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sábado, 29 de novembro de 2025

Quando a rede cai

Vivemos tempos peculiares — quase paradoxais. Passamos o dia conectados, rodeados por avatares, curtidas, figurinhas piscando e timelines que se renovam mais rápido do que nossos próprios pensamentos. Construímos versões nossas em feeds bem editados, perfis alinhados e respostas prontas. Mas, quando a vida escorrega para os corredores mais silenciosos da existência, descobrimos algo incômodo: nenhuma dessas redes sociais, tão onipresentes, está verdadeiramente ao nosso lado nos momentos de dor.

É curioso. Publicamos nossa rotina, nossos cafés, nossas metas profissionais, nossas corridas matinais. Criamos narrativas sobre quem somos — ou sobre quem gostaríamos de ser. Mas as redes sociais, essas companheiras tão fiéis, têm um limite: elas só permanecem onde a estética cabe. Onde tudo parece firme, brilhante e vendável.

Quando o peso aperta o peito, a ansiedade chega no meio da tarde ou o medo nos visita de madrugada, a selfie perde o foco. O algoritmo não entende o silêncio. A timeline não acolhe o choro. E, de modo quase cruel, percebemos que aquele espaço onde parecia haver tantos — “seguidores”, “amigos”, “contatos”, é, na realidade, um chão escorregadio quando precisamos colocar o pé.

E ainda assim insistimos. Talvez porque seja mais fácil postar do que pedir ajuda. Mais fácil parecer forte do que admitir rachaduras. Mais fácil colecionar reações do que olhar diretamente para nossa vulnerabilidade.

Há quem diga que as redes aproximam. Em parte, sim. Mas conectar não é o mesmo que amparar. Estar visível não é o mesmo que ser visto. E viver online não significa viver acompanhado.

Os momentos de dor são um lembrete incômodo de que nenhum emoji substitui a mão que aperta a nossa. Nenhum comentário substitui o abraço que nos firma. Nenhum “estou aqui” escrito em caixa alta substitui a presença real que nos devolve o chão.

E talvez essa seja a reflexão que este tempo exige de nós: não delegue seu afeto às telas. Não deposite sua esperança em algoritmos. Não transforme sua solidão em conteúdo. Nem todo silêncio precisa virar texto. Nem toda ferida precisa ser iluminada por um ringlight.

A vida real, aquela que pulsa fora do Wi-Fi, ainda é o nosso território mais seguro. São as conversas longas, os vínculos que sobrevivem ao offline, as pessoas que atendem quando o mundo inteiro parece ocupado demais para ouvir. Essas sim são as redes que importam. As que seguram, sustentam e salvam.

Porque, quando a dor chega, não é o feed que nos acolhe. É o afeto que cultivamos na vida que não cabe no celular. É essa rede invisível, feita de gente de verdade, que permanece. E que, apesar de tudo, nunca cai.


Francisco Carlos - CEO Mundo RH e Tec Login - Top 100 People 2023. CEO das Plataformas Digitais Mundo RH e Tec Login


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