Dados recentes apontam que Brasil está de volta à lista dos países com mais crianças sem vacina; especialistas reforçam a importância da imunização para pacientes oncológicos
Ao menos 229 mil crianças brasileiras não receberam qualquer dose
de vacina no ano de 2024 — volume duas vezes superior ao registrado em 2023
(103 mil). Com o número, o Brasil passa a ocupar a 17ª posição no ranking
global "dose zero" e volta a figurar entre os países com mais
crianças não imunizadas no mundo.
Os dados recém-divulgados pela Organização Mundial da Saúde - OMS
e Fundo das Nações Unidas - Unicef para a Infância preocupam autoridades e
especialistas, principalmente quando se considera o impacto da baixa cobertura
vacinal sobre os grupos mais vulneráveis, como crianças e adolescentes em
tratamento oncológico.
A Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE) reforça a
importância da vacinação para o público infantojuvenil e destaca que pacientes
com câncer estão entre os mais suscetíveis a infecções, muitas das quais
poderiam ser evitadas com a adequada vacinação da população. Entre as
principais razões da maior vulnerabilidade, estão:
- O tratamento com quimioterapia, radioterapia ou transplante
de medula óssea compromete a imunidade;
- Algumas vacinas, principalmente as que usam vírus vivos
atenuados, não podem ser administradas durante o tratamento oncológico;
- Infecções comuns, como gripe ou varicela, podem evoluir para
quadros graves, com risco de hospitalização e morte;
- Episódios infecciosos podem forçar a interrupção do
tratamento contra o câncer, comprometendo os resultados.
Segundo a oncologista pediátrica da SOBOPE, Dra. Carolina Camargo
Vince, é preciso reforçar tanto a importância da vacinação populacional quanto
a necessidade da prescrição de algumas vacinas para quem está em tratamento
contra o câncer: “Infelizmente, ainda há falta de conhecimento mais profundo
sobre o esquema vacinal para essa população, o que pode reduzir as
possibilidades de proteção desses pacientes”.
Guia inédito orienta profissionais
Diante da relevância do tema, a SOBOPE, em parceria com a
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lançou em maio a primeira edição do
Guia de Imunização para Pacientes Oncológicos Pediátricos. O documento visa
orientar oncologistas pediátricos, imunologistas, infectologistas e demais
profissionais de saúde sobre esquemas vacinais específicos para crianças e
adolescentes em tratamento.
“A abordagem com quimioterapia, radioterapia, transplante de
medula e novas terapias celulares, impacta diretamente na imunidade do
paciente, tornando-o vulnerável a uma série de infecções, muitas delas
potencialmente graves e preveníveis por vacinas. O Guia representa um ganho
significativo de informação precisa e segura”, afirma Dr. Neviçolino Pereira de
Carvalho Filho, vice-presidente da SOBOPE.
Vacinar é proteger – inclusive os mais vulneráveis
Em um cenário global onde 14,3 milhões de crianças ainda não
receberam nenhuma vacina, o apelo da OMS e do Unicef é claro: a vacinação
precisa ser retomada com urgência. “No Brasil, garantir a imunização das
crianças e da comunidade ao redor de pacientes oncológicos é mais do que uma
medida de saúde pública — é uma ação de proteção, cuidado e solidariedade”,
afirma Carolina.
SOBOPE
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