TEA, Síndrome de Down, superdotados, tímidos, obesos e infantilizados estão nessa lista
Segundo dados do Censo Escolar 2023 ,
foram matriculados 47,3 milhões de estudantes, considerando todas as etapas
educacionais, distribuídos em 178,5 mil escolas. Neste mesmo cenário entra o
levantamento do DataSenado, alegando que cerca de 11% dos estudantes brasileiros
sofreram algum tipo de violência (bullying) na escola no último ano, o que
corresponde a cerca de 6,7 milhões de estudantes.
Então, como lidar com essa situação? Como a
escola deve agir? E os pais? As outras crianças?
A psicóloga Deise Moraes Saluti, que também é
neuropsicopedagoga, detalha maneiras de ação em diferentes circunstâncias,
principalmente quando falamos de alunos atípicos.
Antes de tudo, ela ressalta que todas as
escolas têm o dever da inclusão. “Receber alunos atípicos, alunos com
dificuldades de aprendizado, com questões de suporte, enfim, é dever da escola
aceitar esses alunos, mas a pergunta que não quer calar é se a escola está
preparada para receber esses alunos. Os professores possuem preparo e
conhecimentos em todas as neurodiversidades em relação à sociabilidade,
aprendizagem, atenção, humor e outras funções cognitivas? A resposta é não”
Confira sugestões da psicóloga para
cada situação:
TEA: as escolas
de todo País ainda não estão capacitadas, muitas se titulam, mas não são
capacitadas. Especificamente o Autista, nível suporte 1, é o que mais sofre,
pois está no meio de uma sala com 30 ou mais aluninhos, sem evolução de
aprendizado e se sentindo excluído. E mais, esses alunos de suporte 1 são quase
sempre cobrados ou recebem qualquer outro diagnósticos para maquiar suas
dificuldades.
Por não saber cuidar desse aluno, a escola
aciona todos os tipos de profissionais para tentar acompanhar essa criança, e
esse processo é geralmente complicado e demorado, ou seja, a criança já perdeu
metade do ano letivo e quase todo conteúdo, se vê obrigado a empurrar as
matérias, pulando conteúdos, e dificultando ainda mais seu aprendizado,
consequentemente, os amigos o rejeitam, pois não possuem preparo vindo do
colégio nem dos pais para respeitar as limitações dos amiguinhos.
Esses alunos com T.E.A acabam permanecendo
isolados e de uma forma ou outra aprovados. E esse movimento é só a ponta do
iceberg que irá arrebentar lá na frente, na fase adulta e dentro das relações.
Síndrome de Down: um aluno
com Síndrome de Down é da mesma forma que o do TEA, se inclui em neuro atípico
e de inclusão. Essa condição genética também limita o desenvolvimento de
interação com outros amiguinhos, que por não saberem sobre a síndrome ou não
possuírem empatia, acabam rejeitando esses alunos especiais. Muitos professores
conseguem interagir com a sala sem prejudicar o aprendizado especial do aluno
com Síndrome de Down, mas manter a atenção e concentração de todos esses alunos
e manter a qualidade de aprendizado é bem difícil.
Por isso, é necessário uma grande rede de apoio
psicopedagógica para expandir o campo de aprendizado aos alunos especiais
enquanto acompanham o desenrolar normal da matéria. É muito importante a
participação dos pais, para que as crianças neuro atípicas se sintam mais
seguras e confiantes em suas lições.
Superdotados: um aluno
superdotado e que possui uma interação com todos os alunos também sofre
discriminação por seu comportamento. Seus trabalhos são melhores, suas provas e
notas são as melhores, veja só, nós estamos fazendo o caminho inverso, onde o
destaque não consegue se destacar na sua maioria mediana. Por isso, um aluno
com maior capacidade de aprendizado também precisa de uma rede de apoio ou ele
acaba tendo que frear seus conhecimentos, limitar suas atividades, pois não
haverá professor disponível para acompanhá-lo.
Ele vai ser obrigado a aguardar pelo momento
que toda sala puder acompanhar. Isso é uma limitação encontrada na maioria das
escolas públicas ou privadas. Se uma criança for exigente, ela vai precisar
aguardar, se uma criança se atrasar no conteúdo, ela vai perder. Parece que a
conta nunca fecha. É preciso aprimorar os conhecimentos de professores e
coordenadores para que se sintam mais capacitados a receber esses alunos.
