Estudo
revela que poucas meninas recebem as 3 doses de vacina contra o HPV
A vacina HPV pode ser
administrada simultaneamente com outras vacinas do Calendário Nacional de
Vacinação, sem interferências na resposta de anticorpos a qualquer uma das
vacinas
Segundo uma nova pesquisa, apenas
um terço das meninas adolescentes nos EUA recebeu as três doses da vacina
contra o papilomavírus humano (HPV). O estudo, apresentado em uma reunião da
Associação Americana de Pesquisa do Câncer, revelou também que a maioria das
pessoas para quem a vacina contra o HPV é relevante (ou seja, pessoas entre 9 e
26 anos, ou alguém que tenha um membro da família nessa faixa etária)
desconhece a eficácia da vacina.
Esta incerteza, alegam os
cientistas, pode influenciar a tomada de decisão sobre vacinar ou não o jovem,
o que dificulta a capacidade de reduzir a incidência de câncer de colo uterino
e a mortalidade provocada por este tipo de câncer.
Para realizar o estudo, os
pesquisadores analisaram dados de 3.551 adultos.
Desse total, 1.417 deveriam tomar a vacina contra o HPV. Apenas 33% das
meninas adolescentes receberam as três doses da vacina. Mulheres negras,
hispânicas e de baixa renda foram as menos propensas a receber a vacina.
70% dos pesquisados disseram que
não tinham certeza sobre a eficácia da vacina na prevenção do colo do útero e apenas
25% disseram que haviam tido uma conversa com seus médicos sobre a vacina.
Os
resultados sugerem que a comunicação sobre a vacinação do HPV e as mensagens
precisam de refinamento para destacar claramente a eficácia da vacina e podem
ser necessárias estratégias direcionadas para atingir pessoas com diferentes
níveis educacionais.
Tanto lá
como aqui...
“Desde o
dia 10 de março estamos com uma campanha de vacinação pública visando vacinar
meninas entre 11-13 anos contra o HPV. Considerando que o HPV é conhecido por
causar câncer cervical anal e vulvar, a disponibilização dessa vacina na rede
pública de saúde é de extrema importância”, afirma o pediatra e homeopata
Moises Chencinski (CRM-SP 36.349).
Conversamos
com o médico sobre o tema e a importância da vacina para as adolescentes.
Confiram:
01) No Brasil
existem dois tipos de vacina HPV. Qual a diferença entre elas?
Moises
Chencinski -
Até o momento foram desenvolvidas e registradas duas vacinas HPV. A vacina
quadrivalente recombinante, que confere proteção contra HPV tipos 6, 11, 16 e
18, e a vacina bivalente que confere proteção contra HPV tipos 16 e 18. A
vacina quadrivalente está aprovada no Brasil para prevenção de lesões genitais
pré-cancerosas do colo do útero, de vulva e de vagina em mulheres, e anal em
ambos os sexos, relacionadas aos HPV 16 e 18, e verrugas genitais em mulheres e
homens, relacionadas aos HPV 6 e 11. A vacina bivalente está aprovada
para prevenção de lesões genitais pré-cancerosas do colo do útero em mulheres,
relacionadas aos HPV 16 e 18. Essas vacinas têm cobertura para faixas etárias
distintas. A vacina quadrivalente tem indicação para mulheres e homens entre 9
e 26 anos de idade. A vacina bivalente tem indicação para mulheres a partir de
9 anos, sem restrição de idade.
02) Como a
vacina HPV funciona?
Moises
Chencinski -
Estimulando a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV. A
proteção contra a infecção vai depender da quantidade de anticorpos produzidos
pelo indivíduo vacinado, a presença desses anticorpos no local da infecção e a
sua persistência durante um longo período.
03) A vacina
HPV pode causar infecção pelo vírus? Como ela é feita?
Moises
Chencinski -
Não. No desenvolvimento da vacina quadrivalente conseguiu-se identificar a
parte principal do DNA do HPV que o codifica para a fabricação do capsídeo
viral (parte que envolve o genoma do vírus). Depois, usando-se um fungo (Sacaromices
cerevisiae), obteve-se apenas a “capa” do vírus, que em testes preliminares
mostrou induzir fortemente a produção de anticorpos quando administrada em
humanos. Essa “capa” viral, sem qualquer genoma em seu interior, é chamada de
partícula semelhante a vírus (em inglês, vírus like particle – VLP). O
passo seguinte foi estabelecer a melhor quantidade de VLP e testá-la em
humanos, na prevenção de lesões induzidas por HPV. No caso das VLP, elas imitam
o HPV, fazendo com que o organismo identifique tal estrutura como um invasor e
produza contra ele um mecanismo de proteção.
