Indivíduos que não conseguem impor limites têm maior probabilidade de desenvolver ansiedade e esgotamento mental, de acordo com estudos da American Psychological Association (APA)
Quantas vezes você disse "sim" quando tudo
em você pedia por um "não"? Em um mundo que valoriza a produtividade
acima de tudo, aprender a recusar pedidos é um ato de coragem e, muitas vezes,
de sobrevivência emocional. Mas o custo de não impor limites é silencioso e
perigoso: esgotamento emocional, perda de identidade e relações marcadas por
ressentimento.
De acordo com estudos da American Psychological Association (APA),
indivíduos que não conseguem impor limites têm maior probabilidade de
desenvolver ansiedade e esgotamento mental. Isso ocorre porque a sobrecarga
emocional gerada pela dificuldade em recusar demandas excessivas leva à
exaustão física e psicológica. O estudo reforça que estabelecer limites
saudáveis é fundamental para preservar a saúde mental e garantir relações mais
equilibradas e respeitosas.
72% das pessoas relatam que têm dificuldade
em falar ‘não’ em situações mais delicadas ou que envolvem pedidos de outras
pessoas, segundo uma pesquisa de 2020, realizada com 186 pessoas,
feita pela Universidade da Mudança.
Para a psicóloga
Jacqueline Sampaio, fundadora da Clínica Jacqueline Sampaio Mental Health, essa dificuldade é
um reflexo de padrões emocionais e culturais profundamente enraizados. "Ao
longo dos anos, percebo como o medo de desagradar molda o comportamento de
muitas pessoas. Crescemos ouvindo que ser gentil é sempre dizer sim, mas ninguém
nos ensina que estabelecer limites é um gesto de honestidade e respeito, com o
outro e consigo mesmo. Quando evitamos dizer 'não', não estamos fortalecendo
vínculos autênticos, mas criando uma ilusão de harmonia que, inevitavelmente,
cederá ao peso dos desconfortos não expressos. Dizer 'não' é um gesto de
maturidade emocional e responsabilidade relacional, pois é na clareza dos
limites que construímos relações baseadas em respeito mútuo e compreensão
verdadeira. Fugir desse posicionamento é negligenciar o próprio bem-estar e
permitir que conexões se sustentem em expectativas distorcidas e frágeis",
afirma.
Segundo a especialista, a raiz dessa dificuldade
está em crenças profundas sobre aceitação e pertencimento. "Muitas pessoas
acreditam que dizer 'não' é sinônimo de rejeição. Elas temem perder conexões e
decepcionar quem está à sua volta. Mas o paradoxo é que, quanto mais dizemos
'sim' sem convicção, mais alimentamos relações superficiais e
desgastantes", explica.
Ao longo do tempo, esse comportamento sabota as
relações, corrói a autoestima e enfraquece os laços afetivos. "O 'sim'
constante, quando forçado, não preserva as relações, apenas adia conflitos e
aprofunda desconexões", acrescenta.
Pensando nisso, Jacqueline destaca 5
estratégias de como aprender a dizer não que podem ser fundamentais nesse
processo:
1. Reflita sobre suas necessidades reais: Antes de aceitar
qualquer pedido, questione-se: "Isso está alinhado com o que é importante
para mim agora? Estou dizendo 'sim' por escolha ou por outro motivo?"
Priorizar o próprio bem-estar é um ato de responsabilidade emocional.
2. Seja claro e gentil: Um "não"
dito com respeito não precisa de justificativas extensas. Quando nos alongamos
demais para justificar, passamos a ideia de insegurança. Seja direto, mas
gentil. Um simples "não posso, não quero, não obrigado" pode ser
suficiente e respeitoso.
3. Pratique a assertividade com empatia: O tom de voz, a
expressão facial e a escolha das palavras fazem diferença. A assertividade não
é sobre rigidez, mas sobre clareza. E a empatia está em respeitar o outro,
mesmo diante de uma recusa.
4. Liberte-se da culpa como um processo: Negar um pedido não é
um ato de insensibilidade, mas de proteção emocional. É normal sentir culpa no
início, mas é preciso entender que o "não" é um compromisso com sua
saúde mental e seu tempo.
5. Treine pequenas recusas: Para quem tem
dificuldade, começar com pequenas recusas ajuda a construir confiança. Recusar
um convite casual é um bom início. Aos poucos, isso se torna mais natural, e o
impacto na autoestima é muito positivo.
"Limites claros evitam ressentimentos e
mal-entendidos. Quando somos sinceros sobre o que podemos oferecer, damos ao
outro a oportunidade de nos conhecer de forma real. E isso fortalece relações
baseadas na autenticidade e no respeito", conclui Jacqueline.
No fim, aprender a dizer "não" é também
aprender a valorizar o próprio "sim", um sim mais consciente,
verdadeiro e alinhado com quem somos. E isso é liberdade. Se para você tem sido
desafiador impor limites e se viu em situações em que o medo de dizer
"não" já tenha te prejudicado, saiba que você não está só. Reconhecer
essa dificuldade é o primeiro passo para transformá-la. Talvez seja a hora de
olhar para isso com mais profundidade, e a terapia pode ser o espaço ideal e
seguro para resgatar sua voz.
Jacqueline Sampaio é psicóloga e empresária, fundadora da Clínica Jacqueline Sampaio Mental Health, onde adota a abordagem Gestalt, focada no autoconhecimento e na superação de barreiras internas. Atualmente, atende pacientes em 17 países, oferecendo planos de terapia que variam de individuais a anuais. Especializada em Saúde Mental pela USP, em Psicologia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e com aprofundamento em Motivação para o Sucesso na Harvard University, ela transformou desafios pessoais e profissionais em uma trajetória de sucesso. Saiba mais, aqui!
Instagram: jacquesuamente
Nenhum comentário:
Postar um comentário