DIA MUNDIAL DE COMBATE À AIDS
Aumento de casos de
HIV entre idosos evidencia a importância do combate à sorofobia
Especialista do Hospital Alemão Oswaldo
Cruz destaca que conscientização, acesso à informação e enfrentamento do
estigma são fundamentais para conter o avanço do vírus
No Dia Mundial de Combate à AIDS (1º de
dezembro), dados do Ministério da Saúde destacam o aumento expressivo de casos
de HIV entre pessoas com 60 anos ou mais no Brasil. Entre 2011 e 2021, foram
registrados 12.686 diagnósticos nessa faixa etária, refletindo uma tendência
preocupante. Em 2011, houve 360 casos confirmados, enquanto em 2021 o número
saltou para 1.517, um aumento de 321%.
Apesar disso, a taxa de detecção por 100 mil habitantes apresentou uma leve redução no mesmo período, o que pode ser atribuído ao envelhecimento demográfico e ao consequente crescimento da população idosa no Brasil. O volume elevado de diagnósticos ressalta a urgência de políticas públicas voltadas à prevenção, diagnóstico precoce e tratamento, considerando as mudanças no perfil epidemiológico causadas pelo envelhecimento da população.
Globalmente, em 2023, 1,3 milhão de pessoas foram infectadas pelo HIV, totalizando 39,9 milhões de pessoas vivendo com o vírus, sendo 53% mulheres e meninas, de acordo com o UNAIDS. Além disso, 630 mil mortes relacionadas à AIDS foram registradas no mesmo período. Esse cenário evidencia a necessidade de ações mais robustas de prevenção e diagnóstico precoce, inclusive entre as pessoas idosas.
A maior expectativa de vida, combinada
com uma vida sexual mais ativa e o aumento do uso de medicamentos para
disfunção erétil trouxe novos desafios para a saúde pública.
“Culturalmente, no Brasil, pessoas acima dos 60 anos não se consideram vulneráveis ao HIV, o que resulta em uma menor adesão ao uso de preservativos e menor busca por testagem”, afirma o Dr. Filipe Piastrelli, infectologista e coordenador do SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar) do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Essa vulnerabilidade é agravada pela persistência da sorofobia, o preconceito contra pessoas vivendo com HIV, que ainda impede muitos de buscarem apoio médico e tratamento, além de causar sofrimento psicológico significativo.
O preconceito relacionado ao HIV representa uma das maiores dificuldades no enfrentamento eficaz da doença. É fundamental promover ambientes inclusivos e acolhedores para estimular a realização de testes e o acesso ao tratamento, especialmente entre os idosos", ressalta Dr. Piastrelli.
Uma das principais estratégias para enfrentar a situação é a ampliação do acesso à PrEP (profilaxia pré-exposição), disponível gratuitamente no SUS (Sistema Único de Saúde).
A PrEP, que consiste no uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas não infectadas, mas em risco de exposição ao vírus, tem se mostrado altamente eficaz na prevenção do HIV. Contudo, seu uso ainda é pouco disseminado entre pessoas idosas, em grande parte devido à falta de campanhas direcionadas para esse público e ao tabu em abordar questões de sexualidade nesta faixa etária.
“A inclusão da terceira idade nas
estratégias de prevenção, como a oferta da PrEP, e em campanhas educativas que
abordem a sexualidade de forma aberta e sem preconceitos, é essencial para
reduzir as infecções e o impacto social da sorofobia”, completa o médico.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce também desempenha um papel crucial na resposta ao HIV. Além de possibilitar o início imediato do tratamento, ele interrompe a cadeia de transmissão do vírus. Atualmente, o Brasil oferece medicamentos gratuitos pelo SUS, permitindo que pessoas vivendo com HIV alcancem a carga viral indetectável, o que elimina o risco de transmissão. No entanto, a discriminação ainda afasta muitos do acesso ao sistema de saúde e dificulta o enfrentamento do diagnóstico.
O combate ao HIV exige mais do que
medicamentos e testagem. É necessário enfrentar barreiras sociais e culturais
que perpetuam preconceitos e dificultam o acesso à saúde. Profissionais de
saúde devem atuar como agentes de mudança, promovendo um atendimento acolhedor
e inclusivo. Além disso, é fundamental que a sociedade reconheça a importância
de combater a sorofobia, pois o preconceito não apenas prejudica o indivíduo,
mas também representa um obstáculo coletivo no enfrentamento da epidemia.
Hospital Alemão Oswaldo Cruz
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