Médico veterinário da mais completa distribuidora de produtos para saúde animal do país elenca sintomas e dá dicas de prevenção e tratamentos para enfermidades mais comuns, como a babesiose, e mais letais, como as clostridioses
O número de propriedades produtoras de leite no
Brasil, atualmente superior a 1 milhão espalhadas por 99% dos municípios
brasileiros, deve diminuir nos próximos anos, de acordo com a Secretaria de
Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA). Apenas as mais competitivas sobreviverão até 2030. Ou seja, aquelas
propriedades capazes de se adaptar à nova realidade de adoção de tecnologia,
melhorias na gestão e maior eficiência técnica e econômica.
Para a VetBR, a mais completa distribuidora de
produtos para saúde animal do Brasil, o bem-estar do rebanho terá papel cada
vez mais fundamental para a sobrevivência e o sucesso do negócio. O produtor
precavido e bem informado evita despesas adicionais com veterinários e
medicamentos, reduz a mortalidade dos animais e aprimora a qualidade do seu produto
final. Para atualizar os produtores com dicas e recomendações, a VetBR convidou
o promotor e médico veterinário Leonardo Mendonça de Souza para listar as cinco
principais doenças que afetam o gado de leite:
BABESIOSE
Causada pelos parasitas Babesia divergens,
Babesia
bigemina ou Babesia bovis, sendo este último o que
mais afeta os bovinos. A Babesiose tem seu contágio feito por carrapatos e
provoca a destruição das hemácias, células sanguíneas responsáveis pelo
transporte de oxigênio. O animal perde a capacidade de absorver nutrientes dos
alimentos, o que leva a falta de ar e anemia. Na maioria dos casos reduz em até
60% a produção de leite, podendo interrompê-la totalmente dependendo da carga
parasitária.
Sintomas: Fezes mais escuras, fedidas e
pegajosas. A urina também fica mais concentrada. O animal também pode ter febre
e perda de apetite.
Tratamento: Como não existe vacina, o
tratamento se limita ao uso do diaceturato de diminazeno.
ANAPLASMOSE
Doença também conhecida como Tristezinha ou Boca
Branca dependendo da região do Brasil, possui via de transmissão, sinais
clínicos e epidemiologia semelhantes à babesiose. O parasita habita o plasma
sanguíneo e desregula a pressão gerada pelas proteínas, a chamada pressão
osmótica, responsável por segurar o sangue dentro dos vasos. Como consequência
o bovino acaba desenvolvendo edemas, inchaços e até a famosa barriga d’água.
Estudos e relatos indicam que os casos são mais raros no sul do País em razão
do clima frio, mas os animais acabam ficando ainda mais expostos e suscetíveis
quando migram para outras regiões, podendo se contaminar mesmo com uma pequena
carga parasitária.
Sintomas: Apatia, anorexia,
emagrecimento, pelos arrepiados, coração acelerado, respiração acelerada,
ausência de ruminação e icterícia, que é a coloração amarelada da pele e das
mucosas do animal.
Tratamento: Além oxitetracilina, também é
recomendado uso de vitaminas e hidratação com soro. Se detectada de forma
precoce, o animal volta a ficar saudável com menos de dez dias de
tratamento.
TRIPANOSSOMÍASE
A popular doença de Chagas é causada por um
protozoário do gênero Trypanossoma, que ataca a corrente sanguínea dos animais
e rouba seus nutrientes. No Brasil, a espécie de maior relevância para os
bovinos é o Trypanossoma vivax, que provoca o estado mais grave da doença. A
transmissão se dá por meio de moscas hematófagas (que se alimentam de sangue),
principalmente a mosca do chifre ou por seringa contaminada. O protozoário se
aproveita de momentos de vulnerabilidade do animal no período de queda de
imunidade para atacar, sendo muito comum durante o período de gestação da vaca,
que pode acabar abortando e no pós-parto gerando retenções de placentas e
emagrecimento progressivo. Em geral, compromete em até 25% da produção de leite
do bovino, podendo interrompê-la completamente em casos mais graves.
Sintomas: Febre, anemia intensa,
fraqueza e perda de peso. Os animais infectados também podem apresentar
lacrimejamento excessivo, conjuntivite inchaço nos cascos e vermelhidão.
Tratamento: Como não possui vacina, o
medicamento indicado pela Embrapa é o dimenazene (aceturato de dimenazene) como
tratatamento suporte e o tratamento curativo e preventivo é feito com o Cloreto
de isometamidium 2%.
CLOSTRIDIOSES
As clostridioses, intoxicações causadas por
bactérias do gênero Clostridium, estão entre as doenças que mais matam bovinos
no Brasil. Entre as principais doenças dessa classe estão o botulismo, tétano,
gangrena gasosa e carbúnculo sintomático. O animal geralmente se contamina com
água ou carcaça infectada, sendo extremamente importante incinerar restos de
animais mortos e evitar deixar o gado se hidratar próximo de córregos e
nascentes. As clostridioses se caracterizam por ser extremamente rápidas e
letais, podendo ocasionar morte súbita mesmo antes do aparecimento dos
sintomas. Animais com menos de 4 meses de vida são mais vulneráveis, mas os
adultos também podem vir a óbito.
Sintomas: Deixa a musculatura do gado com
aspecto esponjoso e a mucosa da pele com textura semelhante a de plástico
bolha.
Tratamento: A vacinação sistemática em
todo o rebanho é considerada como principal medida preventiva. A primeira dose
e a dose de reforço devem ser aplicadas quando o animal completa de 21 a 30
dias de vida. A vacinação semestral persiste anualmente.
BRUCELOSE
Conhecida também como febre de malta ou aborto
infeccioso, é uma infecção altamente contagiosa, causada por bactérias que
pertencem ao gênero Brucella. A doença afeta fêmeas em idade reprodutiva a
partir dos 24 meses, gerando aborto. Os machos também podem se contaminar, mas
não apresentam sintomas por serem portadores intermediários. É transmitida
entre os animais durante o contato com restos fetais contaminados ou através da
inseminação artificial, quando o sêmen tem o agente infeccioso. A brucelose
também pode ser transmitida para o ser humano pela ingestão de leite cru ou
produtos derivados contaminados. Como acontece com as zoonoses, o produtor deve
comunicar imediatamente ao Mapa quando um de seus animais testa positivo para a
doença. Neste caso, a fazenda é lacrada pelo Ministério e todo rebanho é
submetido a exame sorológico. No gado leiteiro, a brucelose pode causar até 25%
de perda na produção.
Sintomas: Nas fêmeas, os principais
sinais de infecção são repetições de cio, corrimento vaginal, nascimentos
prematuros e abortos no terço final da gestação.
Tratamento: Por se tratar de uma doença
sem cura e altamente infecciosa, a melhor forma de evitar a ocorrência da
brucelose bovina é através da vacinação preventiva e obrigatória para os
rebanhos. Também é preciso realizar a marcação dos animais vacinados (com a
letra V na face direita do animal). A vacinação ocorre em uma única dose
(vacina B19) e apenas nas fêmeas com idade entre 3-8 meses. Já os animais acima
de 8 meses devem ser vacinados com o imunizante RB 51, pois é uma cepa
diferente. A vacina dará maior imunidade a essa fêmea que também deve ser
marcada com ferro quente, porém na face esquerda.
VETBR
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