Pesquisa do BCG e da IATA revela otimismo com o potencial de criação de valor e destaca desafios tecnológicos e organizacionais no setor aéreo
A indústria global de aviação está passando por uma transformação significativa, com a adoção de práticas de comercialização integrada que prometem revolucionar a experiência dos viajantes e otimizar a operação das companhias aéreas. É o que aponta um estudo recente do Boston Consulting Group (BCG) em parceria com a International Air Transport Association (IATA), baseado em entrevistas com mais de 150 funcionários de companhias aéreas, fornecedores e distribuidores de viagens.
Intitulado “Can Airlines Accelerate the Transition to Modern Retailing?”, o relatório destaca que 8 em cada 10 entrevistados acreditam que a transformação da comercialização integrada é estratégica e tem alto potencial de criação de valor para suas companhias. Além disso, 83% afirmam defender ativamente essa transição dentro de suas empresas.
“As companhias aéreas dependem de diversos sistemas e aplicativos
para distribuição de seus produtos e serviços para seus clientes, e as
restrições e complexidades destes sistemas historicamente tornaram a
experiência do cliente truncada, longa e pouco intuitiva. Evoluções
tecnológicas recentes permitem simplificar as jornadas e oferecer produtos e
serviços de forma mais integrada, e as empresas aéreas já começaram a perseguir
essa oportunidade”, explica Leandro Paez, diretor executivo e sócio do BCG,
líder da prática de Viagens & Turismo no Brasil.
Avanços e desafios na implementação tecnológica
Apesar da relevância do tema, a pesquisa revela que nenhuma companhia aérea analisada implementou plenamente sistemas e processos para gestão integrada de produtos e serviços, o que permitiria maior visibilidade das necessidades e ações dos clientes, integração de serviços adicionais (desde receitas auxiliares, como bagagem extra e upgrade de assento, até mesmo hotéis ou transporte terrestre) e pagamentos em jornada e transações mais integradas. Segundo o estudo, 60% das companhias aéreas ainda não definiram uma estratégia detalhada para essa migração - e outras 20% sequer iniciaram discussões internas sobre o tema.
“Quando as companhias aéreas começarem a utilizar sistemas e
processos mais integrados de produtos e serviços, elas poderão dinamicamente
agrupar e precificar produtos em jornada simplificada, incluindo voos, serviços
adicionais (como bagagens extras) e produtos de parceiros, como hotéis, seguros
ou aluguéis de veículos. Isso trará grandes avanços para toda a cadeia de valor
– consumidores, distribuidores, empresas aéreas e seus parceiros”, explica
Paez.
O papel da tecnologia na transformação
O relatório também mostra otimismo quanto à prontidão tecnológica: 87% dos entrevistados acreditam que fornecedores de sistemas e soluções já estão investindo ou investirão o suficiente para suportar ofertas e pedidos sem legado. Contudo, muitos profissionais permanecem cautelosos sobre a capacidade do setor aéreo de capitalizar essas novas soluções: 82% acreditam que o setor só alcançará esse marco após 2030.
Segundo Leandro, o sucesso dessa transformação dependerá de
esforços conjuntos: “Dadas as interdependências no setor e multiplicidade de
canais, sistemas e segmentos de clientes & consumidores, será necessário um
avanço sincronizado entre as empresas aéreas para que a comercialização
integrada atinja um novo patamar”.
Cinco etapas para acelerar a transformação da comercialização integrada
Para facilitar essa transição, o BCG e a IATA sugerem cinco ações estratégicas:
- Definir o papel
estratégico da companhia aérea em comercialização integrada. Companhias
devem decidir se querem focar apenas em seus produtos principais ou se
tornar uma plataforma completa para as necessidades de viagem. Essa
escolha impacta investimentos, parcerias e a abordagem aos clientes.
- Identificar
casos de uso para agregar valor ao cliente. Com os
obstáculos tecnológicos diminuindo, é hora de priorizar melhorias na
experiência do cliente por meio de iniciativas que gerem o maior impacto.
- Estabelecer
alianças estratégicas. Trabalhar em parceria com
fornecedores de tecnologia, parceiros de viagens e outras companhias
aéreas pode criar um ecossistema coeso e acelerar a implementação.
- Explorar novas
tecnologias disruptivas. Inovações como inteligência
artificial generativa e identificação digital podem ser diferenciais
competitivos e acelerar evolução da experiência dos clientes
- Criar o contexto
organizacional certo. Estruturas corporativas
isoladas e falta de conexão entre áreas-chave (produto, vendas e gestão de
receitas) são grandes barreiras. Criação de posições (como a de diretor de
comercialização integrada) ou revisão de estruturas e processos que ajudem
a aumentar colaboração serão essenciais para essa evolução
O futuro da comercialização integrada no setor aéreo
A
transformação para a comercialização integrada no setor aéreo é uma jornada
complexa, mas com grande potencial para redefinir a experiência do consumidor e
aumentar eficiência operacional. Ao investir em tecnologia, inovação e
colaboração, as companhias aéreas pioneiras neste tema certamente usufruirão de
um diferencial competitivo.
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