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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025

Na cadeia alimentar moderna, viramos predadores de nós mesmos

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Durante grande parte de sua história, o ser humano viveu como qualquer outra espécie na natureza, enfrentando ameaças diretas à sua sobrevivência – predadores como leões, tigres e hienas moldaram a evolução de mecanismos cerebrais voltados à defesa e de luta ou fuga diante do perigo.

No entanto, com a Revolução Agrícola e o crescimento das civilizações, os desafios mudaram. O homem deixou de temer presas naturais para lidar com leis, normas e sistemas econômicos.

Esses novos critérios de sobrevivência substituem a luta contra predadores por uma batalha constante contra a exclusão social e a insegurança financeira. O medo de ser devorado deu lugar ao medo da falência, do desemprego e do fracasso.

Moldamos uma sociedade que promove dívidas impagáveis, exigências de produtividade inatingíveis, precarização do trabalho e a redução do valor humano à capacidade de gerar lucro. Assim, o Homo sapiens eliminou seus predadores naturais apenas para se tornar caçador de si mesmo.

A busca incessante por eficiência nos transformou em peça de uma engrenagem que jamais pode parar. Sob o capitalismo, qualquer momento de descanso se torna um risco, e a exaustão é naturalizada como parte do caminho para o sucesso. Quem nunca se viu obrigado a participar dessa cultura de hiperprodutividade apenas para garantir o mínimo de segurança financeira?

A predação não desapareceu, apenas mudou de forma. O novo predador não tem presas afiadas ou garras cortantes, mas se manifesta na forma de uma nova cadeia alimentar, baseada na dominação financeira e na concentração de poder.

Entretanto, essa lógica não é inevitável. Se desacelerarmos e questionarmos as estruturas que nos governam, veremos que é possível reformular a economia para que sirva às pessoas, e não o contrário.

Isso exige a criação de um sistema mais equilibrado, que respeite os limites humanos e naturais, reduzindo a dependência do crescimento ilimitado como única medida de progresso.

Divulgação
A verdadeira evolução da humanidade não está na perpetuação da luta, mas na construção de um mundo onde a dignidade humana valha mais do que a produtividade.

Afinal, qual o sentido de dominarmos o planeta se, no processo, nos tornarmos escravos de nossas próprias criações?


João Carlos Orquiza – pesquisador teórico-conceitual e autor de O Preço da Vida: seu trabalho, sua energia - o verdadeiro motor da economia mundial

 

 

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