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sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

SBR e SBPC/ML estabelecem novo limite para níveis de ácido úrico no organismo para portadores de gota


A gota, uma inflamação nas articulações causada por acúmulo de cristais de ácido úrico nas juntas é uma doença que afeta ao menos 2% da população adulta, com maior prevalência em homens acima dos 50 anos. Uma nova diretriz recém-publicada pela Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), em conjunto com a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML) aponta um novo limite, ainda mais preciso, para os níveis máximos de ácido úrico no sangue, considerados normais, a fim evitar que o paciente chegue ao ponto de desenvolver a deformação das juntas. 

Os níveis séricos de ácido úrico da população em geral variam de 3,4 a 7 mg/dL, e, com base na literatura científica sobre o tema, a diretriz passa a indicar a marca de 6 mg/dL como o nível a não ser ultrapassado por pessoas com histórico de gota. 

A hiperuricemia é um processo que envolve o metabolismo das purinas, moléculas existentes no DNA e no RNA, e que fazem parte de alimentos, sobretudo carnes vermelhas, miúdos, frutos do mar e refrescos açucarados, além de estarem presentes em bebidas alcoólicas (fermentadas ou destiladas) e em alguns medicamentos, como diuréticos. Em pessoas saudáveis, com uma rotina equilibrada e sem propensão ao quadro, o organismo trata de eliminar o excesso. Nos pacientes com gota, porém, o ácido úrico fica retido e começa a se depositar em tecidos como os rins, a pele e as articulações, onde causa a pane inflamatória e dolorosa. 

Nas crises, a dor se deve ao fato de que a substância se cristaliza como agulhas que atormentam o dedão do pé, o tornozelo ou o cotovelo. Após décadas de estudos, hoje o controle do problema é feito com medidas e remédios para reduzir a produção do ácido úrico ou incentivar sua eliminação. Contudo, ele continua sendo uma dificuldade. 

“Essa estratégia é teoricamente perfeita. Mas no dia a dia o resultado é péssimo”, afirma o reumatologista Geraldo Castelar, membro da SBR e um dos autores do documento. Para piorar, a maioria dos pacientes é do sexo masculino, população conhecida por ir menos aos consultórios e não aderir com afinco a tratamentos e mudanças no estilo de vida. Apenas a crise aguda é tratada, e não a causa da gota. O ideal é que haja controle antes que os ataques prejudiquem as juntas. A meta será descrita no laudo dos exames de sangue nos laboratórios. Apesar de seus efeitos serem retratados há milênios, a hiperuricemia está diretamente relacionada a condições e hábitos típicos da vida moderna, como obesidade, sedentarismo, dieta inadequada, colesterol alto. O metabolismo da população piorou muito e o valor do ácido úrico reflete isso”, diz Castelar. 

As crises de gota, que chegam a durar dez dias, podem também trazer prejuízos à saúde renal e cardiovascular. Ter noção do índice a ser mantido pode mudar a rotina de profissionais, pacientes e familiares, que terão ao alcance das mãos um marcador de quando será necessário intervir e iniciar as medicações antes de penar com os sintomas. 

“Os exames podem ser feitos entre cada 4 a 6 meses para medir o ácido úrico no paciente que possui a gota. É um monitoramento importante e necessário, mas para quem tem a doença. A população em geral não precisa medir com frequência, sobretudo se tem o histórico de ácido úrico normal, não precisa nem fazer todos os anos, como outros exames como glicose colesterol. E as mulheres, após a menopausa, devem acompanhar, porque o hormônio feminino traz uma proteção extra que se vai. Mulheres com mais de 60 anos são as mais afetadas pela gota”, afirma o patologista clínico Luis Eduardo Coelho Andrade. 

De acordo com o reumatologista da SBR, Henrique Sampaio, sobre a periodicidade de solicitar o ácido úrico, em pacientes com gota, o exame pode ser feito a cada 4 a 6 meses, mas depende muito de cada caso. No início do tratamento, precisa chegar no alvo de ácido úrico, aí pede-se, às vezes, a cada 4 ou 8 semanas, depois espaça pra 4 meses, 6 meses, quando fica estável. A população em geral, que não tem risco pra gota, que não tem manifestação clínica, não tem uma indicação, um protocolo de que se deva solicitar o ácido úrico, não há necessidade de fazer esse exame rotineiramente.

"Quando há necessidade de solicitar o ácido úlico? Quando o paciente tem algum dos fatores de risco, principalmente cardiovasculares, então hipertensão, problemas cardíacos, é coronaropata, ou paciente diabético, com síndrome metabólica, paciente com colesterol alto, assim como um conjunto de fatores de risco cardiovasculares mais importantes, além da doença renal crônica. Nesses pacientes vale a pena porque sabemos que o ácido úrico alto nesses pacientes tem correlação com o pior prognóstico, pior evolução. Mas na população em geral, não haveria necessidade de estar pedindo na rotina como exame geral", explicou.
 

Assinam a diretriz: Geraldo da Rocha Castelar Pinheiro; Marco Antônio Araújo da Rocha Loures; Luís Eduardo Coelho Andrade; Fabiano de Almeida Brito e Leonardo de Souza Vasconcellos. 

Confira o posicionamento neste link.


SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial


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