“O descanso também precisa ter ritmo”, afirma Valma Souza, diretora do PB Colégio e Curso
A
cena se repete em muitas casas quando chegam as férias: o adolescente vira a
noite vendo série, conversando com amigos, jogando ou simplesmente aproveitando
a liberdade que não tem durante o ano letivo. Acorda mais tarde, perde a noção
do relógio e reorganiza o corpo do jeito que quer. Para os pais, surge a dúvida
clássica: até onde isso é normal?
Para
Valma Souza, diretora do PB Colégio e Curso, o fenômeno
é natural. O corpo do adolescente funciona em outro ritmo biológico,
especialmente entre os 13 e os 17 anos. A diferença é que, durante o ano
letivo, a escola obriga um horário. Nas férias, o corpo escolhe seu próprio
tempo. “O adolescente aproveita a primeira janela real de liberdade. Ele não
está sendo preguiçoso. Está regulando o corpo como o corpo dele naturalmente
funciona nessa fase”, explica.
Valma
destaca que parte da tendência de dormir tarde vem das mudanças hormonais
típicas da adolescência, que alteram o ciclo circadiano e empurram a sonolência
para mais tarde. Com isso, o jovem passa a ter mais energia no fim do dia e
menos no início da manhã, algo incompatível com o calendário escolar, mas
totalmente compatível com as férias.
O ponto de atenção
Para
a especialista, o problema não é dormir tarde. O problema é perder o ritmo ao
ponto de prejudicar humor, convivência, alimentação e disposição. Quando a
rotina vira caos, o corpo sente e a irritabilidade aparece. “As férias pedem
descanso, não desregulação completa. O adolescente pode se ajustar, mas precisa
de um fio de ritmo, nem que seja mínimo”, orienta Valma.
Ela
reforça que impor regras rígidas não funciona. O adolescente interpreta como
controle. Por isso, o caminho mais saudável é trabalhar com acordos e
previsões, nunca com imposições.
Como ajustar sem transformar em conflito
Valma
sugere que os pais evitem brigas diretas sobre sono e, em vez disso, criem
pequenas âncoras na rotina: uma atividade pela manhã em alguns dias, refeições
em horários combinados, luz natural entrando no quarto, convites para programas
leves fora de casa. O objetivo não é fazer o adolescente acordar cedo todos os
dias, mas evitar que o relógio biológico se distancie demais da vida real.
Ela também explica que o ajuste para o novo ano letivo acontece melhor de forma progressiva.
“Se a família tenta virar o relógio do adolescente de um dia para o outro, vira
um campo de batalha. Se começa com 20 ou 30 minutos de ajuste por dia, o corpo
acompanha sem sofrimento”, afirma.
Quando o sono vira sinal de outra coisa
Dormir
demais ou muito tarde pode, em alguns casos, indicar cansaço emocional
acumulado. Nas férias, o adolescente finalmente encontra espaço para
desacelerar depois de um ano intenso. Por isso, observar comportamento, humor e
apetite é tão importante quanto observar o relógio.
Estratégias que ajudam a recuperar o equilíbrio do sono
Valma
explica que ajustar o sono nas férias não é sobre “disciplinar” o adolescente,
mas sobre criar um ambiente que o corpo dele aceite com mais naturalidade.
Algumas ações simples que funcionam bem nessa fase:
•
Incentivar luz natural pela manhã para ajudar o corpo a despertar sem pressão.
•
Manter refeições em horários minimamente regulares.
•
Propor atividades leves fora de casa, que ajudam a marcar o dia.
•
Estimular pausas à noite para desacelerar antes de dormir.
•
Fazer o ajuste para o ano letivo de forma gradual, nunca abrupta.
Para Valma, o ponto central é olhar para o adolescente com compreensão, e não
com cobrança.
“Quando entendemos que o corpo do jovem opera em outro ritmo, conseguimos
estabelecer acordos mais leves e eficientes. Não é sobre controlar o sono. É
sobre ajudá-lo a voltar ao ritmo sem sofrimento”, conclui Valma
Souza, diretora do PB Colégio e Curso.
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