04) Por que o
Ministério da Saúde estabeleceu a faixa etária de 9 a 13 anos para a vacinação?
Moises
Chencinski -
Nas meninas entre 9 e 13 anos não expostas aos tipos de HPV 6, 11 16 e 18, a
vacina é altamente eficaz, induzindo a produção de anticorpos em quantidade dez
vezes maior do que a encontrada em infecção naturalmente adquirida em um prazo
de dois anos. A época mais favorável para a vacinação é nesta faixa etária, de
preferência antes do início da atividade sexual, ou seja, antes da exposição ao
vírus. Estudos também verificaram que nesta faixa etária a vacina quadrivalente
induz melhor resposta quando comparada em adultos jovens, e que meninas
vacinadas sem contato prévio com HPV têm maiores chances de proteção contra
lesões que podem provocar o câncer uterino.
05) Quantas
doses são necessárias para a imunização?
Moises
Chencinski -
O esquema completo de vacinação é composto de três doses. O esquema normal da
vacina (0, 2 e 6 meses) é 1ª dose, 2ª dose após dois meses e 3ª dose após seis
meses. No entanto, o Ministério da Saúde adotará o esquema estendido (0, 6 e 60
meses): 1ª dose, 2ª dose seis meses depois, e 3ª dose cinco anos após a 1ª dose
06) A vacina
é administrada por via oral ou é injeção?
Moises
Chencinski -
É administrada por via intramuscular: injeção de apenas 0,5 ml em cada dose.
07) Meninas
que já tiveram diagnóstico de HPV podem se vacinar?
Moises
Chencinski -
Sim. Existem estudos com evidências promissoras de que a vacina previne a
reinfecção ou a reativação da doença relacionada ao vírus nela contido.
08) É necessário
fazer o exame para pesquisa de HPV antes de tomar a vacina?
Moises
Chencinski -
Não. A realização dos testes de HPV não é condição prévia ou exigência para a
vacinação.
09) A
proteção da vacinação dura a vida toda?
Moises
Chencinski -
A duração da imunidade conferida pela vacina ainda não foi determinada,
principalmente pelo pouco tempo em que é comercializada no mundo (2007). Até o
momento, só se tem convicção de próximo de 9 anos de proteção. Na verdade,
embora se trate da mais importante novidade surgida na prevenção à infecção
pelo HPV, ainda é preciso aguardar o resultado dos estudos em andamento em mais
de 20 países para delimitar qual é o seu alcance sobre a incidência e a
mortalidade do câncer do colo de útero, bem como fornecer mais dados sobre a
duração da proteção e necessidade de dose(s) de reforço.
10) A
vacinação contra HPV substituirá o exame de Papanicolau?
Moises
Chencinski -
Não. É importante lembrar que a vacinação é uma ferramenta de prevenção
primária e não substitui o rastreamento do câncer do colo de útero em mulheres
na faixa etária entre 25 e 64 anos. Assim, as meninas vacinadas só terão
recomendação para o rastreamento quando alcançarem a faixa etária preconizada
para o exame Papanicolau e já tiverem vida sexual ativa. É imprescindível
manter a realização do exame preventivo (exame de Papanicolau), pois as vacinas
protegem apenas contra dois tipos oncogênicos (causadores de câncer) de HPV,
responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo de útero. Ou seja,
30% dos casos de câncer causados pelos outros tipos oncogênicos de HPV vão
continuar ocorrendo se não for realizada a prevenção secundária, ou seja, pelo
rastreamento (exame Papanicolau).
11) Mesmo
vacinada, será necessário utilizar preservativo durante a relação sexual?
Moises
Chencinski -
Sim, pois é imprescindível manter a prevenção contra outras doenças
transmitidas por via sexual, tais como HIV, sífilis, hepatite B, C, etc. Uma
pessoa vacinada ficará protegida contra alguns tipos de HPV contidos na vacina:
na vacina bivalente contra os HPV 16 e 18 e na vacina quadrivalente contra os
HPV 6, 11, 16 e 18. No entanto, existem mais de 150 tipos diferentes de HPV,
dos quais 40 podem infectar o trato genital. Destes, 12 são de alto risco e
podem provocar câncer e outros podem causar verrugas genitais. Além disso, vale
lembrar que não é necessário haver o ato sexual para que haja a transmissão do
papilomavírus. O contato genital (pele) pode ser responsável pela transmissão
também em cerca de 5 a 10% dos casos.
