Dia Mundial da Água: Projeto aposta em professores de escolas
públicas para a preservação das águas
Projeto Rios Voadores quer conscientizar crianças e adolescentes de todo o País sobre a importância de preservar as florestas para proteger as águas
O
fenômeno denominado “rios voadores”, massas de ar úmido que trazem vapor de
água da Amazônia para outras regiões do Brasil e da América do Sul, é a
inspiração de uma nova campanha educacional que será lançada pelo Projeto
Rios Voadores na próxima sexta (21/3), na Escola da Natureza, em
Brasília (DF). A iniciativa, patrocinada pela Petrobras, através do Programa
Petrobras Socioambiental, consiste em transformar conteúdo científico e ambiental
em material de fácil compreensão do público jovem e infantil por meio da
capacitação de professores da rede pública de ensino. A distribuição de
material didático específico conta com uma novidade: o livro Rios que voam,
de Yana Marull. O objetivo é despertar a conscientização de crianças e
adolescentes sobre o papel das florestas – e de cada árvore – na preservação
das águas doces do Brasil. No dia 22 de março é comemorado o Dia Mundial da
Água.
O
projeto teve início em 2007, com a ideia de aproximar o público em geral aos
resultados de pesquisas científicas (em curso há três décadas) sobre a floresta
amazônica e o regime de chuvas no Brasil. Numa parceria com cientistas
brasileiros renomados, como os professores Enéas Salati e Antonio Nobre, o piloto
aventureiro Gérard Moss percorreu principalmente a Amazônia e o Centro-Oeste
coletando amostras de vapor de água em um pequeno avião adaptado. A análise das
amostras no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) teve o objetivo de
levantar mais dados técnicos sobre os rios voadores oriundos da Amazônia,
conhecidos assim devido ao enorme volume de água que transportam na forma de
vapor. A umidade provem da evapotranspiração das árvores da floresta amazônica
(com 5,5 milhões de km²), e tem forte impacto no clima do Brasil.
Educação ambiental
Segundo
o piloto e ambientalista Gérard Moss, diretor do Projeto Rios Voadores que
promove oficinas de formação para professores de escolas públicas sobre o tema
desde 2011, o interesse em assuntos ambientais começa com crianças cada vez
menores. Justamente para abraçar também o público infanto-juvenil, o projeto
vai capacitar professores com materiais exclusivos direcionados às crianças.
Através dos professores, o projeto multiplica o conhecimento e gera esperança
na conservação das florestas e das águas do Brasil. Serão beneficiados alunos
desde a educação infantil até o ensino médio. Nestas primeiras oficinas, cerca
de 200 professores (das disciplinas de ciências e geografia) serão capacitados
no DF em parceria com a Escola da Natureza.
“Com
o lançamento do livro Rios que voam, temos agora um material colorido e
cativante para as crianças pequenas. Nossa meta é alcançar milhares delas,
principalmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, mas também em outras regiões
do Brasil. Nossa intenção é que até mesmo os pequenininhos entendam e sejam
mais conscientes da importância da floresta, e mesmo da árvore em frente à sua
casa, que também faz sua parte para fornecer vapor de água para a atmosfera”,
diz Gérard, que acompanhou o treinamento de 625 professores em ações anteriores
do projeto, os quais repassaram a matéria para mais de 80 mil alunos nos
últimos três anos.
País de água
Para
o aventureiro suíço, naturalizado brasileiro, que ficou conhecido em todo
Brasil por ser o primeiro piloto a dar a volta ao mundo em um motoplanador,
apesar da decepção com a falta de comprometimento do mundo com a Rio+20, o
Brasil possui vantagem em relação à sustentabilidade. No entanto, é preciso
mais informação e conscientização entre seus próprios cidadãos.
“O Brasil é o país campeão
de chuvas no mundo (com o volume de 15.200 km³ de água por ano) graças à
existência de dois elementos: a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes. A
evapotranspiração das árvores da floresta lança vapor de água para a atmosfera.
As massas de ar úmido, ou rios voadores, são empurradas ao oeste e encontram a
barreira natural da cordilheira, onde são desviadas rumo ao sul.”, explica.
“Da mesma forma que todos
conhecem as peculiaridades climáticas da sua respectiva região (época das
chuvas ou da estiagem), é importante que entendam a dinâmica que influencia o
clima do país e sua sustentabilidade. O Brasil é um país de água, mas em certas
regiões, não podemos nos dar o luxo de desperdiçá-la. Onde não há água
suficiente, pelo motivo que for, precisamos dar mais valor e respeito a ela e à
vegetação”, avalia Gérard, ao destacar que uma árvore de grande porte da
Floresta Amazônica é capaz de produzir mais de mil litros de água por dia.
Para o piloto de 58 anos,
o Dia Mundial da Água significa não somente refletir sobre o uso da água, mas
comemorar a existência da Floresta Amazônica, que funciona como uma imensa
bomba d’água. “Temos que reconhecer o papel da floresta no conforto das nossas
vidas, mesmo para quem vive bem longe da Bacia Amazônica. No Brasil, temos o
luxo de abrigar a maior floresta tropical do mundo no nosso quintal, e vale a
pena refletir sobre as consequências sérias que seria perdê-la para sempre”,
comenta.
“A agricultura em outros países grandes, como a China e os Estados Unidos, não é sustentável porque depende bastante de água do subsolo, bombeada de profundidades cada vez maiores, para irrigar o cultivo. No Brasil, apenas 5% da agricultura usam irrigação mecanizada e 95% se beneficiam das chuvas que caem gratuitamente do céu. Devemos dar mais valor à abundância de chuva que temos no Brasil, pensando no futuro e preservando a floresta que fornece uma boa parte da umidade que se transforma em precipitações. Vale a pena derrubar as árvores para eventualmente, um dia, ficar com escassez de água? Acho que o Brasil é o único país do planeta que, em longo prazo, seja capaz de fornecer alimentos para países como a China e a Índia, com acelerado crescimento populacional e sem os recursos de água que nós temos.”, conclui.
Aprendizado lúdico
Para
a diretora da Escola da Natureza, Lêda Bhadra, a parceria com o projeto tem
sido satisfatória tanto para alunos quanto para professores de Brasília. Segundo
ela, a iniciativa faz toda a diferença no aprendizado. Desde 1997, a escola é
voltada para o atendimento de professores, alunos e projetos ligados ao tema
ambiental, com atividades diárias.
“Com
esse tipo de iniciativa o professor se sente mais seguro e com mais propriedade
para trabalhar, e de forma diversificada e lúdica com seus alunos. É uma
oportunidade de trabalhar de forma diferenciada e sair um pouco do comum, com
um material que é bastante rico”, afirma.
Livro Rios que Voam
O
livro infanto-juvenil Rios que Voam traz em suas 24 páginas
ilustrações divertidas e textos enxutos que explicam o fenômeno dos rios
voadores e seu impacto na relação com o ser humano e a natureza. Escrito e
ilustrado pela jornalista Yana Marull, que possui experiência na cobertura de
matérias comportamentais e sobre o meio ambiente, a obra também conta com
colaboração de Margi Moss. Além de reflexões sobre a conservação da água e das
florestas, o livro traz ainda curiosidades diversas como, por exemplo, como
ocorre o processo de evaporação da água, a formação das nuvens e da chuva.
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