A Black Friday se consolidou como uma das principais datas
do varejo brasileiro, movimentando bilhões de reais em poucos dias. Em 2024, o
faturamento voltou a crescer impulsionado pelo comércio eletrônico, pelo
crédito facilitado e pela flexibilização do parcelamento. Mas, junto com as
oportunidades, também aumentam os riscos de endividamento e golpes financeiros.
Para o educador financeiro André Charone,
referência nacional em finanças pessoais e autor do livro “A Verdade
Sobre o Dinheiro”, a data escancara um problema estrutural no
comportamento do consumidor brasileiro: a falta de planejamento.
“Promoção não pode ser desculpa para gastar mais do que se
pode pagar. A Black Friday expõe, todos os anos, o quanto as famílias ainda
confundem desconto com vantagem financeira”, afirma.
A seguir, veja os principais riscos e como se proteger.
Falso desconto ainda é a principal armadilha
Mesmo com a fiscalização mais rigorosa, o chamado
“desconto fake” continua sendo uma das principais ciladas da Black Friday. A
prática consiste em elevar os preços dias antes da data para, na sequência,
anunciar uma redução que, na prática, não representa economia real.
“O consumidor que não acompanha os preços ao longo do ano
vira refém da propaganda. Sem histórico de valores, ele compra acreditando que
economizou quando, na verdade, pagou o preço normal”, explica Charone.
Ferramentas de monitoramento de preços seguem sendo a
melhor forma de escapar desse tipo de armadilha.
Parcelamento longo cria ilusão de poder de compra
Outro fator que impulsiona o consumo na Black Friday é o
parcelamento estendido. Compras em 10, 12 ou até 18 vezes criam uma falsa
sensação de que o produto “cabe no bolso”.
“O parcelamento dilui a dor do pagamento, mas compromete a
renda por muito mais tempo. O problema aparece nos meses seguintes, quando
várias parcelas se acumulam”, alerta o educador financeiro.
Segundo ele, o ideal é que o total de parcelas fixas no
cartão não ultrapasse 30% da renda líquida mensal.
Compras por impulso seguem como vilão do orçamento
A combinação de descontos agressivos, senso de urgência e
pagamento facilitado favorece decisões emocionais. É comum o consumidor comprar
produtos que não estavam nos planos apenas porque o preço parece atrativo.
“Preço baixo não transforma supérfluo em necessidade.
Compra impulsiva é, muitas vezes, o início do descontrole financeiro”, diz
Charone.
A recomendação é separar previamente o que é necessidade,
o que pode ser adiado e o que deve ser descartado.
Golpes digitais disparam no período
A Black Friday também é terreno fértil para criminosos
digitais. Sites falsos, boletos adulterados, perfis clonados em redes sociais e
links fraudulentos se multiplicam.
Os principais cuidados incluem:
- Conferir
o CNPJ da empresa
- Desconfiar
de preços muito abaixo do mercado
- Evitar
links enviados por mensagens
- Priorizar meios de pagamento seguros
“O golpe se aproveita da pressa. Quando a oferta parece
boa demais, quase sempre é”, afirma Charone.
Cartão de crédito não é extensão da renda
Um dos erros mais comuns do consumidor é tratar o limite
do cartão como se fosse dinheiro disponível. Na prática, trata-se de
endividamento futuro.
“O cartão não aumenta a renda de ninguém. Ele apenas
empurra o problema para os próximos meses, geralmente com juros altos”, explica
o especialista.
Antes de comprar, é essencial analisar o impacto da fatura
nos meses seguintes.
Quando a Black Friday pode valer a pena
Apesar dos riscos, a data pode ser estratégica para quem
se organiza. Troca de equipamentos de trabalho, compra de eletrodomésticos
essenciais ou antecipação de despesas previstas são exemplos de compras que
podem, de fato, gerar economia.
“A diferença entre oportunidade e cilada está no
planejamento. Sem ele, até o maior desconto vira prejuízo”, resume Charone.
Educação financeira como proteção permanente
Autor do livro “A Verdade Sobre o Dinheiro: Lições de Finanças
para o seu Dia a Dia”, André Charone defende que o problema vai
além da Black Friday.
“O brasileiro aprendeu a consumir antes de aprender a planejar. Educação financeira não é sobre enriquecer rápido, é sobre não empobrecer por escolhas erradas.”
André Charone - contador, professor universitário, Mestre em Negócios Internacionais pela Must University (Flórida-EUA), possui MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria pela FGV (São Paulo – Brasil) e certificação internacional pela Universidade de Harvard (Massachusetts-EUA) e Disney Institute (Flórida-EUA).É sócio do escritório Belconta – Belém Contabilidade e do Portal Neo Ensino, autor de livros e centenas de artigos na área contábil, empresarial e educacional.
Seu mais recente trabalho é o livro "Empresário Sem Fronteiras: Importação e Exportação para pequenas empresas na prática", em que apresenta um guia realista para transformar negócios locais em marcas globais. A obra traz passo a passo estratégias de importação, exportação, precificação para mercados externos, regimes tributários corretos, além de dicas práticas de negociação e prevenção contra armadilhas no comércio internacional.
Disponível em versão física: https://loja.uiclap.com/titulo/ua111005/
e digital: https://play.google.com/store/books/details?id=nAB5EQAAQBAJ&pli=1
Instagram: @andrecharone
Nenhum comentário:
Postar um comentário