Se séculos atrás pessoas se dividam, matavam e morriam por religiões, negando a possibilidade da coexistência pacífica de pessoas que, apesar de terem crenças diferentes, poderiam compartilhar de uma mesma moral e interagir em harmonia em uma mesma sociedade, este fenômeno se adaptou à contemporaneidade de outra forma: hoje, não mais é a religião de nosso vizinho que define se gostaríamos dele ou não. É seu posicionamento político, sua ideologia. Evidentemente, este fenômeno radicaliza e impacta todas as gerações e deve ser compreendido e analisado de forma ampla e cuidadosa. No entanto, ao destacarmos o fator idade, existe um grupo que é mais vulnerável: os jovens.
A polarização política é um dos fenômenos mais perigosos da
democracia brasileira (e mundial) atualmente. Famílias se separando, amigos
deixando de se falar e até agressões físicas por conta de posicionamentos
políticos, infelizmente, não são casos raros e, em eventos mais extremos, até
mesmo assassinatos ocorrem com motivações políticas, como observado no caso de
Marcelo Arruda em 2022.
No caso da juventude, este impacto pode ser gerado por uma
necessidade do jovem de se sentir parte de algo (no caso, um movimento ou
ideologia política) somada ao advento das redes sociais, que ajudaram a
divulgar projetos e influências que incentivam a radicalização, enfraquecendo o
debate democrático. Além disso, a entrada repentina no debate público para
alguns desses jovens e a recente propagação da temida “cultura do cancelamento”
aumentou ainda mais esse fenômeno, liderado, também, pela juventude.
A reflexão que fica, portanto, é de como os jovens
podem se libertar dessa influência anti-democrática e nociva e se transformarem
na vanguarda do resgate do debate democrático, provando sua capacidade de
participarem da vida política? Para isso, deve-se ser primeiro reconhecido o
fato de que a estrutura social atual facilita a polarização e a radicalização
não só dos jovens, mas da sociedade como um todo. Desde as redes sociais, até
debates políticos televisionados e figuras caricatas, incentivam e alimentam
essa ameaça à democracia.
Vejo, portanto, a chave para reverter este fenômeno como sendo um
bipé sustentado por dois fatores: o individual e o coletivo. Naturalmente, é
impossível reverter uma tendência social sozinho como indivíduo. No entanto, o
caminho inicial para reverter a polarização política que impacta a juventude
passa sim por um uma reflexão filosófica individual de compreender a existência
de diversos pontos e opiniões que, por mais contrastantes que sejam, são
válidos e devem ser ouvidos e, em uma sociedade amadurecida, conciliados,
visando o bem comum. Para aplicar isso, entra o fator coletivo, usando
ironicamente uma ferramenta que causa este fenômeno para revertê-lo: as redes
sociais. Isso porque, se parcela significativa da juventude se conscientizar
deste fenômeno e começar a se levantar contra o mesmo no debate público
digital, uma onda de reflexão e conscientização pode surgir nas novas gerações.
Vivemos um momento complicado para o sistema republicano
constitucional, ao passo que autocracias se consolidam e surgem por todo o
mundo, como na Venezuela, Rússia, Turquia e Hungria. No Brasil, já não é raro
encontrar nas redes ou em protestos palavras perigosas sugerindo perseguição,
censura, vingança e violência, vindas de ambos os lados. Se queremos um futuro
diferente, não vamos encontrar essa chave em outro lugar senão na
conscientização individual e coletiva dos jovens que em breve irão liderar este
futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário