Pesquisar no Blog

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Paradoxo do Excesso de Escassez de Profissionais de Saúde.

O Brasil representa cerca de 2,7% da população mundial, o que significa que, para cada brasileiro, existem aproximadamente 40 pessoas vivendo em outros países. Esse dado ganha um novo significado quando olhamos para o cenário profissional, especialmente em áreas como a saúde.


A Medicina como Termômetro

Tomemos a medicina como exemplo. Todos os anos, o país forma cerca de 43 mil novos médicos, que se somam a um sistema já saturado, com 560 mil profissionais ativos. Com a recente expansão de vagas nos cursos de Medicina, essa cifra deve atingir 49 mil formandos por ano em breve.

Com uma taxa de aposentadoria historicamente baixa (apenas 0,27% dos médicos deixam a ativa anualmente), projeta-se que o Brasil alcance a marca de 1 milhão de médicos até 2027. Nesse ponto, atingiremos a média da OCDE de 3,5 médicos por mil habitantes, e, mantido o ritmo atual, o país poderá se tornar a maior densidade médica do mundo até 2045 — superando países como a Grécia, que hoje lidera o ranking com 6 médicos por mil habitantes.


Acesso Ainda É Um Desafio

Apesar da abundância de profissionais, o acesso à saúde permanece desigual, especialmente em municípios com menos de 50 mil habitantes — onde vive cerca de um terço da população brasileira. Nesses locais, conseguir uma simples consulta com um oftalmologista, por exemplo, pode ser extremamente difícil.

Isso levanta uma questão importante: antes mesmo de resolvermos a má distribuição interna de profissionais, é possível que o Brasil se torne um exportador de mão de obra médica, suprindo a carência de outros países.


O Excesso Também Atinge Outras Profissões da Saúde

Esse fenômeno não é exclusivo da medicina. Veja alguns dados surpreendentes:

  • 1 em cada 5 dentistas do mundo é brasileiro;
  • 1 em cada 4 médicos veterinários é brasileiro;
  • 1 em cada 10 profissionais de enfermagem também é brasileiro.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma cobertura mínima de 1 cirurgião-dentista por 1.500 habitantes e 40 enfermeiros para cada 10 mil pessoas. O Brasil já ultrapassa essas metas com folga: temos 2,8 dentistas para cada 1.500 habitantes e cerca de 125 enfermeiros por 10 mil pessoas.


O Que Esperar do Futuro?

Grande parte desses profissionais concluiu a formação nos últimos 10 anos. Isso indica que continuaremos a acumular mão de obra qualificada nas próximas duas décadas, até que as primeiras gerações comecem a se aposentar de forma significativa.

Esse crescimento contínuo exerce uma pressão crescente sobre um sistema já sobrecarregado, tanto em termos de empregabilidade quanto de estrutura de atendimento.

 No entanto, essa pressão pode ser aliviada por duas estratégias principais:


  1. Interiorização: Incentivar a migração de profissionais para regiões menos assistidas.
  2. Internacionalização: Apoiar a emigração de parte dessa força de trabalho para países com escassez de profissionais da saúde.

O Brasil está diante de uma encruzilhada: ou reorganizamos nosso sistema de saúde de forma eficiente, aproveitando o capital humano que formamos, ou veremos um êxodo crescente de talentos — com todos os riscos e oportunidades que isso implica.


Rafael Villas Bôas Albergaria - Gerente de Growth Marketing na Inspirali Educação

Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/paradoxo-do-excesso-de-escassez-profissionais-sa%C3%BAde-rafael-7ub0f/


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados