Vivemos em uma era de hiperconectividade, mas paradoxalmente
marcada por uma crescente desconexão emocional — uma incompatibilidade que se
reflete com força na sala de aula. O espaço que deveria ser dedicado ao
conhecimento e ao desenvolvimento integral do estudante passou a abrigar
tensões, desigualdades sociais e, em muitos casos, tornou-se o último refúgio
seguro para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Enquanto isso, a escola enfrenta uma crise silenciosa. Não apenas
o desempenho acadêmico tem sido comprometido, mas também a saúde emocional de
quem ensina. Um estudo do Instituto de Saúde e Sociedade da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) revela que 32,75% dos professores da educação
básica sofrem da síndrome de burnout. Além disso, 55,92% apresentam burnout
pessoal e 43,58% relatam esgotamento relacionado ao trabalho. A sobrecarga de
funções — que vai muito além do ato de ensinar —, a pressão por resultados e a
escassez de apoio institucional tornam o cenário ainda mais desafiador.
Do outro lado da sala, os estudantes também chegam à escola
emocionalmente sobrecarregados. Muitos não têm ferramentas básicas para lidar
com frustrações ou conviver em grupo, o que compromete a aprendizagem. O que
deveria ser um espaço de desenvolvimento pleno se transforma, muitas vezes, em
palco de tensão e conflitos. É fundamental cuidar da saúde de nossos
educadores, para que eles possam oferecer apoio emocional em sala de aula. Mais
do que isso, é papel dos governos ampliar parcerias com profissionais da saúde mental,
oferecendo suporte psicológico para toda a comunidade escolar, sem
sobrecarregar ainda mais os docentes.
O cenário de desgaste emocional impacta a todos: alunos e
educadores veem sua relação fragilizada e, com ela, perdem-se as condições
mínimas para a aprendizagem. O resultado? Baixos índices de aprendizado, evasão
escolar crescente e um ciclo vicioso de frustração e desmotivação.
Em algumas redes estaduais de ensino, já há políticas públicas que
monitoram os indicadores de bem-estar emocional e o clima escolar, como forma
de orientar práticas pedagógicas mais assertivas. Mas a medida ainda não é
difundida em todas as unidades de ensino, especialmente as públicas, o que gera
distorções na avaliação da qualidade do ensino no Brasil. É necessário reconectar
a escola com seu papel humano para romper o ciclo de adoecimento, violência e
evasão. Essa responsabilidade, no entanto, não é unilateral. As famílias — e
até mesmo a comunidade ao redor — também devem se manter engajadas para ampliar
essa rede de proteção.
Embora a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconheça que
educar vai além do conteúdo acadêmico e defender o desenvolvimento integral do
estudante, ou seja, tanto no aspecto cognitivo quanto no emocional e social, um
dado alarmante que decorre da crise emocional e relacional no ambiente escolar
é a crescente violência nas escolas. Segundo o Instituto DataSenado, cerca de
11% dos estudantes brasileiros sofreram algum tipo de violência escolar, o que
representa aproximadamente 6,7 milhões de alunos vitimados em pesquisa
realizada em 2023.
Esses dados confirmam a urgência de uma resposta sistêmica e
estruturada. Não se trata apenas de medidas de segurança, mas de uma
transformação na forma como educamos. Essa mudança passa, necessariamente, pela
formação continuada de educadores, com foco no desenvolvimento de competências
socioemocionais, como empatia, escuta ativa e regulação emocional.
Uma programação voltada para esse fim também é bem-vinda. As
escolas deveriam ter espaços regulares de acolhimento — como rodas de conversa,
tutoria afetiva e práticas restaurativas — que fortaleçam os vínculos entre
alunos e professores e contribuam para a prevenção de conflitos. Até mesmo os
currículos escolares poderiam ser repensados para incluir projetos
interdisciplinares envolvendo arte, meditação e temas ligados à convivência, à
diversidade e à cultura da paz.
Mesmo diante de tantos alertas, os dados alarmantes persistem e
reforçam a certeza de que investir em competências socioemocionais não é modismo:
é uma urgência educacional, social e humana. A pergunta que fica é: onde
estamos errando e qual o melhor caminho a seguir? Parte da resposta, nós já
conhecemos.
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