Com uma
semana de atraso do Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as
Mulheres (25/11), vimos uma sucessão de casos graves de feminicídio e novas
pesquisas sobre o aumento da violência doméstica. Mas também nos deparamos com
notícias na contramão desse cenário: o governo criou uma pensão especial para
filhos de vítimas de feminicídio, paga pelo INSS, garantindo um salário mínimo
mensal até os 18 anos mediante requisitos de renda e comprovação do crime. O
benefício, previsto para iniciar em dezembro de 2025, foi regulamentado pelo
Decreto nº 12.636/2025.
O Congresso
também tem promovido alterações na Lei Maria da Penha, como a Lei nº
15.125/2025, que permite a monitoração eletrônica do agressor durante medidas
protetivas. Além disso, 6 de dezembro marcou o Dia Nacional de Mobilização dos
Homens pelo Fim da Violência Contra as Mulheres (Lei 11.489/2007), reforçando a
corresponsabilidade masculina.
Apesar de
todos esses avanços, ainda falamos muito pouco da violência contra a mulher no
ambiente de trabalho. Basta começar pelo que se espera de um colaborador
“normal”: ser pontual, entregar mais do que o esperado, vestir a camisa. Mas e
de uma colaboradora? Acrescente: vestir-se de forma “adequada”, “ser forte”,
encarar tudo “como um homem”. Não se ausentar em crises menstruais. Fazer vista
grossa para comentários e comportamentos inadequados.
Em muitos
ambientes, espera-se que mulheres deixem parte de quem são na porta e entrem
descomplicadas, neutras e produtivas. É desse padrão de exigência e silêncio
que nasce boa parte da violência que enfrentam no trabalho.
E essa
violência não é só o assédio. Às vezes, é a reunião em que se tenta falar e não
consegue. O chefe que sabe como desestabilizar. O olhar que diminui. A promoção
que não vem. O salário menor que o do colega homem.
Para quem
já precisou sobreviver a outros medos, cada microagressão desperta gatilhos que
não desligam facilmente. E é aqui que a violência encontra o burnout. Pesquisas
recentes mostram que trabalhadores expostos à violência psicológica têm risco
significativamente maior de desenvolver burnout. Não é difícil entender o
porquê: quando o corpo aprende a sobreviver, não relaxa mais; a mente se
acostuma a mapear perigos; o ambiente reforça a sensação de desproteção; a
exaustão deixa de ser fase e vira modo de existência.
Numa semana
em que falamos tanto das agressões explícitas, é preciso lembrar que muitas
mulheres adoecem silenciosamente em empresas que não reconhecem a violência que
se infiltra nas entrelinhas, nos aspectos moral, emocional e institucional. O
ambiente de trabalho segue sendo um dos espaços onde a violência contra
mulheres se reproduz com mais sutileza e menos responsabilização. Reconhecer
isso não é fragilidade. É responsabilidade corporativa.
Ao lembrar
que violência também se mede em interrupções, silenciamentos e pequenas erosões
diárias da nossa voz, podemos construir ambientes seguros, lutando por
dignidade, autonomia e futuro.
No 25/11, no 06/12 e em todos os outros dias do ano, falar sobre isso é permitir que mulheres existam inteiras, sem esconder traumas ou viver no silêncio. Que o trabalho deixe de ser território de sobrevivência e possa, finalmente, ser um espaço de vida.
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