Na corrida contra a crise climática, especialistas
alertam: desenvolvimento econômico só será viável se incluir justiça social e
financiamento para quem mais precisa
O
avanço da crise climática exige mais do que compromissos com redução de
emissões. Exige que os fluxos financeiros globais sejam urgentemente
redirecionados para apoiar soluções que promovam inclusão social e justiça
climática, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil.
O
fato é que a crise climática agrava desigualdades e atinge mais duramente quem
já vive em situação de vulnerabilidade. Ou seja, enquanto não for priorizada a
justiça social no centro das decisões, a transição verde não se concretiza. A
conta chegou. E não pode ser paga pelos mais pobres.
“Não existe
desenvolvimento sustentável se metade da população brasileira vive abaixo da
linha da pobreza”, afirma Linda Murasawa, especialista em
desenvolvimento sustentável. Ela alerta que é preciso superar a lógica da
filantropia e tornar inclusão social e justiça climática pilares da economia.
A
análise faz parte do estudo Top Trends COP 30, da consultoria Ideia
Sustentável, que reúne as principais tendências e desafios para o enfrentamento
da crise climática no Brasil e no mundo.
Apesar
da abundância de capital no mercado global, os investimentos em ações climáticas
que priorizam inclusão e bem-estar social ainda estão muito aquém do
necessário. Para os especialistas ouvidos no estudo, é preciso sair de uma
lógica assistencialista e colocar a justiça climática no centro das estratégias
de desenvolvimento e dos modelos de negócios — não como filantropia, mas como
pilar estrutural.
“As
ações que vemos hoje são muito pontuais, muitas vezes baseadas em filantropia.
Mas isso não resolve. Metade da população brasileira está abaixo da linha da
pobreza”, alerta Linda, que destaca que o desafio de conciliar desenvolvimento
econômico com redução de emissões passa, necessariamente, pela melhoria das
condições de vida das pessoas.
“Quando falamos de refugiados climáticos, não estamos falando só de
migração entre países, mas também de deslocamentos internos forçados pela crise
ambiental e econômica”, ressalta.
O
Brasil tem uma oportunidade única de se tornar um modelo global de
desenvolvimento com inclusão. “Se conseguirmos mostrar que é possível crescer
economicamente promovendo inclusão social e justiça climática, seremos um mega
case mundial — não baseado em filantropia, mas em um novo modelo de negócios e
desenvolvimento sustentável.”
Esse
movimento, aliás, já começa a ganhar espaço nas discussões internacionais e
deve estar no centro dos debates da COP 30, que será realizada no Brasil. A
especialista destaca que há uma crescente pressão para que os mecanismos
financeiros globais sejam reconfigurados de modo a atender, de forma justa, as
necessidades dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas.
Da filantropia ao protagonismo
O estudo também destaca que o avanço desse modelo de financiamento inclusivo
depende diretamente do fortalecimento da governança pública e privada. Para a
advogada e especialista em justiça climática Flávia Bellaguarda, é preciso
deixar de tratar justiça climática como tema acessório. “Não se resolve a crise
climática sem enfrentar as desigualdades sociais. Esse precisa ser o eixo
central de qualquer política climática séria.”
Na
mesma linha, a advogada Gabriela Blanchet, embaixadora da iniciativa de governança
climática do Fórum Econômico Mundial no Brasil, reforça que as respostas ainda
são reativas e que falta ambição política para enfrentar o problema. “O país
está sob os holofotes com a realização da COP 30, mas se não resolvermos as
questões de governança e financiamento, perderemos uma oportunidade histórica.”
Ela
também observa que os impasses internacionais sobre quem deve financiar a
adaptação continuam travando avanços. “Os países ricos, historicamente
responsáveis pela maior parte das emissões, deveriam assumir mais essa conta.
Mas, na prática, isso ainda é muito lento.”
A
especialista Chantal Pillet, diretora da Kroll e especialista
em combate à fraude e corrupção, observa que não faltam recursos no
mundo. “O que falta é alocação eficiente dos recursos, com foco em soluções
sustentáveis e inclusivas. Precisamos de modelos que integrem resiliência,
justiça social e viabilidade econômica”.
Caminhos para avançar
O relatório aponta que o financiamento inclusivo não deve ser encarado
como um custo, mas como investimento estratégico na construção de sociedades
mais resilientes, justas e preparadas para os desafios climáticos.
Entre as recomendações das especialistas, estão:
- Fortalecer estruturas locais de financiamento climático, com foco
em soluções que promovam bem-estar social e inclusão;
- Incorporar justiça climática como pilar das políticas públicas e
dos modelos de negócios;
- Redirecionar parte dos fluxos financeiros globais para projetos de
adaptação, mitigação e desenvolvimento sustentável nos países mais
vulneráveis;
- Aproveitar a COP 30 para posicionar o Brasil como referência global em desenvolvimento sustentável com justiça social.
A
Ideia Sustentável, empresa especializada em soluções humanizadas de ESG para
todos os segmentos do mercado, desenvolveu um o estudo, o Top Trends COP 30
- que analisa as 22 tendências e desafios relacionados com os seus
grandes temas que serão debatidos durante a COP 30. Entre os temas em destaque
estão:
- Redução das emissões de GEE;
- Adaptação às mudanças climáticas;
- Financiamento climático;
- Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono;
- Preservação de florestas e biodiversidade;
- Justiça climática.
Para
ter acesso ao estudo completo,
acesse.
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