“Eles querem a gente”, diz a educadora e mãe, Kassula Corrêa que explica como transformar o cotidiano em momentos de vínculo e memórias afetivas duradouras
Como se conectar de verdade com os filhos em tempos de
telas
Entre rotinas aceleradas, trabalho, tarefas escolares e a presença constante
das telas, muitas famílias têm sentido dificuldade em realmente se conectar
com os filhos. Mas será que o que os pequenos mais querem cabe
em um cronograma apertado? Para a educadora e mãe Kassula
Corrêa, a resposta é simples: “eles querem a gente”. Presença,
tempo de qualidade, olho no olho.
“Mais
do que qualquer brinquedo ou programa elaborado, nossos filhos pedem a nossa
atenção. Precisamos resgatar o vínculo que nasce nas pequenas convivências do
dia a dia”, afirma Kassula, diretora do grupo STG e diretora regional da Start Anglo
Bilingual School no Rio de Janeiro.
Com
mais de 20 anos de experiência na área da educação, Kassula acompanha
diariamente famílias e estudantes de diferentes idades. E, apesar da tecnologia
ocupar um espaço cada vez maior na infância, ela garante: as crianças continuam
amando o brincar simples, o convívio em família e a sensação de estarem sendo
vistas.
“A
gente percebe isso nas escolas. Quando abrimos espaço para jogos coletivos,
rodas de conversa ou até atividades ao ar livre, o brilho nos olhos aparece. A
criança sente falta do contato humano, de estar junto. Isso não mudou, mesmo em
tempos de telas”, conta.
O desafio dos pais em tempos digitais
Uma
pesquisa da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Datafolha,
revelou que entre crianças de 4 a 6 anos, 94% estão expostas diariamente
a telas (TV, tablets, celulares). O dado é preocupante, já que
a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda o máximo de 1 hora por
dia de uso recreativo nessa faixa etária.
Equilibrar
o digital com experiências reais é, segundo Kassula, um dos maiores desafios da
parentalidade atual. “Não precisamos demonizar as telas, elas fazem parte da
nossa vida. Mas vínculos verdadeiros e memórias afetivas só nascem no contato
humano. Quando um pai se senta no chão para brincar, cozinha junto ou propõe um
passeio ao ar livre, ele está dizendo: ‘eu estou aqui por inteiro’”,
reforça.
Essa
presença não é apenas simbólica: tem impacto real na formação emocional e acadêmica.
Estudos na área de desenvolvimento infantil apontam que crianças que convivem
com pais atentos e presentes desenvolvem mais autoconfiança, concentração e
habilidades sociais.
Mais presença, menos performance
Para
Kassula, o convite é simples: menos consumo, mais conexão. “Claro
que momentos especiais podem incluir um passeio, uma sobremesa favorita ou um
jogo novo, mas a memória que fica é outra. Nossos filhos vão lembrar do bolo
que fizeram juntos, do piquenique improvisado, da cabaninha na sala. É nesses
momentos que eles se sentem pertencentes, acolhidos e amados”, explica.
Ela
sugere formas simples de fortalecer o vínculo no dia a dia:
- Tempo de qualidade:
desligue o celular e dedique algumas horas exclusivas só para brincar ou
conversar sem interrupções.
- “Dia do Sim”:
proponha que seu filho escolha a programação de um dia da semana,
reforçando seu protagonismo.
- Contato com a natureza: um
passeio, piquenique, bicicleta ou só observar um jardim, tudo isso reforça
vínculo e calma.
- Atividades criativas:
inventar histórias, fazer teatro caseiro ou construir algo manualmente
estimula imaginação e parceria.
Kassula
complementa com mais algumas ideias simples, mas que fazem a diferença:
- Ler um livro juntos e conversar sobre a história.
- Preparar uma receita em família e dividir as tarefas.
- Jogar um jogo de tabuleiro ou montar um quebra-cabeça.
- Criar uma cabaninha com lençóis na sala.
- Montar uma cápsula do tempo com bilhetes, desenhos e fotos.
“Não
é sobre criar um grande evento ou gastar muito dinheiro. É sobre estar ali, de
corpo inteiro, mostrando para o seu filho que ele importa. São nesses momentos
que a infância acontece de verdade, e são eles que ficam na memória para
sempre”, finaliza Kassula Corrêa.

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