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sexta-feira, 7 de março de 2025

Especial Dia das Mulheres: por que algumas enriquecem e outras não?

Thaísa Durso, educadora financeira da Rico, analisa os desafios e caminhos para as mulheres conquistarem independência financeira 

 

Por muito tempo, muitas mulheres delegaram suas decisões financeiras aos pais, maridos ou parceiros, seja por influência cultural ou pela falta de estímulo à educação financeira feminina. No entanto, esse cenário está mudando, e essa transformação merece ser celebrada e incentivada.  

A independência financeira é um dos pilares para que as mulheres tomem decisões livres e seguras sobre suas próprias vidas. Quando assumem o controle de suas finanças, conquistam confiança para planejar e realizar sonhos no futuro. Ainda assim, para muitas, o mercado financeiro parece um universo distante, marcado pela limitada representatividade feminina, por uma linguagem técnica pouco acessível e pela crença de que investir exige valores expressivos ou conhecimentos financeiros avançados. 

Diante desse cenário desafiador, é possível mudar essa realidade. Leia a análise a seguir para entender os obstáculos enfrentados e como superar essas dificuldades para conquistar mais autonomia financeira no mundo feminino.  


Os desafios femininos no mercado financeiro 

Um dos principais desafios que as mulheres enfrentam ao começar a investir é encontrar um tempo para se dedicar às finanças. Com múltiplas responsabilidades no trabalho, na gestão do lar e no cuidado com a família, muitas mulheres acabam postergando os investimentos, por acreditarem que não têm tempo suficiente para se dedicar a eles. 

Além disso, a ideia de que é necessário ter grandes quantias para começar ainda impede muitas mulheres de dar o primeiro passo. No entanto, investir não deve ser tratado como algo opcional, mas sim como um compromisso dentro do planejamento de cada mulher.  

Pequenos aportes feitos de maneira consistente podem gerar resultados expressivos no longo prazo. O mais importante é criar o hábito e manter uma rotina de investimentos, independentemente do valor inicial. Para isso, é essencial traçar metas financeiras, e para ajudar nesse processo, neste link há um passo a passo prático e eficiente. 

Com pequenos ajustes na organização financeira e uma mudança de mentalidade, é possível reservar uma quantia mensal para investir e, assim, construir um futuro mais próspero e seguro.  


Por que as mulheres investem de forma diferente? 

A forma como as mulheres investem é influenciada por uma combinação de fatores sociais, históricos e biológicos. Durante séculos, a administração do dinheiro esteve majoritariamente nas mãos dos homens, enquanto as mulheres eram ensinadas a depender financeiramente de seus pais ou parceiros. Essa dependência era reforçada por leis que limitavam sua autonomia financeira.  

Até meados do século XX, por exemplo, mulheres casadas não podiam abrir contas bancárias ou registrar um negócio sem autorização do marido. Apenas em 1962 conquistaram o direito de obter CPF e administrar seu próprio dinheiro de forma independente. Esse contexto histórico ainda reflete na relação de muitas mulheres com as finanças, tornando o investimento um território que, para algumas, parece distante e intimidador. 

Além disso, culturalmente, as mulheres eram responsáveis pelo cuidado do lar e da família, enquanto os homens exerciam atividades remuneradas fora de casa. Com a Constituição de 1934, as mulheres começaram a conquistar direitos trabalhistas e ingressar no mercado de trabalho, mas isso não significou um alívio em suas responsabilidades domésticas. A jornada dupla – trabalho remunerado somado aos afazeres do lar e ao cuidado com os filhos – ainda é uma realidade.  

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad) 2022, do IBGE, as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais a essas atividades, quase o dobro do tempo dos homens, que gastam 11,7 horas. Essa sobrecarga reduz o tempo disponível para estudar sobre finanças, planejar investimentos e se aprofundar em estratégias de crescimento patrimonial. 

Outro fator determinante é a desigualdade salarial. Dados recentes mostram que, em empresas com 100 ou mais funcionários, as mulheres ainda recebem, em média, cerca de 20% a menos do que os homens. Essa diferença impacta diretamente sua capacidade de poupança e investimento, tornando mais desafiador o processo de construção de patrimônio no longo prazo. Diante desse cenário, torna-se ainda mais essencial um planejamento financeiro estratégico, que leve em conta pequenos aportes constantes, a diversificação de investimentos e o poder dos juros compostos para potencializar o crescimento do capital ao longo do tempo. 

