A escola tem papel fundamental na identificação de
sinais de depressão nas crianças
Falta de
concentração, sonolência, irritabilidade e isolamento podem ser mais facilmente
identificados por educadores e indicam alerta aos pais
Alterações no humor, tristeza, desânimo, choro
fácil, mudanças no apetite, perda ou excesso de sono, falta de prazer em
atividades que antes eram consideradas gostosas. Reconheceu o quadro? Trata-se
de algumas características do transtorno psiquiátrico chamado de depressão.
Geralmente associada aos adultos, a doença também pode acometer as crianças.
Segundo a psiquiatra infantil e pesquisadora Ana Kleinman, cerca de 2% das
crianças em idade pré-escolar e escolar sofrem de depressão. Esse número sobe
para 11,7% quando elas passam para a puberdade.
As crianças costumam ter mais dificuldades para perceber
e nomear o que sentem. Contudo, tanto em crianças, como em adolescentes, os
sinais são semelhantes aos dos adultos, com pequenas variações na forma com que
se apresentam. "Normalmente, as crianças tendem a ter mais irritabilidade
e podem, com frequência maior, apresentar conflitos no convívio familiar e
social”, explica a psiquiatra da infância e adolescência, Maria Aparecida Nunes
Fontana.
Saber se uma criança ou adolescente está com
depressão ou somente triste não é tarefa fácil, visto que não há um exame que
possa ser feito para diagnosticar a doença. Assim, observar as crianças para
saber quando procurar ajuda é essencial e, neste momento, contar com a ajuda da
escola pode fazer toda diferença. “A escola é certamente a maior parceira
da família neste processo. Dentro de sua rotina, ela oferece inúmeras
possibilidades de vivências que acabam oportunizando esta percepção, nem sempre
clara, para as famílias", explica Maria Aparecida.
"A escola é o local onde o aluno exercita a
socialização de forma mais intensa, principalmente com crianças da mesma idade,
pois muitas vezes convive apenas com adultos em sua vida familiar. A escola
exerce, então, um papel muito importante de observação, e precisa trazer esse
tema para as famílias de forma a orientar e alertar para sinais que muitas
vezes passam despercebidos”, esclarece Miriam Lourdes Zanatta, diretora do
Colégio Positivo Joinville, em Santa Catarina. Em abril, o Colégio convidou a
psiquiatra Maria Aparecida Nunes Fontana para debater o tema durante a
primeira edição do Papo em Família - encontro que será realizado mensalmente
com pais e especialistas para discutir temas relevantes ao universo escolar e
social.
Se o diagnóstico da depressão nem sempre é fácil,
os gatilhos, por sua vez, costumam se repetir. Segundo Maria Aparecida, ter
história familiar de depressão, usar excessivamente a internet, sofrer bullying,
uso de drogas, bem como conflitos familiares e divórcio dos pais são fatores
que aumentam o risco do desenvolvimento de uma depressão na infância. Crianças
e adolescentes diagnosticadas com a doença podem ter graves complicações ao se
tornarem adultos depressivos. "Eles correm mais risco de desenvolver
problemas como alcoolismo, uso abusivo de outras drogas e ansiedade",
alerta a psiquiatra.
Dessa forma, cuidar para que os pequenos vivam em
ambientes saudáveis pode ajudar a depressão a passar bem longe das crianças.
Contudo, se mesmo assim, a criança vir a sofrer deste mal, saiba que depressão
tem tratamento e, com paciência e acompanhamento adequado, é possível recuperar
a alegria e a qualidade de vida. “Na presença de depressão deve ser avaliado o
grau: (leve, moderado, grave) e os fatores (se houveram) que funcionaram como
gatilho. Num quadro mais leve, pode-se optar por atendimento psicológico ou,
dependendo da gravidade, além da terapia, associar uso de antidepressivos”, diz
a psiquiatra.
Vale lembrar que o não tratamento da depressão pode
agravar os sintomas e, em alguns casos, fazer com que crianças e adolescentes
adquiram até ideias suicidas. Portanto, é importante ficar atento aos sintomas
abaixo:
- humor deprimido;
- irritabilidade;
- medos;
- queda no rendimento escolar;
- perda do interesse na maioria das atividades ou incapacidade de sentir prazer nelas;
- dificuldade de raciocínio ou de concentração;
- falta ou excesso de apetite;
- diminuição ou aumento das necessidades de sono;
- ideias de culpa ou excessiva desvalorização de si mesmo;
- diminuição da atividade psicomotora;
- sensação de falta de energia;
- aumento da sensibilidade;
- ansiedade;
- baixa autoestima;
- sentimentos de culpa;
- sentimento de rejeição;
- isolamento;
- abandono de atividades que lhe agradavam até então;
- comportamentos de extrema obediência ou submissão;
- descuido pessoal e corporal;
- olhar muito tempo para o chão ou permanecer com postura arqueada;
- fala monótona ou devagar, com ausência de expressão e respostas monossilábicas;
- hipocondria;
- ideias de morte ou suicídio ou tentativas de suicídio.
Se a criança apresentar pelo menos cinco dos
sintomas citados em um período de pelo menos duas semanas, os responsáveis
devem procurar um psiquiatra infantil, que poderá definir o diagnóstico com
precisão após descartar outras condições clínicas capazes de provocar sinais
semelhantes. Mas é importante ressaltar que os sintomas nem sempre são
aparentes, pois crianças tendem a ter mais dificuldade de falar sobre o que
sentem, o que torna mais difícil o diagnóstico precoce. "Por isso, é
sempre bom procurar a escola e ver o que os educadores têm a dizer",
ressalta Maria Aparecida.
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