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A morte de três milhões de abelhas está sendo investigada em Lontra, no interior paulista. E essa não é a primeira ocorrência do tipo no ano. Em janeiro, três fazendeiros foram indiciados, em Goiás, pela morte de mais de nove milhões de abelhas. A suspeita, nesse caso, é de uso de agrotóxicos proibidos no Brasil. Muito além da produção de mel, as abelhas têm um papel crucial para a produção de alimentos em todo o planeta, além da manutenção da biodiversidade. Com mais de 20 mil espécies espalhadas pelo mundo, elas são essenciais para os ecossistemas existentes e para a preservação ambiental.
Isso acontece porque esses pequenos insetos
desempenham funções fundamentais na polinização de diversas plantas. A
polinização é um processo que influencia na reprodução de mais de 75% das
culturas alimentares globais e 85% das plantas com flores, explica a doutora em
Ciência Biológicas e professora do Programa
de Pós-Graduação em Gestão Ambiental da Universidade Positivo (UP), Cíntia
Mara Ribas de Oliveira. "A polinização das abelhas nativas resulta em
frutos e sementes viáveis que são essenciais para a reprodução e sustentação de
plantas de alto valor ambiental e econômico, como o café e o açaí, por
exemplo", detalha. Ela ainda revela que essas abelhas nativas são
adaptáveis aos ecossistemas locais, sendo essenciais para a manutenção da
biodiversidade nos biomas.
Impactos na agricultura
No que diz respeito à agricultura, especificamente
no Brasil, as abelhas são fundamentais para a produção de diversas culturas de
exportação e consumo interno, como café, soja, maracujá, melão e laranja, entre
outras. "A polinização mediada por abelhas aumenta em até 30% a
produtividade de algumas culturas, e as abelhas nativas de espécies sem ferrão
são os principais polinizadores de cultivos tropicais", aponta Cíntia. No
caso do café, a polinização por abelhas não somente aumenta a produção, mas
também pode melhorar a qualidade dos grãos. Além disso, plantas como o
cajueiro, a goiabeira, o maracujá e a castanheira-do-Brasil são outras entre
tantas espécies que dependem da polinização por abelhas para se reproduzirem e
manterem uma produção sustentável.
A fauna também é impactada pela polinização das
abelhas, especialmente considerando as espécies de animais que consomem frutos
polinizados por elas, como pássaros frugívoros, insetos herbívoros e pequenos
mamíferos. A especialista explica que, além disso, há a possibilidade de
relações de mutualismo entre determinadas espécies de abelhas e outros animais,
como algumas aves, serem prejudicadas no caso de perdas na diversidade desses
insetos.
Impactos no meio ambiente
A polinização também está ligada a outros serviços
ecossistêmicos, como a regulação do clima e a preservação dos recursos
hídricos, visto que as plantas polinizadas contribuem para o ciclo hidrológico
e para a fixação de carbono, ajudando na mitigação das mudanças climáticas.
A especialista aponta que, no Brasil, essa
polinização sustenta a biodiversidade dos seis principais biomas — Amazônia,
Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa —, estabelecendo
ecossistemas resilientes e capazes de sustentar uma grande variedade de
espécies. "No Cerrado, por exemplo, o pequi e o baru são frutos que
dependem diretamente da polinização por abelhas para se reproduzirem. A perda de
abelhas poderia reduzir drasticamente a diversidade vegetal e impactar
ecossistemas inteiros, comprometendo espécies de animais herbívoros,
polinizadores secundários e predadores", ressalta.
Impactos de uma possível
extinção
Em um cenário possível de extinção das abelhas, os
impactos para o meio ambiente e também para os seres humanos seriam
devastadores. Cíntia revela que, para o agronegócio, a perda de polinizadores
em um país como o Brasil reduziria consideravelmente a produção de
culturas-chave e comprometeria a biodiversidade em várias regiões, com reflexos
negativos para a economia nacional. "Em estados mais voltados à produção
agrícola, a perda de plantas polinizadas resultaria em uma paisagem menos
diversificada e, consequentemente, mais suscetível à degradação
ambiental", prevê.
A especialista ainda aponta que, no agronegócio, o
valor econômico da polinização no Brasil é estimado em muitos bilhões de reais
anuais, e os futuros cenários de ausência de polinizadores forçariam uma
adaptação das práticas agrícolas, tornando as operações muito mais caras e
menos produtivas, impactando diretamente no custo dos alimentos e na economia
nacional. "Além disso, a falta de polinização natural afetaria a qualidade
dos frutos e vegetais, reduzindo o teor nutricional e comprometendo a segurança
alimentar no país", finaliza.
Universidade Positivo
up.edu.br/
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