Tímidos: para um
aluno tímido, que possui dificuldade de interação, de relacionamentos com
outros alunos, é também muito difícil quando não há apoio do professor. Imagine
o quanto essa criança sofre se for lhe perguntado algo, ou como ela deve se sentir
ansiosa por medo de ser chamada na frente da sala, ou lhe for feita qualquer
pergunta onde ela sabe que os amiguinhos vão rir dela. Os professores não têm
tempo suficiente de realizar tarefas individuais com essa criança e acabam a
expondo, e isso é significativamente prejudicial.
Sintomas físicos mais comum que destacam o
emocional de uma criança extremamente tímida muitas vezes é a sudorese, tremor
nas mãos e pernas, diarreia ou enurese miccional, que é a condição da criança
fazer xixi na roupa por medo. Lembrando que esses sintomas podem gerar traumas
muitas vezes irreversíveis para essa criança. E gera, automaticamente, um
desconforto, precisando até mudar a escola para não sofrer com os gatilhos
emocionais.
Infantis: um aluno
infantilizado será sempre alvo para outros alunos hiperativos. Crianças que em
seus ambientes são ridicularizadas ou humilhadas, com certeza repetem esse
comportamento com outras crianças na escola, ou com os amigos, pois precisam
descarregar a dor em uma outra criança.
É o efeito dominó: se em casa sou amado, eu
ofereço amor, se em casa sou humilhado, ofereço rancor.
Obesos: uma
criança com questões de obesidade ou fora do padrão de outras crianças da sua
mesma idade sofre preconceito até mesmo na própria casa, vindo dos próprios
pais. Exemplos são frases preconceituosas que os pais falam, como “Para de
comer senão você vai explodir”, “Você parece o porquinho do vizinho”, “Tá
parecendo a Peppa Pig”, “Rolha de poço do papai”, “fofinho” e outros.
A percentagem dessa criança crescer com traumas
de infância e sofrer bullying no colégio é enorme. Seus medos e ansiedades
serão transformados em fome, essa fome misturada com ansiedade ou depressão
toma outras proporções e, claro que no ambiente escolar e ou em qualquer outro
ambiente, essa criança irá se sentir desconfortável. Isso irá gerar gatilhos
para que ela, ao invés de controlar a fome, aumente-a ainda mais. O famoso
efeito cascata. De pequeno sofre e arrasta o sofrimento para todo lugar que
estiver.
Hoje, no Brasil, 9,4% de meninas possuem
obesidade e 12,4% dos meninos são considerados obesos. No ambiente escolar eu
costumo dizer que esse efeito cascata começa de casa. Pais obesos, sedentários,
geram filhos obesos e sedentários. As palavras são maravilhosas, mas o exemplo
arrasta multidões. E é isso que acontece. Claro que essa criança vai se
alimentar mal, dormir mal, comer mal, sem exercícios e sem atividade física, o
ambiente escolar é o primeiro lugar com maior frequência de sofrimento
psíquico.
Ressalto que seja necessário atendimento
especializado com psicóloga comportamental, rede de apoio com os pais,
nutricionista e outros profissionais. Importante entender que para mudar essa
criança é imprescindível mudar a mentalidade dos pais também. Reorganizar
alimentação, regular o sono, praticar exercícios físicos, tudo isso faz parte do
processo de cura dessa criança.
Racismo: uma
criança que sofre racismo não só pratica outros tipos de preconceitos, como
possui uma autoestima muito baixa. Ela se questiona o tempo todo sobre sua
aparência e sobre suas capacidades. Hoje, os colégios possuem mais cuidados com
as questões de racismo e preconceitos, mas o grande detalhe é que isso deveria
acontecer em casa. Essa conscientização deveria vir como um ensinamento dos
pais, questões de caráter e personalidade.
Alguém que pratica o preconceito é alguém que
sofreu preconceito também. Essa visão ainda muito percebida, está inserida no
nosso País. O preconceito nas escolas atinge um percentual de mais de 80% entre
jovens e adolescentes. Essa luta ainda deve durar. O ser humano ainda precisa
evoluir muito para aprender a respeitar o outro na sua totalidade.
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