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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Contaminações alimentares no verão: saiba quais são e como evitá-las

Frutos do mar, como camarão, devem ser consumidos em locais indicados para evitar contaminação. Crédito: iStock


Médica da SBPC/ML dá orientações sobre como se prevenir dessas infecções e quais exames fazer para identificá-las

 

Com o verão se aproximando, ficam mais comuns as contaminações alimentares, tanto por vírus, quanto por bactérias. O tempo quente pode permitir que esses organismos se proliferem com mais facilidade. De acordo com a médica infectologista e patologista clínica da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Carolina Lázari, as infecções virais desse período estão mais atreladas à contaminação de água e as bacterianas, à de alimentos, particularmente aqueles acondicionados sob refrigeração inadequada.  

“Os vírus mais frequentes são os norovírus e os rotavírus, especialmente nesta época do ano, podendo ocorrer surtos dessas viroses, relacionados principalmente à contaminação da água”, explica Lázari. Outro vírus para o qual ela chama atenção é o da hepatite A. Além de poder ser transmitido pela água, esse vírus pode estar presente também em alimentos. “Assim como outros vírus, é bastante frequente em águas poluídas, em praias impróprias para banho e também em piscinas, pois a pessoa infectada pode começar a eliminar o vírus da hepatite A antes de apresentar qualquer sintoma”, alerta.

Em relação às bactérias, segundo a infectologista, o mais comum é a ocorrência de contaminação de alimentos armazenados de forma inadequada, a uma temperatura mais alta que a recomendada. “Algumas bactérias, como Staphylococcus aureus e Escherichia coli, produzem toxinas que contaminam os alimentos e podem causar quadros de diarreia quando consumidos. Elas também podem estar na água, mas essa contaminação é mais comum em alimentos.”

Ainda segundo a médica, existem bactérias que, quando presentes nos alimentos contaminados, ao serem ingeridas, proliferam-se no intestino, causando uma infecção, a exemplo de vários tipos de Escherichia coli, Salmonella, Shigella. Essas bactérias geralmente causam episódios autolimitados, porém muito sintomáticos, de doença diarreica. Em crianças pequenas e idosos, pessoas com algum tipo de imunodepressão ou doenças crônicas, entretanto, podem causar doença grave, com acometimento sistêmico e, raramente, levar à morte. As complicações ocorrem, particularmente, durante surtos de Salmonella, relacionados à ingestão de carne de aves e ovos crus, ou de tipos específicos de E. coli, que causam quadros graves com acometimento renal.

 

Quais são os sintomas dessas contaminações?

Carolina Lázari explica que essas infecções habitualmente se manifestam com um quadro de gastroenterocolites agudas. “Elas são processos inflamatórios transitórios do estômago, do intestino delgado e do intestino grosso, podendo acometer os três ou ser mais intensos em um, ou outro, provocando, devido ao envolvimento do estômago, principalmente náuseas e vômitos, e, dos intestinos, diarreia, com muitos episódios de evacuação por dia e fezes líquidas”, esclarece.

Nos quadros causados por bactérias, a diarreia aquosa pode vir acompanhada de muco e sangue, denotando maior gravidade da inflamação intestinal, segundo a patologista clínica da SBPC/ML. “A presença de muco e sangue nas fezes e, eventualmente, de comprometimento do estado geral e febre, sobretudo em crianças e em pessoas com comprometimento da imunidade, refletem maior gravidade da doença, que pode requerer tratamento com antibióticos”, comenta.

Já em um quadro de hepatite A, a médica explica que pode surgir um quadro típico da doença, cujos sintomas são:

  • Febre;
  • Falta de apetite;
  • Mal-estar;
  • Náuseas podendo, ou não, haver vômitos
  • Fezes esbranquiçadas;
  • Urina escura
  • Icterícia (coloração amarelada da pele e das mucosas).

