Em 2020, enquanto a maior parte das escolas e universidades lutava para se adaptar à realidade das aulas on-line, um segmento de ensino registrou uma explosão de interessados. Aquele ano foi um marco importante para os cursos superiores oferecidos a distância, com maior número de interessados que os cursos presenciais. De lá para cá, a educação a distância (EAD), impulsionada também pela pandemia, não para de crescer.
É bem verdade que tal crescimento se deve
principalmente às instituições privadas, visto que as públicas continuam
ofertando, quase exclusivamente, cursos presenciais. Mas a expansão da EAD é
boa ou ruim para o nosso país?
Do ponto de vista quantitativo, a EAD é uma ótima
solução. Devido à sua capilaridade, pode chegar a praticamente qualquer
município brasileiro, o que permite à população maior acesso à formação
superior. Em um país que tem déficit histórico nesse quesito - e que tenta há
anos melhorar seus índices -, isso é bastante positivo.
Além disso, a EAD tem características que atendem
muito bem ao perfil da clientela da Educação Superior brasileira,
majoritariamente constituída por jovens trabalhadores de classe média-baixa,
que usam seu salário para financiar o próprio desenvolvimento pessoal.
Vantagens como preços mais acessíveis, horários flexíveis e comodidade do
estudo em casa também são fatores que explicam a alta procura por cursos a
distância.
Por outro lado, quando avaliamos essa modalidade
qualitativamente, a análise precisa ser mais profunda. Precisamos reconhecer
que os modelos implantados por uma parcela significativa de instituições
brasileiras têm foco essencial no baixo custo, e não na qualidade educacional.
Isso se deve à concorrência acirrada que existe no setor privado da Educação
Superior e à característica socioeconômica da maioria da clientela, que busca
essa modalidade também pelo preço.
Hoje, infelizmente, as tecnologias digitais têm
sido muito mais utilizadas para permitir redução de custos e automatizar
processos que para promover inovações significativas que, de fato, elevem a
qualidade do ensino. Atualmente, nos deparamos com cursos a distância que
oferecem uma infinidade de pirotecnias tecnológicas – apps,
inteligência artificial, jogos digitais, realidade virtual, realidade
aumentada, entre outros – que, na verdade, só encobrem projetos conteudistas,
rasos, com estrutura curricular cristalizada e baixa interação
professor/tutor-aluno, dificultando a participação ativa do estudante.
A EAD pressupõe um estudante que desempenhe um novo
papel, saindo da postura passiva para ser o protagonista de sua aprendizagem.
No entanto, essa autonomia não é percebida em muitos dos alunos de EAD, porque
eles não tiveram condições de desenvolvê-la durante seus anos na Educação
Básica.
Apesar desses pontos fracos, contudo, não há mais
como retroceder. O desenvolvimento tecnológico e as mudanças de perfil dos
estudantes, da sociedade e do mercado de trabalho não permitem que a Educação
Superior fique ancorada em modelos essencialmente presenciais. O Conselho
Nacional de Educação, prestes a definir diretrizes para a educação presencial
híbrida, abre caminho, assim, para que a dicotomia presencial ou a distância
desapareça.
Esse é o futuro, que nos pede cuidado para que o
hibridismo não seja apenas mais um recurso na busca de redução do custo do
Ensino Superior. Que ele possa conduzir a uma educação inclusiva, abrangente e
de qualidade, que responda aos anseios e necessidades da sociedade e do mercado
de trabalho da atualidade.
Ronaldo Casagrande - ex-pró-reitor universitário e vice-presidente do
Instituto Casagrande, organizador do III Congresso Internacional Um Novo Tempo
na Educação.
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