O Brasil representa cerca de 2,7% da população mundial, o que significa que, para cada brasileiro, existem aproximadamente 40 pessoas vivendo em outros países. Esse dado ganha um novo significado quando olhamos para o cenário profissional, especialmente em áreas como a saúde.
A
Medicina como Termômetro
Tomemos a
medicina como exemplo. Todos os anos, o país forma cerca de 43 mil novos médicos, que se somam a um sistema já
saturado, com 560 mil profissionais ativos. Com a recente
expansão de vagas nos cursos de Medicina, essa cifra deve atingir 49 mil formandos por ano em breve.
Com uma
taxa de aposentadoria historicamente baixa (apenas 0,27% dos médicos deixam a
ativa anualmente), projeta-se que o Brasil alcance a marca de 1 milhão de médicos até 2027. Nesse ponto,
atingiremos a média da OCDE de 3,5 médicos por mil habitantes,
e, mantido o ritmo atual, o país poderá se tornar a maior densidade médica do
mundo até 2045 — superando países como a Grécia, que hoje lidera o
ranking com 6 médicos por mil habitantes.
Acesso
Ainda É Um Desafio
Apesar da
abundância de profissionais, o acesso à saúde permanece
desigual, especialmente em municípios com menos de 50 mil habitantes
— onde vive cerca de um terço da população brasileira.
Nesses locais, conseguir uma simples consulta com um oftalmologista, por
exemplo, pode ser extremamente difícil.
Isso
levanta uma questão importante: antes mesmo de resolvermos a má distribuição interna de profissionais, é
possível que o Brasil se torne um exportador de mão de obra
médica, suprindo a carência de outros países.
O Excesso
Também Atinge Outras Profissões da Saúde
Esse
fenômeno não é exclusivo da medicina. Veja alguns dados surpreendentes:
- 1 em cada 5 dentistas do mundo é
brasileiro;
- 1 em cada 4 médicos veterinários é
brasileiro;
- 1 em cada 10 profissionais de
enfermagem também é brasileiro.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda uma
cobertura mínima de 1 cirurgião-dentista por 1.500 habitantes
e 40 enfermeiros para cada 10 mil pessoas. O Brasil
já ultrapassa essas metas com folga: temos 2,8 dentistas para cada
1.500 habitantes e cerca de 125 enfermeiros por 10 mil
pessoas.
O Que
Esperar do Futuro?
Grande
parte desses profissionais concluiu a formação nos últimos 10 anos.
Isso indica que continuaremos a acumular mão de obra
qualificada nas próximas duas décadas, até que as primeiras gerações
comecem a se aposentar de forma significativa.
Esse crescimento contínuo exerce uma pressão crescente sobre um sistema já sobrecarregado, tanto em termos de empregabilidade quanto de estrutura de atendimento.
No entanto, essa pressão pode ser aliviada por duas estratégias principais:
- Interiorização: Incentivar a migração de
profissionais para regiões menos assistidas.
- Internacionalização: Apoiar a emigração de parte dessa força de trabalho para
países com escassez de profissionais da saúde.
O Brasil
está diante de uma encruzilhada: ou reorganizamos nosso sistema de saúde de
forma eficiente, aproveitando o capital humano que formamos, ou veremos um
êxodo crescente de talentos — com todos os riscos e oportunidades que isso
implica.
Rafael Villas Bôas Albergaria - Gerente de Growth Marketing na Inspirali Educação
Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/paradoxo-do-excesso-de-escassez-profissionais-sa%C3%BAde-rafael-7ub0f/

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