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sábado, 28 de dezembro de 2024

Excesso de gordura abdominal pode desencadear Alzheimer

Estudo americano descobriu que condição pode dar o pontapé inicial para o desenvolvimento deste tipo de demência que acomete um número cada vez maior de pessoas no mundo - e muito antes do previsto


O excesso de gordura abdominal é motivo de preocupação para muita gente, não somente sob o ponto de vista estético, mas principalmente pelos impactos negativos à saúde. Os principais riscos associados a ela incluem obesidade, resistência à insulina, níveis elevados de cortisol, entre outros. Um estudo conduzido pelo Dr. Cyrus Raji, professor associado de radiologia na Escola de Medicina da Universidade de Washington, revelou uma associação dessa condição com o desenvolvimento do Alzheimer. 

O levantamento indica que conforme a barriga de uma pessoa aumenta, o centro de memória do cérebro diminui e, com isso, proteínas relacionadas ao desenvolvimento da doença, como beta-amiloide e tau, podem aparecer e dar início aos primeiros passos do Alzheimer, na faixa entre 40 e 50 anos, bem antes de haver qualquer sinal de declínio cognitivo. 

A endocrinologista Alessandra Rascovski, diretora clínica da Atma Soma e fundadora do projeto Cérebro em Ação, que possui foco na prevenção da doença, explica que ambas as proteínas são sinais precoces da marcha do cérebro em direção a um possível diagnóstico da doença. “As placas amiloides geralmente surgem primeiro, com os emaranhados tau chegando mais tarde, conforme a doença progride. Quanto mais volume dessas proteínas o cérebro detém, mais ele fica doente, apresentando um fluxo sanguíneo menor, sinais de atrofia ou um desgaste da massa cinzenta no hipocampo, que envolve a memória”. 

Para a especialista, esta análise é de extrema importância, pois revelou uma relação entre o Alzheimer e o excesso de gordura abdominal, identificada antes do surgimento dos primeiros sinais da doença. “Isso nos direciona a ter uma atenção maior sobre a relevância da prevenção desse acúmulo, que pode ser uma ferramenta poderosa para combater a condição, além de outros fatores de prevenção que já se mostraram eficazes”.
 

Gordura visceral

Na primeira etapa do estudo, divulgada no ano passado, o professor Raji descobriu que a gordura visceral - tipo abdominal profunda - estava ligada à inflamação e ao acúmulo de amilóide no cérebro de mais de 30 homens e mulheres entre 40 e 50 anos. Esse tipo, envolve os principais órgãos do corpo e difere-se da gordura subcutânea, responsável por 90% da gordura corporal. 

Segundo a endocrinologista da Atma Soma, a gordura visceral pode ser medida por meio de exames como a ressonância magnética abdominal, densitometria de corpo inteiro com medida de gordura corporal e bioimpedância. Ela esclarece que a maior parte do Índice de Massa Corporal (IMC) de uma pessoa reflete a gordura cutânea e não a visceral. “Quanto mais gordura visceral uma pessoa tem, mais inflamado o corpo fica. E esse tipo de inflamação é muito mais grave do que uma que ocorre na gordura subcutânea, pois ela recebe mais fluxo sanguíneo por conta de sua localização próxima aos órgãos”. 

Outro ponto de atenção da pesquisa americana foi a relação entre a insulina e a gordura visceral. “A substância, em dosagens elevadas, foi observada em pessoas com maiores quantidades de gordura visceral, que é a mais metabolicamente anormal e indutora de diabetes”, enfatiza Alessandra.
 

Alzheimer no mundo

Estudos como esse abrem novos horizontes de esperança para frear uma doença que vem acometendo um número cada vez maior de pessoas - e mais cedo. Segundo dados da Alzheimer’s Disease International (ADI), a estimativa é que os casos da doença no mundo atinjam quase 75 milhões de pessoas em 2030 e 131,5 milhões em 2050, cujo aumento é atribuído, entre outros fatores, ao envelhecimento da população. 

Já no Brasil, a projeção é que o número de pessoas com demência chegue a 2,78 milhões no final desta década e a 5,5 milhões em 2050, conforme dados do Relatório Nacional sobre Demência, do Ministério da Saúde. Ainda de acordo com o levantamento, cerca de 8,5% da população brasileira com 60 anos ou mais sofre da doença. 

Para Alessandra Rascovski, ainda há muita desinformação, preconceito e negligência em relação à doença de Alzheimer. De acordo com a ADI, 80% das pessoas ainda acreditam, equivocadamente, que a demência é só uma consequência natural do envelhecimento, ignorando o fato de que se trata de uma condição médica grave e associada a um estilo de vida ruim durante vários anos que precedem o diagnóstico. 

No Relatório Mundial de Alzheimer 2024, da ADI, a associação também destaca alguns avanços, como o fato de que 58% das pessoas que participaram da pesquisa reconheceram que hábitos como alimentação equilibrada e a prática regular de exercícios físicos ajudam a reduzir o risco de desenvolver demência. “Controlar fatores de risco como hipertensão e diabetes pode prevenir mais de 40% dos casos”, finaliza a médica.

 

Atma Soma


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