade e segurança. O primeiro
passo é simples: comece hoje. Invista no seu conhecimento, assuma o controle do
seu futuro e construa sua independência financeira de forma consciente e
estratégica.
Thaísa Durso, educadora financeira da Rico
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