O
Brasil tem cerca de 1,1 milhão de advogados. A profissão, que já foi símbolo de
status e autoridade, hoje é colocada à prova. A morosidade da Justiça e os
inúmeros procedimentos burocráticos que envolvem a advocacia estão na iminência
de viverem uma grande transformação advinda das tecnologias exponenciais.
Recentemente,
cunhou-se o termo Lawtech, que define as startups focadas na criação de
soluções que atendam ao universo do direito. Segundo a AB2L - Associação Brasileira de LawTechs e LegalTechs, que já reúne 388
associados, esse é um segmento em franca expansão, que reúne soluções para as
mais variadas áreas do direito, como tributário, civil, trabalhista e
previdenciário.
Muitos escritórios, no Brasil e no mundo, já estão adotando a inteligência artificial para aumentar a
produtividade e eliminar o trabalho repetitivo. Esses robôs analisam processos,
fazem petições e aceleram contratos com uma velocidade infinitamente superior à
de um ser humano. Eles são capazes de fazer milhões de consultas em
jurisprudências em questão de segundos.
Entre os destaques brasileiros estão a Dra. Laura,
um robô que já leu mais de mil decisões judiciais e gerou novas peças para elas
em apenas dois minutos. Outra iniciativa é o
robô Tikal Tech, que interage com o advogado e, a partir das respostas, gera a
petição inicial para ações trabalhistas, chegando a calcular até o valor a ser
pedido na Justiça.
A
plataforma cognitiva da IBM, conhecida como Watson, também já está sendo usada por
escritórios de advocacia para resumir processos e agilizar o trabalho
burocrático de inúmeros advogados. A inteligência artificial traz maior
agilidade para os processos e desafoga os profissionais do trabalho repetitivo,
permitindo mais tempo para tarefas que exigem maior criatividade e pensamento
crítico.
E
a adoção dessas tecnologias não deve ficar restrita apenas aos escritórios de
advocacia. Na Estônia, o Ministério da Justiça anunciou a criação do primeiro “juiz
robô”, uma inteligência artificial que poderá ser usada para mediar pequenas
causas, com indenizações inferiores a 7 mil euros. A intenção é liberar os
juízes do país para se dedicarem a casos mais complexos.
As
análises preditivas, a capacidade cognitiva das máquinas e os algoritmos irão
facilitar o trabalho e trazer agilidade para os processos, podendo até reduzir
a morosidade do sistema jurídico brasileiro. No entanto, por mais positivo
que tudo isso pareça, muitos advogados estão se sentindo ameaçados.
Boa
parte desse comportamento repulsivo às inovações é decorrente da falta de
preparo desses profissionais para lidar com a tecnologia. O Brasil tem 1.406
faculdades de direito, contra cerca de 1.200 no mundo todo. A estimativa é que
até 2032, tenhamos mais de 2 milhões de profissionais formados.
Infelizmente,
boa parte dessas universidades não estão se adaptando à velocidade com que esse
mercado se transforma. São raras as que já incluem no currículo o
desenvolvimento de capacidades numéricas e matemáticas, além das chamadas soft
skills, que são as habilidades comportamentais voltadas à criatividade,
comunicação e senso crítico.
Dessa
forma, caberá aos próprios profissionais repensarem a profissão, buscando
alternativas viáveis para a execução de um direito preciso, ágil e realmente
eficiente. A busca por conhecimentos em áreas como Big Data e Machine Learning
será fundamental para o advogado do futuro. Um novo capítulo começa a ser
escrito na história do direito. Quem não se atentar às transformações,
inevitavelmente ficará para trás.
Marília Cardoso -
jornalista, professora e consultora de inovação na PALAS, consultoria de gestão
e inovação.
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