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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

2026: diesel em baixa no mundo, mas a queda no Brasil é incerta


A U.S. Energy Information Administration (EIA), agência dos Estados Unidos responsável por monitorar o setor de energia, projeta que o preço médio do diesel nos Estados Unidos será de US$3,50 por galão em 2026, o que representa uma queda de cerca de 4% em relação a 2025. Essa expectativa reflete, principalmente, a tendência de baixa no custo do petróleo bruto, além de ajustes nas margens de refino e nos padrões globais de demanda.

 

A agência também prevê uma queda de aproximadamente 20% no preço do barril de petróleo Brent em 2026, com média anual estimada em US$55. Essa tendência está ligada ao aumento dos estoques globais, à desaceleração da demanda por petróleo e à expansão da oferta liderada pelos países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (OPEP+).

 

Mesmo assim, ainda que os preços do diesel e do petróleo caiam no mercado internacional, isso não garante por si só que o preço do diesel vá recuar na mesma velocidade e proporção no Brasil.

 

O comportamento do mercado interno depende de vários fatores adicionais. Embora existam outros agentes no abastecimento, como refinarias privadas e importadores, é a Petrobras quem ainda exerce a maior influência sobre a formação dos preços no país. A companhia tem forte presença no mercado e sua política de preços atual é menos previsível, na prática, do que o modelo de paridade adotado anteriormente.

 

Desde maio de 2023, a companhia abandonou a política de paridade internacional, que antes seguia as cotações do petróleo no mercado externo e o câmbio. No modelo atual, os reajustes são baseados em dois critérios: o custo alternativo do cliente, ou seja, quanto custaria importar o combustível, e o valor marginal para a Petrobras, considerando seus custos internos de produção e refino. A companhia também passou a adotar uma postura mais flexível, mencionando a possibilidade de usar um mecanismo de amortecimento para suavizar oscilações de curto prazo. No entanto, esse “colchão” não tem regras públicas definidas, o que aumenta a incerteza sobre se, quando e como ele será aplicado.

 

Com isso, surgem dúvidas importantes. Se o petróleo cair, e os outros fatores que impactam no diesel se mantiverem constantes, será que a Petrobras reduziria os preços do diesel quando o PPI (Preço de Paridade de Importação) estivesse a patamares próximos do preço doméstico? Existiria uma demora nos anúncios das reduções ou seria feito de imediato, beneficiando o consumidor? Será que manteria os preços artificialmente mais altos por algum tempo, usando “o colchão” como justificativa? Ou vai seguir com a prática de operar abaixo do PPI por mais tempo, como tem feito nos últimos meses?

 

A realidade é que prever o comportamento da Petrobras nesse cenário é complexo. Ainda que o petróleo bruto represente em torno de 50% da composição do preço final do diesel, existem muitos outros fatores que influenciam o valor cobrado nos postos. O câmbio, biodiesel, impostos, os níveis de estoques, os riscos geopolíticos como guerras, sanções ou decisões da OPEP, além das margens de refino, impactam diretamente no custo do produto. Hoje, a estatal já está há vários meses sem reajustar o preço do diesel, operando com valores abaixo do mercado internacional, o que acende um alerta no setor sobre a previsibilidade e a coerência dessa política no médio prazo.

 

Além de tudo isso, 2026 é ano eleitoral no Brasil, e nós sabemos bem o peso que a política já exerceu sobre decisões na Petrobras. Isso adiciona mais uma camada de incerteza ao cenário e levanta dúvidas sobre possíveis interferências ou decisões estratégicas voltadas para manter os preços artificialmente controlados.

 

Mesmo com a previsão de queda do petróleo e do diesel no mercado internacional, o cenário brasileiro carrega muitas particularidades e incertezas. A forma como a Petrobras irá atuar diante desse contexto, somada às tensões políticas e econômicas do ano que vem, tanto internas quanto externas, pode fazer com que os preços no Brasil não necessariamente acompanhem a tendência internacional. Fato é que, no início de janeiro, já temos previsto o primeiro aumento no diesel... R$0,05 por litro, culpa do reajuste do ICMS.




Vitor Sabag - especialista em combustível da Gasola by nstech


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