Atenção aos sintomas e prevenção diminuem risco de reinfecção
por vírus da dengue, que tem maior potencial de causar
formas graves da doença
Variante
responsável por complicações em reinfecções não era diagnosticada no país desde
2008
Após 16 anos sem registros no Brasil, o sorotipo 3
da dengue (DENV-3) reapareceu em 2024 e foi responsável por mais de 40% dos
casos notificados em dezembro, segundo dados do Ministério da Saúde. A circulação
desse sorotipo, que eleva o risco de complicações graves, acende um alerta para
a saúde pública, pois a ausência prolongada de infecções no país deixou grande
parte da população desprotegida contra essa variante do vírus.
Embora os quatro sorotipos da dengue causem
sintomas semelhantes, o DENV-3 apresenta maior potencial de desencadear formas
graves da doença, especialmente em pessoas que já tiveram contato anterior com
outro sorotipo.
Os riscos da reinfecção
A infectologista do Hospital São Marcelino
Champagnat, Camila Ahrens, explica que, quando se trata de reinfecção, o
fenômeno conhecido como aumento dependente de anticorpos (ADE) pode levar a
complicações severas. “O risco, principalmente com o DENV-3, não está
diretamente relacionado ao sorotipo em si, mas ao contexto da reinfecção. Isso
ocorre devido a uma memória imunológica inadequada, em que os anticorpos
gerados contra a primeira infecção não neutralizam o novo sorotipo, mas
intensificam sua replicação, desencadeando manifestações graves da doença”,
esclarece.
Entre as complicações mais preocupantes estão a
síndrome do choque da dengue (SCD) e o extravasamento capilar. “Essas condições
podem provocar queda da pressão arterial, falha no funcionamento de órgãos e,
em casos extremos, levar à morte. Elas acontecem porque a infecção pode deixar
os vasos sanguíneos mais frágeis, permitindo o vazamento de sangue para outras
partes do corpo, comprometendo a circulação de oxigênio e nutrientes”, alerta a
infectologista.
Diagnóstico e tratamento
Apesar de ser transmitida pela picada do mosquito Aedes
aegypti, que carrega o vírus causador da infecção, a dengue também
é considerada uma virose. Por isso, os sintomas são muito semelhantes aos de
outras doenças virais, incluindo febre alta e persistente, dor no corpo,
cansaço, mal-estar, dor nas articulações, na cabeça e atrás dos olhos.
A fase mais crítica da doença ocorre entre o
terceiro e o sétimo dia, quando a febre desaparece e podem surgir sinais de
agravamento. “Como os sintomas são muito parecidos com os de outras doenças, é
essencial ficar atento a sinais que indicam um caso mais grave, como
sangramentos nas gengivas ou outras mucosas, dor abdominal intensa, vômitos
persistentes e confusão mental”, explica a clínica médica do Hospital São Marcelino
Champagnat, Larissa Hermann. “Nesses casos, buscar atendimento médico imediato
é fundamental para evitar complicações que possam se tornar fatais”, alerta.
O diagnóstico da dengue é feito por meio de exames
laboratoriais, como o teste rápido de antígeno (NS1) ou a sorologia, indicada
para estágios mais avançados da doença. Atualmente, como não existe um
tratamento específico para eliminar o vírus, o controle da infecção é realizado
exclusivamente com indicação médica. “O tratamento consiste em medidas de suporte
que indicamos aos pacientes, como controle da febre e da dor com analgésicos,
além de hidratação intensiva. Em casos mais graves, pode ser necessário
acompanhamento hospitalar, com hidratação endovenosa e suporte em UTI”, explica
a especialista.
A importância da prevenção
“Costumamos dizer que o método mais eficaz de
tratamento para a dengue é, na verdade, a prevenção. É essencial evitar o
acúmulo de água parada, que serve de criadouro para o mosquito transmissor”,
indica a clínica médica. O Aedes aegypti não costuma voar grandes
distâncias, por isso o controle dos focos dentro de casa e nos arredores é
crucial. “No verão, quando o vírus circula com mais intensidade, o uso de
repelentes também é importante, especialmente para grupos mais vulneráveis, como
crianças, idosos, gestantes, pessoas com comorbidades e aquelas que já tiveram
dengue anteriormente”, recomenda Larissa Hermann.
A proteção contra os mosquitos envolve diversas
medidas que, combinadas, fazem a diferença. “Além do uso de repelentes, que
devem ser reaplicados após suor excessivo ou contato com a água, barreiras
físicas ajudam a evitar picadas, como telas em portas e janelas, mosquiteiros
sobre as camas e roupas de manga longa e cores claras”, explica a
infectologista Camila Ahrens. O uso de larvicidas em locais onde há acúmulo de
água também contribui para impedir a proliferação do mosquito. “O envolvimento
da comunidade é essencial para tornar o combate ao Aedes aegypti
ainda mais eficaz. Mutirões de limpeza e ações coletivas ajudam a manter o
ambiente mais seguro para todos”, destaca.
Hospital São Marcelino Champagnat
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