12) A vacina
HPV pode ser administrada concomitantemente com outra vacina?
Moises
Chencinski -
A vacina HPV pode ser administrada simultaneamente com outras vacinas do
Calendário Nacional de Vacinação, sem interferências na resposta de anticorpos
a qualquer uma das vacinas. Quando a vacinação simultânea for necessária, devem
ser utilizadas agulhas, seringas e regiões anatômicas distintas.
13) A vacina
HPV provoca algum efeito colateral (evento adverso)?
Moises
Chencinski -
A vacina HPV é uma vacina muito segura, desenvolvida por engenharia genética,
com a ocorrência de eventos adversos leves como dor no local da aplicação,
inchaço e eritema. Em casos raros, pode ocasionar dor de cabeça, febre de 38°C
ou mais e síncope (ou desmaios). A síncope mais frequente em adolescentes e adultos
jovens é a síncope vasovagal, particularmente comum em pessoas com alguma
particularidade emocional. Geralmente, há algum estímulo desencadeante como dor
intensa, expectativa de dor ou um choque emocional súbito. Vários fatores, tais
como jejum prolongado, medo da injeção, locais quentes ou superlotados,
permanência de pé por longo tempo e fadiga podem aumentar a probabilidade de
sua ocorrência. É importante ressaltar que a ocorrência de desmaios durante a
vacinação contra HPV não está relacionada à vacina especificamente, mas sim ao
processo de vacinação, que pode acontecer com a aplicação de qualquer produto
injetável (ou injeção).
14) Qual a
composição da vacina HPV?
15)
Moises
Chencinski -
A vacina recombinante é composta pelos tipos HPV 6, 11, 16 e 18, tendo como
adjuvante o sulfato de hidroxifosfato de alumínio amorfo. Não contém
conservantes, nem antibióticos.
16) Quantos
países no mundo já introduziram a vacina HPV?
Moises
Chencinski -
Segundo dados da OMS, até maio de 2013 a vacina HPV havia sido introduzida em
51 países como estratégia de saúde pública. Neste grupo, destacam-se a Antiga
República Jugoslava da Macedónia, Alemanha, Argentina, Austrália, Áustria,
Bélgica, Butão, Brasil*, Brunei, Canadá, Colômbia, Darussalam, Dinamarca,
Eslovénia, Espanha, Estados Unidos da América, Fiji, França, Grécia, Ilhas
Cook, Holanda, Ilhas Marshall, Irlanda, Irlanda do Norte, Islândia, Israel,
Itália, Japão, Kiribati*, Letónia, Lesoto, Luxemburgo, Malásia, México,
Micronésia (Estados Federados da), Nova Zelândia, Noruega, Palau, Panamá,
Paraguai, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha, República Checa, Ruanda, San
Marino, Singapura, Suécia, Suíça, Trinidad e Tobago, Uganda*, Uruguai.
*Introdução
parcial.
17) Caso
alguma adolescente inicie o esquema na rede pública, mas decida tomar a segunda
dose aos dois meses na rede privada, ela poderá tomar a terceira dose aos seis
meses na rede pública?
Moises
Chencinski -
Sim, a adolescente poderá tomar até duas doses na rede pública, no intervalo de
até um ano.
18) Se a
adolescente tiver feito a primeira dose na rede privada antes da campanha ela
pode completar o esquema na rede pública?
Moises
Chencinski -
Sim, a adolescente poderá tomar até duas doses na rede pública, no intervalo de
até um ano.
19) As
adolescentes podem tomar a vacina sem a autorização dos pais?
Moises
Chencinski -
Em toda a atenção à saúde de adolescentes devem ser levados em consideração os
fundamentos da ética, privacidade, confidencialidade e sigilo. Esses princípios
reconhecem os adolescentes (na faixa etária de 10 a 17 anos de idade) como
sujeitos capazes de tomarem decisões de forma responsável. Sendo assim, não há
necessidade de autorização dos pais ou responsáveis para receber qualquer
vacina nos postos de saúde. No entanto, por se tratar de uma importante ação de
saúde pública e ter como estratégia a vacinação nas escolas, aqueles pais que
se recusarem a permitir que seus filhos sejam vacinados nas escolas deverão
preencher o Termo de Recusa de vacinação contra HPV e enviar para a escola
durante o período em que ocorrer a vacinação nestas localidades. Os pais devem
receber uma comunicação da escola e da secretaria de saúde municipal informando
sobre os dias em que será realizada a vacinação no local em que o seu filho
estuda.
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