Mais de 80% dos jovens acompanhados vivenciaram ao
menos um evento traumático até os 18 anos
O estudo da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP), em parceria com a Universidade de Bath, no
Reino Unido, revelou uma forte ligação entre traumas na infância e o
desenvolvimento de transtornos psiquiátricos na adolescência. Publicada na
revista The Lancet Global Health, a pesquisa analisou dados de mais de 4
mil jovens brasileiros e identificou que mais de 80% deles vivenciaram ao menos
um evento traumático até os 18 anos.
Os
resultados indicam que o risco de desenvolver transtornos mentais, como
ansiedade, depressão e transtornos de conduta, aumenta conforme a exposição a
diferentes tipos de traumas. Estima-se que 30,6% dos diagnósticos aos 18 anos
estejam relacionados a experiências traumáticas na infância. Entre os eventos
analisados estão acidentes graves, desastres naturais, violência doméstica,
abuso físico e sexual, e a perda de um dos pais.
O
trabalho foi conduzido pela Profa. Dra. Alicia Matijasevich, da Faculdade de
Medicina da USP, e pela Profa. Dra. Sarah Halligan, da Universidade de Bath,
com a colaboração da estudante de doutorado Megan Bailey, primeira autora do
estudo, e contou ainda com a participação de pesquisadores brasileiros e
britânicos.
“Os
traumas na infância e adolescência têm um impacto significativo na saúde
mental. Nossos achados ressaltam a importância de estratégias de prevenção e
intervenção precoce para mitigar os efeitos desses eventos ao longo da vida
adulta”, afirmou a Dra. Alicia Matijasevich, professora associada do
Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP e coautora do artigo.
A
pesquisa também destaca que, embora existam estudos sobre o impacto de traumas
infantis em países de alta renda, há uma escassez de evidências em países de
baixa e média renda, onde a prevalência de adversidades na infância é maior e
os serviços de saúde mental são mais limitados.
“A
exposição à violência e outros eventos adversos é um fator de risco crucial
para o desenvolvimento de transtornos mentais. Isso reforça a urgência de
investir em políticas públicas voltadas à prevenção e ao apoio psicológico para
crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade”, enfatizou Megan
Bailey.
A
pesquisa analisou a base de dados da Coorte de Nascimentos de Pelotas de 2004,
um estudo que acompanha um grande grupo de pessoas e avalia os efeitos dos
fatores de risco sobre a saúde. Realizada no município de Pelotas, no Rio Grande
do Sul, foi financiada por instituições brasileiras e internacionais, como o
CNPq, a FAPESP, a UK Research and Innovation (UKRI) e a Universidade de Bath.
O estudo completo pode ser acessado AQUI.
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - FMUSP
www.fm.usp.br
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