Mulheres têm mais dor crônica do que homens, e isso não acontece por acaso. Fatores biológicos, hormonais, psicológicos, sociais e culturais explicam essa disparidade, tornando o diagnóstico e tratamento um desafio ainda maior para elas
Segundo
estudos recentes as mulheres sofrem mais com a dor crônica do que os homens, e
isso não acontece por acaso. Fatores biológicos, hormonais, psicológicos,
sociais e culturais desempenham um papel fundamental nessa disparidade,
tornando o diagnóstico e o tratamento ainda mais desafiadores.
A
dor crônica afeta 35% da população adulta no Brasil, sendo uma condição
persistente por mais de três meses, que pode limitar funções diárias, afetar o
sono, comprometer a saúde emocional e gerar impactos sociais e econômicos
expressivos. Entre os idosos, a prevalência ultrapassa 50%, mas jovens também
podem ser acometidos. No entanto, é entre as mulheres que a dor crônica se
manifesta de forma mais intensa e frequente - cerca de metade das condições que
geram dores crônicas acometem mais mulheres.
Dr.
André Mansano, médico intervencionista da dor, explica que a ciência tem
demonstrado que uma combinação de fatores contribui para essa diferença. O
estrogênio, por exemplo, pode modular a percepção da dor, tornando as mulheres
mais sensíveis a certos estímulos. Além disso, diferenças na estrutura neural
entre os sexos influenciam essa sensibilidade. Questões psicológicas e sociais
também desempenham um papel importante: muitas mulheres enfrentam
subdiagnóstico e são frequentemente desacreditadas quando relatam dores
persistentes, levando a um atraso no tratamento adequado.
Um
estudo publicado na Pain Research and Management revela que normas de
gênero influenciam a percepção e o tratamento da dor crônica. Mulheres são
frequentemente vistas como “emocionais” ao expressar dor, enquanto homens são
percebidos como “corajosos”. Esses estereótipos podem levar a um viés no
atendimento, resultando em subdiagnóstico ou tratamentos inadequados para
mulheres. Além disso, a pesquisa sugere que normas de gênero podem afetar a
forma como pacientes comunicam sua dor e como os profissionais de saúde
interpretam esses relatos, influenciando decisões clínicas e a qualidade do
cuidado oferecido.
“Compreender
a dor crônica e seus impactos é essencial para desmistificar a condição e
permitir que os pacientes tenham acesso a um tratamento adequado. No caso das
mulheres, ainda enfrentamos o desafio de superar o viés de gênero que muitas
vezes leva à negligência dos sintomas”, explica o Dr. André Mansano.
Muitos
equívocos cercam a dor crônica, dificultando seu reconhecimento e tratamento.
Entre os mitos mais comuns estão:
- “Se a dor não aparece em exames, ela não
existe” — Muitas dores crônicas, como as
neuropáticas, não apresentam alterações visíveis em exames de imagem.
- “Repouso é sempre a melhor solução” — O
repouso prolongado pode piorar a condição, enquanto a atividade física controlada
é essencial para o manejo.
- “A dor crônica afeta apenas idosos” —
Jovens também podem ser acometidos, especialmente em casos de traumas,
doenças autoimunes e fibromialgia.
O
tratamento da dor crônica exige uma abordagem integrada. Segundo o Dr. Mansano,
o uso de medicamentos, como analgésicos e antidepressivos, pode ser combinado a
terapias físicas, psicológicas e intervenções minimamente invasivas, como
bloqueios nervosos e radiofrequência. “A prevenção é igualmente importante.
Exercícios regulares, boa postura, controle do peso e manejo adequado de dores
agudas podem evitar a cronificação do problema”, destaca.
A
dor crônica impacta a qualidade de vida de milhões de brasileiros e deve ser
encarada com seriedade. “O acesso a tratamentos especializados e a
conscientização sobre a condição são fundamentais para romper com os estimas e
melhorar a vida de quem sofre com a dor”, finaliza o especialista.
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