Novas análises indicam que transtornos mentais entre jovens acarretam uma redução de contribuição para a economia de quase USD$ 390 bilhões por ano
Nova Iorque - Crianças,
adolescentes e jovens poderão sentir o impacto da Covid-19 em sua saúde mental
e bem-estar por muitos anos, alertou hoje o UNICEF no principal relatório da
organização que este ano está focado em saúde mental de crianças, adolescentes
e cuidadores no século 21. De acordo com The State of the
World’s Children 2021; On My Mind: promoting, protecting and caring for
children’s mental health (Situação Mundial da Infância 2021: Na
minha mente: promovendo, protegendo e cuidando da saúde mental das crianças - disponível
em inglês ), mesmo antes da Covid-19, crianças, adolescentes e jovens
carregavam o fardo das condições de saúde mental sem um investimento
significativo para resolvê-los.
Segundo
as últimas estimativas disponíveis, calcula-se que, globalmente, mais de um em
cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos viva com algum
transtorno mental diagnosticado. Quase 46 mil adolescentes morrem por suicídio
a cada ano, uma das cinco principais causas de morte nessa faixa etária.
Enquanto isso, persistem grandes lacunas entre as necessidades de saúde mental
e o financiamento de políticas voltadas a essa área. O relatório constata que
apenas cerca de 2% dos orçamentos governamentais de saúde são alocados para
gastos com saúde mental em todo o mundo.
"Foram
longos, longos 18 meses para todos nós - especialmente para as crianças e
adolescentes. Com lockdowns nacionais e restrições de movimento
relacionados à pandemia, as meninas e os meninos passaram anos indeléveis de
sua vida longe da família, de amigos, das salas de aula, das brincadeiras -
elementos-chave da infância", disse a diretora executiva do UNICEF,
Henrietta Fore. "O impacto é significativo e é apenas a ponta do iceberg.
Mesmo antes da pandemia, muitas crianças estavam sobrecarregadas com o peso de
problemas de saúde mental não resolvidos. Muito pouco investimento está sendo
feito pelos governos para atender a essas necessidades críticas. Não está sendo
dada importância suficiente à relação entre a saúde mental e os resultados
futuros na vida ".
Saúde
mental das crianças durante a pandemia da covid-19
Na
verdade, a pandemia cobrou seu preço. De acordo com resultados preliminares de
uma pesquisa internacional com crianças e adultos em 21 países conduzida pelo
UNICEF e o Gallup - que tem uma prévia apresentada neste relatório Situação
Mundial da Infância 2021 - em média, um em cada cinco adolescentes e jovens de
15 a 24 anos entrevistados (19%) disse que, muitas vezes, se sente deprimido ou
tem pouco interesse em fazer coisas.
Enquanto
a covid-19 está perto de chegar a seu terceiro ano, o impacto sobre a saúde
mental e o bem-estar de crianças e jovens continua pesando muito. Segundo os
últimos dados disponíveis do UNICEF, globalmente, pelo menos uma em cada sete
crianças foi diretamente afetada por lockdowns, enquanto mais de 1,6
bilhão de crianças sofreram alguma perda relacionada à educação. A ruptura com
as rotinas, a educação, a recreação e a preocupação com a renda familiar e com
a saúde estão deixando muitos jovens com medo, irritados e preocupados com seu
futuro. Por exemplo, uma pesquisa online na China no início de 2020, citada no
relatório Situação Mundial da Infância 2021, indicou que cerca de um terço dos
entrevistados relatou sentir medo ou ansiedade.
Custo
para a sociedade
Transtornos
mentais diagnosticados - incluindo transtorno do déficit de atenção com
hiperatividade - TDAH, ansiedade, autismo, transtorno bipolar, transtorno de
conduta, depressão, transtornos alimentares, deficiência intelectual e
esquizofrenia - podem prejudicar significativamente a saúde, a educação, as
conquistas e a capacidade financeira de crianças, adolescentes e jovens no
futuro.
Embora
o impacto na vida deles seja incalculável, uma nova análise da London School
of Economics, incluída no relatório, estima que transtornos mentais que
levam jovens à incapacidade ou à morte acarretam uma redução de contribuições
para as economias de quase US﹩ 390 bilhões por ano.
