Criar aplicações
completas apenas com comandos em linguagem natural, sem depender da codificação
tradicional. É o que promete a Salesforce com a nova feature
do ecossistema Agentforce, o Vibes. Trata-se de um grande avanço para
desenvolvedores e, para quem vive o dia a dia de arquiteturas de tecnologia,
essa novidade representa um divisor de águas rumo a um futuro em que a barreira
entre intenção e execução técnica fica cada vez mais tênue. Mais do que isso:
essa inovação representa um salto significativo na democratização do
desenvolvimento de software, tornando a criação de soluções tecnológicas
acessível a um público muito mais amplo.
O Agentforce Vibes
foi um dos destaques que vi no Dreamforce 2025, realizado no mês em San
Francisco (EUA). Mas não foi o único: a feature é parte de uma expansão
significativa do ecossistema de agentes de Inteligência Artificial (IA) dentro
da plataforma Salesforce. Ficou claro que a empresa levou os agentes a um novo
estágio, conectando-os de ponta a ponta em todas as nuvens – Sales, Service,
Marketing, Industries, Data e até Mulesoft. Essa integração reforça a visão de
um “Enterprise Agentic” (“Empresa Agêntica”): agentes capazes de atuar
simultaneamente na análise de dados, automação de jornadas e execução
operacional, sempre ancorados por camadas robustas de segurança e governança.
Ao observar essas
novidades com o olhar de quem implementa soluções complexas para clientes, noto
que o impacto imediato está na velocidade. O Vibes acelera a construção de
fluxos, automações e aplicativos; já os agentes conectados ao Data Cloud (agora
Data 360, sim, eles rebatizaram novamente) elevam a capacidade de recomendação
e previsão. Isso significa que, a curto prazo, empresas podem acelerar entregas
internas; a médio prazo, poderão redesenhar processos inteiros; e a longo
prazo, caminham para experiências realmente preditivas, com decisões tomadas
quase em tempo real.
No universo de CX
e UX, as possibilidades são igualmente transformadoras. Agentes de IA
conectados ao comportamento do usuário podem gerar insights
instantâneos: recomendar ofertas com base no que o cliente está fazendo naquele
exato momento no aplicativo, sugerir o melhor próximo passo para uma venda
complexa ou antecipar problemas de atendimento antes que se tornem chamados.
Tudo isso sem exigir que o usuário perceba a complexidade por trás da operação.
O Agentforce atua como uma camada invisível que torna cada interação mais
fluida, relevante e contextual.
Para os times de
atendimento, especialmente em ambientes Salesforce Service Cloud, o salto
também é expressivo. Agentes conseguem “ouvir” conversas em tempo real,
identificar o contexto e oferecer sugestões precisas ao agente humano – desde
informações sobre o cliente até respostas recomendadas e próximos passos
baseados em dados históricos. É como trabalhar ao lado de um assistente incansável,
sempre atento e alinhado às políticas da empresa graças ao Trust Layer, que
garante guardrails rígidos para evitar alucinações e decisões
indevidas.
Do ponto de vista
da integração, o papel de Mulesoft ganha força. Agentes agora ajudam a orquestrar
fluxos entre sistemas, sugerem correções quando detectam picos de erro em APIs
e contribuem para uma governança mais inteligente. A Salesforce evoluiu sua
proposta para um estado “near real time”, permitindo que dados capturados no
app ou no site alimentem decisões dinâmicas – algo essencial para empresas de
telecom, seguros, bancos ou qualquer setor onde a jornada digital é contínua.
Mas, talvez, o
ponto mais estratégico para os próximos anos seja a democratização do
desenvolvimento. O Vibes, por exemplo, permite que profissionais de negócio
descrevam suas intenções e obtenham aplicações funcionais em minutos. Isso não
elimina equipes técnicas, mas redefine seu papel. Consultorias e especialistas
continuarão essenciais para conectar estratégia, requisitos e arquitetura.
Porém, com um salto de produtividade comparável à passagem da programação em
baixo nível para linguagens modernas como Python. É um momento de
reorganização, não de substituição.
Olhando pela
perspectiva do consumidor final, o impacto é direto e inevitável. A promessa é
de produtos e serviços mais personalizados, atendimentos mais rápidos,
experiências mais intuitivas e serviços digitais que aprendem com o
comportamento de cada cliente, em um mundo onde a tecnologia finalmente cumpre a
promessa de colocar verdadeiramente o cliente no centro das operações
empresariais. Do banco ao varejo, passando por seguros e telecom, todos devem
sentir nos próximos anos essa evolução gradual – primeiro com interação
assistida, depois com jornadas automatizadas e, finalmente, com experiências
verdadeiramente inteligentes e proativas.
Cabe aos
executivos de tecnologia aceitarem o desafio atual, que envolve menos sobre
capacidade tecnológica e mais sobre governança de dados, mudança cultural e
redesenho de processos. É esta a fundação para a próxima década do CRM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário