Dentre as festividades de final de ano, o Natal é
uma das mais esperadas, talvez pela magia que os presentes trazem consigo. O
espírito de generosidade e o desejo de presentear dominam o cenário, e é
exatamente nessa época que o comércio se prepara intensamente para a temporada
de vendas. Os adultos, em especial os pais, se empenham em escolher os melhores
presentes, enquanto as crianças, espertas e já ansiosas, esperam com viva
expectativa pelo que vão ganhar.
É neste contexto que chamo a atenção para a relação
entre o “brincar” e os brinquedos, com uma provocação interessante: o que você
deve considerar ao escolher um brinquedo para seu filho, principalmente se for
caro?
O primeiro ponto a considerar na escolha de um
brinquedo é compreender a importância da brincadeira na vida infantil. Sigmund
Freud, o pai da Psicanálise, comparou o brincar da criança ao trabalho para o
adulto e ao processo criativo para o artista. Em todas essas atividades, há um
sério empenho e gasto considerável de energia. Muitas vezes, os adultos, por
terem esquecido as nuances de sua própria infância, podem ver a brincadeira
como um desperdício de tempo. No entanto, para a criança, brincar é uma atividade
essencial, levada muito a sério, e que é de grande importância no seu
desenvolvimento.
É crucial entender que a relação da criança com o
brinquedo fabricado é muitas vezes bastante precária. E é aqui que chegamos ao
segundo ponto: esses objetos são frutos da imaginação de outra pessoa – um
adulto – que impõe suas próprias ideias de diversão. Inicialmente, o encanto é
inegável, mas trata-se de um fascínio passageiro. Para que o interesse da
criança se mantenha vivo, o brinquedo deve oferecer oportunidades para que ela
crie, dê asas à sua própria imaginação e expanda seu universo. De modo geral, o
que as crianças realmente necessitam são de chances de criar e construir seus
próprios brinquedos. Conforme o psicanalista francês Jacques Lacan, qualquer
objeto pode se transformar em um brinquedo nas mãos de uma criança. Quem nunca
viu uma vassoura virar um cavalo ou um lençol transformar-se em uma cabana?
Assim, os brinquedos comercializáveis atendem mais às necessidades dos adultos
de manterem as crianças ocupadas e satisfeitas, do que a uma necessidade real.
Por último, antes de comprar um brinquedo para o
filho, especialmente se for caro, os pais devem estar cientes de que, em algum
momento, a criança irá quebrá-lo. Isso porque no brincar, os pequenos assumem uma
posição ativa - elas comandam e se tornam autoras no universo lúdico. Isso pode
frustrar os adultos, que esperam que a criança cuide dos brinquedos e os
preserve. No entanto, brincar é explorar e dar asas à curiosidade, como
pequenos pesquisadores. Elas querem saber como o brinquedo funciona,
interessando-se não apenas pelo resultado, mas, talvez, muito mais pelo
processo e pelo funcionamento dos brinquedos.
Assim, antes de comprar um brinquedo para uma
criança, é importante que o adulto tenha bem em mente a importância do brincar
para o desenvolvimento infantil e como a criança se relaciona com o brinquedo.
Um bom brinquedo deve ser um estímulo à brincadeira, oferecendo oportunidades
para que a criança possa criar, imaginar e expandir seu próprio universo. Ao
priorizar brinquedos que fomentem a criatividade e a autonomia, os pais estarão
contribuindo de maneira significativa para o crescimento saudável e integral
dos pequenos.
Francisco Neto Pereira Pinto - doutor em Ensino de Língua e Literatura. Professor e psicanalista, também é escritor e assina o título “À beira do Araguaia”
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