Pesquisa mostra que ações de apoio às famílias em situação de vulnerabilidade evitaram acolhimento institucional de crianças e adolescentes em 95% dos casos acompanhados
A Aldeias
Infantis SOS, organização global que lidera o maior
movimento de cuidado do mundo, lançou nesta quarta-feira (30), em São Paulo, o
estudo “Prevenindo a Separação Familiar: a Experiência da Aldeias Infantis SOS”,
uma pesquisa inédita que reúne dados, boas práticas e recomendações sobre como
apoiar famílias em situação de vulnerabilidade social e evitar a separação de
crianças e adolescentes de seus cuidadores.
Com base nos trabalhos realizados pelo Núcleo SOS
de Apoio às Famílias, que integra o serviço de Fortalecimento Familiar da
Organização, e a partir de metodologia iniciada em 2020, inspirada em
experiências brasileiras e internacionais, o estudo avalia estratégias que
evitaram o acolhimento institucional de cerca de 1.200 crianças e adolescentes
nos últimos quatro anos. O número representa mais de 95% dos casos
acompanhados, onde foi possível preservar os vínculos familiares junto às
famílias de origem por meio de ações como escuta qualificada, apoio
psicológico, visitas domiciliares, articulação com serviços públicos e
construção de redes de apoio comunitárias.
Segundo Michéle Mansor, gerente Nacional de
Desenvolvimento Programático da Aldeias Infantis SOS, o estudo demonstra, na
prática, a eficácia do modelo de atuação desenvolvido e aplicado com
exclusividade no país pela Organização.
“Os dados comprovam que quando há um compromisso
real com o cuidado, acompanhamento sistemático e apoio contínuo, as chances de
uma criança ser afastada de sua família caem drasticamente. A atuação próxima e
individualizada transforma realidades e protege direitos na sua origem”, afirma
a porta-voz.
O levantamento foi realizado em 14 localidades de
10 Estados brasileiros, abrangendo mais de 1.350 famílias. A pesquisa incluiu
um questionário aplicado a 65 profissionais da Aldeias Infantis SOS, oito
grupos focais com 44 cuidadores, sendo 42 mulheres e dois homens, e depoimentos
de profissionais de Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), de
Centros de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Conselhos
Tutelares, Ministério Público e Juizado da Infância e da Juventude. O resultado
é um retrato aprofundado dos desafios enfrentados por famílias em situação de
vulnerabilidade — sobretudo mulheres — e das alternativas possíveis para
prevenir separações por ordem da Justiça.
O estudo dá continuidade ao relatório “Vozes
(In)escutadas e Rompimento de Vínculos”, apresentado pela Organização em 2023,
e reforça a urgência de investir em políticas públicas voltadas à convivência
familiar e comunitária. Segundo a publicação, muitas rupturas entre crianças e
seus responsáveis ocorrem por negligência não intencional, isto é, quando há
ausência de suporte adequado às famílias frente a contextos extremos de
pobreza, violência ou exclusão.
Entre os principais destaques da nova pesquisa está
o reconhecimento da importância da escuta sensível, do apoio psicológico e do
fortalecimento emocional dos cuidadores, além da presença ativa de equipes
técnicas de confiança. Em muitos relatos, famílias atendidas descreveram os
profissionais da Aldeias Infantis SOS como pontos de apoio fundamentais, não
apenas para receber benefícios materiais, mas para se sentirem vistas,
acolhidas e acompanhadas de forma contínua.
O documento também apresenta propostas estratégicas
concretas para o Poder Público e a sociedade civil, como a necessidade de
financiamento contínuo para ações de fortalecimento familiar, melhor
articulação entre serviços da rede de proteção (assistência, saúde, educação e
justiça), garantia de acesso à educação infantil e reconhecimento da
diversidade de arranjos familiares.
Alinhado à Política Nacional de Cuidados, aprovada
em 2024 pelo Governo Federal, e às diretrizes da ONU sobre cuidados
alternativos, o estudo reforça, sobretudo, que proteger a infância começa com o
cuidado às famílias. Além disso, o tema dialoga diretamente com a atualização
do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, que
está em fase de revisão e tem previsão de votação final em outubro, e prevê um
eixo dedicado à Proteção, no qual se inserem
serviços e políticas que atuam para garantir o fortalecimento dos vínculos
familiares.
“Para a Aldeias Infantis SOS, garantir que nenhuma
criança cresça sozinha é um compromisso coletivo que exige a
corresponsabilidade de todos, isto é, Estado, sociedade e comunidade. E, desde
já, devemos direcionar nossos esforços no sentido da prevenção, para evitar que
mais meninas e meninos sejam afastados de suas famílias de origem por
intervenção judicial, uma ação limite para o melhor interesse da criança e do
adolescente”, finaliza Michéle.
Sobre a Aldeias Infantis
SOS
A Aldeias Infantis SOS (SOS Children’s Villages) é
uma organização global, de incidência local, que atua no cuidado e proteção de
crianças, adolescentes, jovens e suas famílias. A Organização lidera o maior
movimento de cuidado do mundo e atua junto a meninos e meninas que perderam o
cuidado parental ou estão em risco de perdê-lo, além de desenvolver ações
humanitárias.
Fundada na Áustria, em 1949, está presente em mais
de 130 países. No Brasil, atua há 57 anos e mantém mais de 80 projetos, em
cerca de 30 localidades de Norte ao Sul do país. Ao trabalhar junto com
famílias em risco de se separar e fornecer cuidados alternativos para crianças
e adolescentes que perderam o cuidado parental, a Aldeias Infantis SOS luta
para que nenhuma criança cresça sozinha.
Para mais informações, acesse o site: www.aldeiasinfantis.org.br/
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