“Nas gastroenterocolites agudas, a icterícia não costuma acontecer, é um sintoma correlacionado às hepatites. Na hepatite A, o quadro clássico, com icterícia, é mais comum nos adultos que nas crianças. Assim, crianças não vacinadas podem ter hepatite A apenas com apenas febre, náuseas e vômitos, sem necessariamente apresentar a coloração amarelada da pele”, afirma. Por outro lado, podem ocorrer as infecções assintomáticas, situação em que as pessoas eliminam os vírus e podem transmitir a doença sem apresentar nenhum sintoma aparente.

 

Diagnóstico médico

Lázari argumenta que: “Existem exames laboratoriais que conseguem fazer o diagnóstico diferencial entre as causas das doenças diarreicas, contudo, a necessidade de realizá-los depende da avaliação médica”.

Nos quadros leves, a infectologista explica que não é necessário fazer exames laboratoriais. “Se não houver muitas evacuações diárias, se o paciente tiver condições de se hidratar em casa, sem necessidade de hidratação intravenosa, e se o problema tiver começado recentemente, em até dois ou três dias, o clínico pode optar por dar orientações sem solicitar exames”, ratifica.

No entanto, se os sintomas se agravarem a ponto do paciente não conseguir se hidratar apenas por via oral ou então, caso haja muitos vômitos, os quais não permitem que a hidratação permaneça no estômago, a indicação da médica é investigar por meio de exames/testes, para direcionar melhor o tratamento. O mesmo vale para crianças muito pequenas, idosos e/ou pessoas imunossuprimidas.

“Para a suspeita de diarreia viral, existem testes rápidos realizados nas fezes, como os testes rápidos para rotavírus e adenovírus. Para bactérias, pode-se solicitar cultura de fezes. Atualmente, existem amplos painéis moleculares que pesquisam simultaneamente vírus, bactérias e parasitas que podem ser causadores de diarreia aguda, que geralmente são reservados para os casos mais complexos”, revela.

Já para a hepatite A, em uma situação de suspeita, o diagnóstico é feito por sorologia (por meio de exame de sangue), com a pesquisa dos anticorpos específicos para o vírus da hepatite A.

 

Prevenção das contaminações alimentares

Segundo a patologista clínica, a forma de evitar essas infecções seria tomar cuidado com a ingestão de alimentos e líquidos no geral. “O ideal é comer em lugares conhecidos e que garantam a procedência e a conservação dos alimentos, de preferência em locais que tenham refrigeração. Alimentos vendidos por ambulantes com isopor, por exemplo, geralmente ficam expostos ao sol por muito tempo, sem reposição de gelo, e tendem a ficar em temperaturas inadequadas para conservação”, adverte a especialista.

Ela também cita alguns alimentos e bebidas que devemos evitar ou, ao menos, prestar mais atenção quando estivermos fora de casa, como:

  • Peixes, crustáceos e ostras, por exemplo, se deterioram mais rápido, devido à natureza das proteínas, e devem ser consumidos em locais conhecidos ou indicados para evitar contaminação.
  • Alimentos consumidos crus, especialmente quando preparados em locais sem água corrente – “Alimentos como saladas, maionese (feita com ovos crus), entre outros, precisam ser bem refrigerados e as verduras lavadas adequadamente com imersão em solução de hipoclorito (água sanitária). Se forem preparados em locais sem água corrente, podem não ser bem higienizados e favorecer a contaminação”;
  • Água e sucos – “O ideal é beber apenas água mineral e lembrar-se dos sucos, que também podem ser preparados com água contaminada ou gelo de procedência duvidosa”.

Por fim, ela lembra da contaminação que pode ocorrer com os chuveiros de barracas de praia, que podem utilizar água de procedência duvidosa e assim, ser uma fonte de contaminação. “Ao tomar uma ducha, é possível ingerir ou inalar alguma quantidade de água contaminada, o que pode ser suficiente para causar infecção, dependendo da qualidade da água”, ressalta Lázari.

 

 

SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial


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