Excesso de velocidade, ingestão de álcool e uso do celular são principais causas de acidentes de trânsito
Créditos: Envato
Violência no
trânsito fez 234 mil pessoas precisarem de internamento hospitalar em 2021;
apenas em hospital SUS de Curitiba foram mais de 2,6 mil pacientes
O número de pessoas internadas na rede pública de
saúde com lesões causadas por acidentes de trânsito bateu recorde no ano
passado. Conforme dados do Ministério da Saúde, foram, em média, 642
internamentos por dia. Em 2011, a média diária era de 480 internações. Ou seja,
em dez anos houve um acréscimo de 34% nas hospitalizações por acidentes de
trânsito. Os dados mostram que as medidas de distanciamento social da covid-19
não impediram o aumento da violência nas estradas. O país registrou, em 2020,
aproximadamente 188 mil internações de pessoas envolvidas nesse tipo de
acidente. Já em 2021, o número aumentou 24%, indo para 234 mil.
Nesse cenário, profissionais de saúde de hospitais
com atendimento de trauma e emergência vivem diariamente o desafio de atender
ocorrências de trânsito. Como é o caso do Hospital Universitário Cajuru, em
Curitiba (PR), que realiza uma média de 147 mil atendimentos por ano, entre
internamentos, urgências e emergências, cirurgias e consultas ambulatoriais. Ao
concentrar grande parte dos atendimentos de trauma da capital e região
metropolitana durante a pandemia, o hospital registrou em 2021, mais de 2,6 mil
pacientes internados por acidentes de trânsito. Apenas no recorte de janeiro a
agosto do ano passado foram 1,7 mil atendimentos, 200% a mais do que o
registrado no mesmo período deste ano: 556.
"É elevado o número de vítimas que chegam aqui
com um quadro clínico de alta complexidade. Acidentes com motos e
atropelamentos são os que costumam resultar em lesões de maior gravidade.
Nessas situações, a manutenção da vida é a prioridade do atendimento",
explica Rômulo Francisco de Almeida Torres, coordenador médico do
Pronto-Socorro da unidade que tem atendimento 100% via Sistema Único de Saúde
(SUS). A imprudência dos motoristas causa 90% dos acidentes em todo o mundo e o
Brasil apresenta a mesma estatística. Por isso, essas emergências têm um
aspecto particular: a maioria delas é evitável.
Violência nas estradas
Excesso de velocidade, ingestão de álcool e uso do
celular são alguns dos principais fatores que podem levar a um acidente de
trânsito. A violência nas pistas faz mais de meio milhão de vítimas anualmente.
A cada minuto, pelo menos uma pessoa fica inválida e, a cada 12 minutos, uma
pessoa morre. Isso coloca o Brasil como o quarto país com maior número de
acidentes de trânsito no mundo. É o que aponta o Observatório Nacional de
Segurança Viária.
No Paraná, os acidentes de trânsito também provocam
milhares de mortes todo ano, além de incapacidade física e sequelas pelo resto
da vida. A média é de um acidente a cada 12 minutos e quatro vidas perdidas por
dia. Dados do Corpo de Bombeiros mostram que 2022 está sendo o ano com mais
ocorrências no trânsito paranaense desde 2020, e o segundo com mais mortes
desde 2018. Nesse cenário, o estado fechou o último ano como o terceiro com
mais acidentes (7.330), atrás apenas de Minas Gerais (8.308) e Santa Catarina
(7.882).
Os acidentes envolvendo motocicletas são maioria em
Curitiba. A cada três horas e meia uma pessoa fica ferida em acidente com esse
tipo de veículo. De acordo com o relatório divulgado pelo Batalhão de Polícia
de Trânsito (BPTran), apesar de as motocicletas representarem apenas 11,15% da
frota total de veículos da capital, elas se envolveram em 65,81% dos acidentes
com vítimas. Foram 1,4 mil ocorrências com motocicletas, motonetas ou
ciclomotores nos primeiros sete meses deste ano. O Hospital Universitário
Cajuru vive o reflexo desses números. Até agosto de 2022, do total de pacientes
atendidos por causa de batidas no trânsito, 62% eram motociclistas.
Sobrecarga no SUS
O problema se transforma em questão de saúde
pública. De acordo com pesquisa da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego
(Abramet), entre março de 2020 e julho de 2021, o SUS registrou um total de 308
mil internações por acidentes de trânsito. E só no ano passado, o Brasil gastou
mais de R$ 108 milhões com internações relacionadas a essa ocorrência. Ao
considerar isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o país gaste
3% do Produto Interno Bruto (PIB) por ano, cerca de R$ 220 bilhões, com
acidentes de trânsito.
Para proteger a vida e evitar a sobrecarga do SUS,
o melhor caminho é sempre dirigir com atenção redobrada. É importante avaliar
as condições da via e do clima, fazer frequentemente a manutenção do veículo,
não dirigir após ingerir bebida alcoólica e evitar falar ou mandar mensagens
pelo celular enquanto estiver dirigindo. “É hora de pensar na saúde pública
como um todo e buscar agir de forma preventiva. Ser responsável no trânsito é
decisivo para diminuir os acidentes e evitar sobrecarregar o sistema de saúde”,
conclui Rômulo.
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