Pandemia ligou sinal de alerta para entidade, que defende aulas presenciais no segundo semestre deste ano para grupos que vivem em situação de vulnerabilidade
Em 2020, no primeiro ano da pandemia, mais de 116 milhões de brasileiros faziam parte do grupo de insegurança alimentar, sendo que 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes e 19 milhões passavam fome. Esta pesquisa, desenvolvida pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) tem soado como um alerta para Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), visto que uma boa alimentação é um pilar importantíssimo no tratamento do diabetes, tanto no tipo 1 e principalmente no tipo 2.
Segundo a Dra. Mônica Gabbay, médica endocrinologista e Coordenadora do departamento de Diabetes na Criança e no Adolescente da SBD, todo ser humano reage de maneira semelhante à fome, porém, na infância o impacto da desnutrição é maior. “A falta de nutrientes adequados afeta de maneira aguda o organismo dos pequenos, ocasionando fraqueza, mal-estar, queda do sistema imunológico e diminuição do rendimento escolar e cognitivo. A desnutrição proteica afeta o cérebro dessas crianças pelo resto da vida, diminuindo a capacidade para raciocino lógico e matemático”.
Quando se fala de diabetes, a grande dificuldade é no ajuste da dose de insulina. Para as crianças, a terapia para tratar o diabetes se chama Múltiplas Doses de Insulina, na qual o paciente recebe uma insulina basal constante e uma insulina rápida, antes das refeições, que dependerá da quantidade que essa criança come.
“Calculamos quanto de carboidrato tem naquela alimentação, para aplicar a dose adequada. Então, se essa criança não tem oportunidade de comer, temos que ajustar essas doses de insulina, dar em menos quantidade, tanto basal, quanto insulina bolus", esclarece Dra. Gabbay.
De acordo com a especialista, é de extrema importância que os jovens que vivem em um ambiente de insegurança alimentar voltem às aulas presenciais no segundo semestre deste ano. “Nas escolas, essas crianças vulneráveis têm a oportunidade de fazer uma refeição mais balanceada, especialmente se estudarem em tempo integral, ajudando no controle glicêmico”.
O crescimento da insegurança alimentar está também proporcionalmente relacionado à piora na qualidade de comida ingerida. De acordo com uma pesquisa do grupo Food For Justice, lançada em abril deste ano, nos lares em situação de insegurança alimentar, o consumo de alimentos saudáveis caiu 85% na pandemia.
O alto consumo de alimentos industrializados piora muito o controle glicêmico do indivíduo com diabetes, pois são alimentos com carboidratos rápidos, que geram um impacto importante na glicemia do paciente, aumentando o risco de complicações microvasculares no futuro, como cegueira, doença renal e lesões neuronais.
“Uma alimentação
pobre em carboidratos complexos e fibras (arroz integral, cereais, frutas) e
rica em açúcares simples e gorduras (alimentos industrializados como biscoitos
recheados, macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote), compromete a qualidade
de vida e, consequentemente, favorece maior risco de morbimortalidade,
principalmente por doenças cardiovasculares. Além disso, pessoas com uma maior
vulnerabilidade social, além da exposição à insegurança alimentar, apresentam
maior dificuldade na aquisição de insumos para o seu tratamento, como
medicamentos. Isto torna esse grupo ainda mais suscetível a complicações
decorrentes dessas doenças”, conclui a Dra. Tarcila Ferraz de Campos,
nutricionista da SBD.
SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes
www.diabetes.org.br
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