O envelhecimento da população é um dos fenômenos sociais mais impactantes
do século XXI, e seus reflexos vão muito além da previdência ou da saúde
pública. O aumento da expectativa de vida e a mudança no perfil etário da
sociedade estão transformando profundamente setores como o da óptica, que
precisa se adaptar a um novo consumidor e a um novo tipo de demanda cada vez
mais complexa, exigente e conectada.
De acordo com o IBGE, o Brasil já conta com mais de 32 milhões de
pessoas com 60 anos ou mais. Esse número deve dobrar até 2050, o que fará do
país uma das nações mais envelhecidas do mundo. A consequência imediata disso,
no campo da saúde visual, é o crescimento acelerado de diagnósticos como
presbiopia, catarata e degeneração macular relacionada à idade (DMRI), entre
outros. Mas o impacto vai além do aumento de patologias: ele redefine o que se
espera de um produto óptico e do atendimento prestado por empresas do setor.
A nova geração 60+ está mais ativa, mais conectada e mais
consciente do seu papel social. É um público que valoriza a saúde, mas também
preza pela estética, conforto e autonomia. Eles não querem apenas enxergar
melhor, querem produtos que se integrem ao seu estilo de vida, respeitem sua
individualidade e acompanhem sua rotina, seja ela digital, profissional ou
culturalmente ativa. É um perfil muito distante do estereótipo passivo que por
décadas moldou a oferta de soluções ópticas para esse público.
Esse movimento também é percebido em outras faixas etárias. O
envelhecimento deixou de ser um tema exclusivo dos mais velhos: adultos jovens
já se preocupam com o uso excessivo de telas, com o cansaço visual e com o
impacto cumulativo dessas práticas no futuro da sua visão. E essa preocupação
se estende à infância, momento crucial para o desenvolvimento saudável da
visão. O aumento da miopia entre crianças e adolescentes exige atenção
redobrada, com lentes adequadas a este erro refrativo e à rotina dos pequenos,
que favoreçam uma adaptação rápida, estimulem o uso contínuo e contem com zonas
livres estrategicamente posicionadas para acompanhar os movimentos naturais dos
olhos em diferentes atividades.
Personalização
e tecnologia: o novo padrão da saúde visual
Neste contexto, a personalização tem ganhado protagonismo como um
dos pilares da nova saúde óptica. Tecnologias que utilizam dados biométricos, por
exemplo, estão revolucionando a forma como se desenvolvem lentes, permitindo
correções visuais com precisão milimétrica e proporcionando uma experiência de
uso mais confortável e eficiente.
É o caso das lentes biométricas B.I.G. NORM®️️️, que capturam
medições individuais do olho e geram lentes sob medida, respeitando a anatomia
única de cada usuário. Não se trata mais de adaptar o consumidor ao produto,
mas sim de adaptar o produto ao consumidor. Essa virada de chave é, hoje, um
diferencial competitivo e, em breve, será um requisito básico para quem quiser
se manter relevante no mercado.
A personalização não melhora apenas a acuidade visual; ela melhora
a qualidade de vida como um todo. Reduz a fadiga ocular, amplia o campo de
visão, acelera a adaptação a novos óculos e promove maior adesão ao uso
contínuo. E, ao fazê-lo, reposiciona o papel das lentes: de um item corretivo a
uma verdadeira extensão do bem-estar e do estilo de vida.
Esses avanços também estão refletidos nos tratamentos das lentes.
As novas gerações de antirreflexo (AR) oferecem não apenas maior transparência
e um efeito estético mais suave, mas também múltiplas camadas de proteção
contra os raios UV e a luz azul nociva, um escudo essencial para quem passa
horas em frente às telas. Além disso, são tratamentos mais práticos, que
facilitam a limpeza e a conservação das lentes, prolongando sua durabilidade e
mantendo a performance no dia a dia.
Um
setor em transformação
Diante desse cenário, as empresas ópticas são chamadas a se reinventarem.
O papel do setor passa a ser, cada vez mais, o de antecipar necessidades,
muitas vezes antes mesmo de elas se manifestarem. Isso exige investimento
constante em inovação, ciência de dados, biotecnologia, usabilidade e também em
escuta ativa. Entender o que o consumidor precisa, mas também o que ele
valoriza.
Envelhecer com qualidade visual não pode ser privilégio, mas deve
ser parte integrante do direito à saúde e à dignidade. E isso começa desde
cedo, com cuidados visuais personalizados ainda na infância.
O desafio está posto: atender com excelência uma sociedade que envelhece, sem abrir mão da inovação, da ética e do compromisso com a visão das próximas décadas.
Hugo
Mota - CEO da Rodenstock Brasil e Master of Business Administration (MBA) at
Bergische Universität Wuppertal
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