Fatores
de proteção
O
relatório observa que uma mistura de fatores genéticos, de experiência e
ambientais desde os primeiros dias, incluindo parentalidade, escolaridade,
qualidade dos relacionamentos, exposição a violência ou abuso, discriminação,
pobreza, crises humanitárias e emergências de saúde, como a covid-19, molda e
afeta a saúde mental das crianças ao longo da vida.
Embora
fatores de proteção, como cuidadores amorosos, ambientes escolares seguros e
relacionamentos positivos com colegas, possam ajudar a reduzir o risco de
transtornos mentais, o relatório alerta que barreiras significativas, incluindo
estigma e falta de financiamento, estão impedindo que muitas crianças tenham
uma saúde mental positiva ou estejam acessando o apoio de que precisam.
O
relatório Situação Mundial da Infância 2021 pede que governos e parceiros dos
setores público e privado se comprometam, comuniquem e ajam para promover a
saúde mental de todas as crianças, todos os adolescentes e cuidadores, proteger
os que precisam de ajuda e cuidar dos mais vulneráveis, incluindo:
•
Investimento urgente em saúde mental de crianças e adolescentes em todos os
setores, não apenas na saúde, para apoiar uma abordagem intersetorial,
incluindo toda a sociedade para prevenção, promoção e cuidados.
•
Investir em serviços públicos de qualidade - integração e
ampliação de intervenções baseadas em evidências nos setores de saúde, educação
e proteção social - incluindo programas parentais que promovem cuidados
responsivos e de atenção integral, e garantia de que as escolas apoiem a saúde
mental por meio de serviços de qualidade e relacionamentos positivos.
•
Preparar pais, familiares, cuidadores e educadores para
abordar o tema da saúde mental como parte da saúde integral.
•
Quebrar do silêncio em torno da saúde mental, fomentar a
cultura da escuta sem julgamentos - escuta empática - promovendo uma melhor
compreensão da saúde mental e levando a sério as experiências de crianças,
adolescentes e jovens.
•
Valorizar a rede de apoio entre pares - promovendo e valorizando esse
diálogo entre os próprios adolescentes sobre saúde mental.
"A saúde mental faz parte da saúde física - não podemos continuar a vê-la de outra forma", disse
Fore. "Por muito tempo, em países ricos e pobres, temos visto muito pouco
entendimento e muito pouco investimento em um elemento crítico para maximizar o
potencial de cada criança. Isso precisa mudar".
No
Brasil, Pode Falar ajuda adolescentes e jovens
O
Brasil foi um dos 21 países que participou da pesquisa conduzida pelo UNICEF e
o Gallup - que tem uma prévia apresentada neste relatório Situação Mundial da
Infância 2021. Os dados mostram que 22% dos adolescentes e jovens de 15 a 24
anos brasileiros entrevistados disse que, muitas vezes, se sente deprimido ou
tem pouco interesse em fazer coisas.
Para
contribuir com a mudança desse cenário, o UNICEF lançou, no Brasil, o Pode
Falar. Trata-se de um canal de ajuda virtual em saúde mental e bem-estar para
adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O Pode Falar foi criado em parceria com
diversas organizações da sociedade civil e empresas com expertise na área, e
funciona de forma anônima e gratuita por meio de um chatbot que pode ser
acessado no site podefalar.org.br
.
Notas
As estimativas das causas de morte
entre adolescentes são baseadas em dados da Estimativas Globais de Saúde 2019,
da Organização Mundial da Saúde (OMS). As estimativas sobre a prevalência de
transtornos mentais diagnosticados baseiam-se no Estudo de Carga Global de
Doenças de 2019, do Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME).
Os resultados da pesquisa sobre sentimentos de depressão ou ter
pouco interesse em fazer coisas são parte de um estudo maior conduzido em
conjunto entre o UNICEF e o Gallup para explorar a divisão intergeracional. O
projeto Changing Childhood entrevistou aproximadamente 20 mil pessoas
por telefone em 21 países. Todas as amostras são baseadas em probabilidade e
nacionalmente representativas de duas populações distintas em cada país:
pessoas de 15 a 24 anos e pessoas de 40 anos ou mais. A área de cobertura é
todo o país, incluindo áreas rurais, e a base de amostragem representa toda a
população civil, não institucionalizada, dentro de cada coorte de idade com
acesso a um telefone. As conclusões completas do projeto serão divulgadas pelo
UNICEF em novembro.
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