Além da falta de tempo e da limitação de renda, muitas mulheres ainda não se sentem seguras para tomar decisões financeiras mais complexas. Essa cautela se manifesta tanto na escolha de ativos mais conservadores quanto na hesitação em diversificar investimentos. Como consequência, a insegurança financeira pode levar a um menor acúmulo de patrimônio ao longo dos anos, tornando a educação financeira essencial para mudar esse cenário e garantir maior autonomia econômica. 

Para entender o impacto de adiar investimentos, é fundamental observar o poder dos juros compostos ao longo dos anos. Imagine que, há 25 anos, uma pessoa tivesse feito um único aporte de R$ 1.000,00 em um ativo de renda fixa atrelado à Taxa Selic, considerando uma rentabilidade média de 12,21% ao ano, esse dinheiro teria crescido de forma exponencial, alcançando R$ 17.815,13. Isso acontece porque, no longo prazo, os rendimentos acumulados passam a gerar novos rendimentos, potencializando o crescimento do patrimônio. 

No entanto, antes de escolher um ativo, é importante que ele esteja alinhado ao perfil do investidor. Estudos indicam que a testosterona, predominante nos homens, está associada a uma postura mais ousada e impulsiva nos investimentos. Já as mulheres, devido a variações hormonais ao longo da vida, tendem a ser mais cautelosas e priorizar a segurança financeira. Essa abordagem pode ser uma vantagem, especialmente em períodos de instabilidade do mercado, pois reduz decisões impulsivas e protege o patrimônio no longo prazo. 

Por outro lado, o crescimento do interesse feminino por investimentos é um movimento claro e positivo. Cada vez mais jovens estão atentas ao universo financeiro, compreendendo a importância de fazer o dinheiro trabalhar a seu favor. Esse despertar tem se intensificado nos últimos anos, impulsionado pelo acesso à informação e pelo desejo de maior liberdade financeira. 

Segundo um estudo da Serasa, 9 em cada 10 mulheres buscam constantemente educação financeira, utilizando a internet e influenciadores digitais como fontes de conhecimento. Entre elas, 48% recorrem a buscadores online para encontrar informações, enquanto 40% preferem seguir influenciadores e perfis especializados em finanças nas redes sociais. Esse acesso à informação tem sido fundamental para ampliar o conhecimento financeiro e incentivar a participação feminina no mercado de investimentos. Com mais aprendizado e suporte, é possível transformar esse cenário, permitindo que cada vez mais mulheres assumam o protagonismo financeiro e conquistem sua autonomia. 


Mulheres no comando das finanças 

Apesar dos desafios, há caminhos viáveis e encorajadores para quem deseja começar a investir, mesmo com pouco dinheiro, tempo ou conhecimento. O primeiro passo é um bom planejamento financeiro, com a definição de metas claras e realistas. A partir disso, é possível explorar alternativas acessíveis, como o Tesouro Direto e fundos de investimento com aplicação inicial baixa. Além disso, adotar estratégias como a diversificação e a visão de longo prazo é essencial para construir patrimônio de maneira consistente, segura e rentável.  

Esse movimento de inclusão financeira não apenas amplia o acesso aos investimentos, mas também fortalece a presença feminina no mercado financeiro. No entanto, essa transformação precisa ser impulsionada também pelo mercado financeiro, tornando a linguagem mais acessível e desenvolvendo produtos que atendam às necessidades das mulheres. Afinal, incentivar a participação feminina no mundo dos investimentos não é apenas uma questão de equidade, mas também uma transformação econômica e social.  

Aos poucos, as mulheres estão ressignificando sua relação com o dinheiro. Esse é um caminho sem volta. Com informação, planejamento e confiança, cada vez mais mulheres estão assumindo as rédeas de suas finanças e construindo um futuro de mais liberdade e segurança. O primeiro passo é simples: comece hoje. Invista no seu conhecimento, assuma o controle do seu futuro e construa sua independência financeira de forma consciente e estratégica. 

 

Thaísa Durso, educadora financeira da Rico


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