Exercícios físicos intensos diminuem os níveis de cortisol, estresse fisiológico e melhoram a qualidade de vida das pacientes
Ao
investigar respostas fisiológicas e perceptivas agudas de mulheres que passaram
por tratamento oncológico, estudo científico do Centro Universitário de
Brasília (CEUB) quebrou estigma comum de que o treinamento de força seria
excessivamente intenso para esse grupo de pacientes. A pesquisa, conduzida por
Isabel Miranda, estudante do curso de Educação Física, analisou como diferentes
intensidades de exercícios de força impactam positivamente a saúde física e
emocional de mulheres que venceram o câncer de mama.
O
estudo, que abre caminho para novas abordagens de recuperação por meio do exercício
físico, buscou intervenções que ajudassem a amenizar os efeitos colaterais do
tratamento e a melhorar a qualidade de vida dessas mulheres. “Procuramos provar
a eficácia do treinamento de força – atividade física muitas vezes considerada
"pesada" para esse público – em promover melhorias fisiológicas de
forma aguda.” Como metodologia, mulheres diagnosticadas com câncer de mama
foram submetidas a dois protocolos de treinamento de força com diferentes
intensidades.
Durante
o processo, as participantes realizaram cinco exercícios e foram avaliadas
quanto a indicadores como a concentração de cortisol, percepção de esforço, dor
tardia, funcionalidade e força geral. Ao contrário do esperado, os níveis de
cortisol, que costumam aumentar após o exercício físico, diminuíram
significativamente após a sessão de alta intensidade. “Esse achado abre portas
para novas investigações, já que os efeitos hormonais do treinamento de força
em sobreviventes de câncer ainda são pouco compreendidos”, destaca a autora.
Segundo
a estudante do CEUB, a percepção de esforço das participantes condizia com as
intensidades de cada sessão e a dor muscular pós exercício diminuiu
consideravelmente, tanto em sessões de intensidade moderada quanto alta. Mesmo
após 24 horas do treino, a dor alcançou seu pico, mas começou a decrescer após
48 horas, e continuou diminuindo após 72 horas. “Sabíamos que a musculação
tinha potencial de trazer diversos benefícios a essas mulheres, mas queríamos
entender como diferentes níveis de intensidade impactariam variáveis como
cortisol, percepção de esforço e dor muscular tardia".
De
acordo com a orientadora da pesquisa e coordenadora Educação Física do CEUB,
Renata Dantas, o que mais surpreendeu foi o cortisol ter diminuído com os
protocolos. “Essa descoberta nos leva a investigar mais, pois não há muitos
estudos sobre isso. Inicialmente, a hipótese era de que o cortisol aumentaria”.
Segundo Dantas, a musculação proporciona diversas adaptações fisiológicas e
psicológicas positivas, como a redução da fadiga relacionada ao câncer. Porém,
ainda existe certa apreensão por parte dos profissionais, que nem sempre têm o
conhecimento adequado para lidar com as limitações dos pacientes.
Rompendo tabu
O
treinamento de força, muitas vezes visto como inadequado para sobreviventes de
câncer de mama, se revelou não só seguro, mas eficaz em reduzir o estresse
fisiológico e melhorar a qualidade de vida dessas mulheres. “Essa pesquisa
rompe com o tabu de que o treinamento de força é muito pesado para essa
população. Ao contrário, pode trazer muitos benefícios", destaca. Os
resultados têm potencial para influenciar a forma como profissionais de saúde
abordam a prescrição de exercícios para sobreviventes de câncer de mama.
Para
Miranda, um protocolo de treinamento de força bem prescrito pode ser uma
ferramenta poderosa na reabilitação dessas mulheres, ajudando a superar as
sequelas do tratamento oncológico e a melhorar sua saúde geral. A pesquisadora
do CEUB destaca a importância de uma abordagem individualizada e bem orientada,
incentivando profissionais de saúde a estudarem mais sobre o tema e promoverem
protocolos de exercícios físicos adequados para essa população. “É essencial
que os profissionais estejam preparados para oferecer um atendimento de
qualidade e seguro para essas mulheres”, conclui.
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