Apesar de conhecida, a Doença de Parkinson, segunda condição neurodegenerativa mais incidente em pessoas acima dos 60 anos, ainda traz muitas dúvidas, principalmente na hora do diagnóstico. Ao contrário do que se imagina a maioria dos pacientes não tem o tremor como principal sintoma. Algumas pessoas têm tão pouco, que ele quase não é perceptível. Quais são os principais sinais então, e como se saber se, de fato, é Parkinson?
No meu cotidiano do
consultório, percebo que, quando há suspeita, esse é um dos temas que mais gera
inquietação. É preciso explicar que o diagnóstico, até o momento, é essencialmente clínico, ou seja: baseado no histórico desde o
início dos sintomas e no exame físico do paciente.
Temos à nossa
disposição, hoje, diversos exames que podem auxiliar excluindo outras causas
ou, ainda, fornecendo informações que podem fazer a diferença em casos mais
raros, nos quais as manifestações não são tão típicas do Parkinson.
Todo cuidado é
tomado para que se confirme a condição. Boa parte dos pacientes, especialmente
no primeiro e no segundo ano do início dos indícios, acaba se enquadrando como
uma "provável" Doença de Parkinson, pois o tempo também faz parte do
diagnóstico. Algumas patologias podem parecer com ela, mas só se manifestar
depois de alguns anos. São elas: paralisia supranclear progressiva, atrofia de múltiplos sistemas,
demência frontotemporal e
tremor essencial.
Até o momento, a
doença evolui com o tempo, mas já se acredita que alguns tratamentos possam
tornar essa progressão mais lenta. Porém, o diagnóstico incorreto pode fazer
com que os pacientes se submetam a medicações desnecessárias e confundir o entendimento sobre o que está acontecendo
com seu organismo.
Tendo em vista os
principais alertas, eu ressalto que os dois principais sintomas do Parkinson são, na verdade, a rigidez e a lentificação
dos movimentos. Porém, nem todos os pacientes apresentam os mesmos
indícios. Alguns podem ter apenas um tremor leve, outros um pouco de rigidez no
corpo e, por fim, uma minoria pode, até mesmo, apresentar alterações de
comportamento e de memória, por exemplo.
Por ser uma doença
que tem como base a ‘morte’ de neurônios que produzem dopamina, seu tratamento
se baseia em remédios que visam repor substâncias similares a ela. É
fundamental, também, a reabilitação com fisioterapia e, eventualmente,
fonoterapia.
Nas últimas décadas,
inclusive, a medicina vem*/ trabalhando em pesquisas e inovações para -trazer
mais qualidade de vida aos pacientes de Parkinson. Além dos bons medicamentos,
destinados para controlar os principais sintomas da doença, hoje temos outras
opções seguras. Uma segunda alternativa eficaz consiste na Terapia de Estimulação Cerebral
Profunda (DBS),
cirurgia que utiliza um dispositivo médico implantado, semelhante a um
marcapasso cardíaco.
A cirurgia é um
recurso muito importante e deve ser considerada para alguns pacientes. Ela não
é ainda a primeira linha de tratamento possível, porém, quando os medicamentos
não estão funcionando mais como antes, ou os efeitos colaterais são muito
significativos, deve ser considerada. Quando bem indicada, ela permite que
pacientes tenham melhorias significativas na qualidade de vida.
Estamos, hoje, em um
momento de grande desenvolvimento tecnológico e, também, do lançamento de novas
medicações para tratamento não apenas do Parkinson, mas também de outras
doenças neurológicas. Em breve, esperamos contar no Brasil com o ultrassom
focado guiado por ressonância, que é uma ferramenta útil para tratar pacientes
com tremor essencial e, também, o tremor do Parkinson, de uma forma menos
invasiva.
Não só nos casos de
Parkinson, mas de todas as doenças
neurodegenerativas,
costumo lembrar, principalmente, que o fator humano da medicina é essencial. Os
pacientes precisam ter clareza da sua condição de saúde, apoio e suporte. Os
profissionais devem ser assertivos na transmissão de informação, no
entendimento das expectativas e das vontades do paciente e, principalmente, ter
empatia para compreender a série de emoções envolvidas nesse percurso.
Marcelo Valadares - neurocirurgião,
médico do Hospital Israelita Albert Einstein (SP) e pesquisador da Disciplina
de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp).
https://www.marcelovaladares.com.br
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