Num pleito marcado pela disparada de um outsider, Javier Milei, o resultado do primeiro turno das eleições argentinas surpreendeu. Vencedor das primárias e franco favorito para vencer até mesmo em primeiro turno, Milei ficou atrás do atual ministro da Economia, Sérgio Massa. Javier Milei, nascido em Buenos Aires e com 53 anos, é líder do movimento Libertad Avanza. Milei é economista, político, professor, escritor e deputado, e vem revolucionando a política argentina com um perfil conservador anarcocapitalista de extrema direita.
Sérgio Massa também é natural de Buenos Aires, tem
51 anos, é advogado e membro da Unión por la Pátria. Massa é o atual
ministro de Economia, Agricultura e Desenvolvimento Produtivo da Argentina
desde 2022, trazendo consigo uma forte tendência peronista e progressista que
governa o país desde 2019.
Entre esses dois candidatos, o que vimos no
domingo, dia 22 de outubro, é que a possibilidade de reinvenção do sistema
político argentino está ao bordo de ser uma ideia do passado. A surpreendente
arrancada e vitória do atual ministro da Economia deixou até mesmo os
argentinos surpresos. O peronista obteve um total de 36,7% dos votos totais,
deixando o deputado ultraliberal Javier Milei, com 30%, em segundo lugar.
Um dos fatores que mais causa espanto no resultado
do pleito recente são os números da economia argentina, gerenciada por Sérgio
Massa: desemprego em 6,2%, inflação na casa de 140%, 40% da população na
miséria e taxa de juros em 130% ao ano. Ao conquistar 9.645.983 milhões de
votos, tem-se que parte do povo argentino parece referendar o total desastre
econômico.
Diferente do resultado de domingo, Milei ganhou as
eleições primárias argentinas, que ocorreram no dia 13 de agosto, e liderou as
pesquisas eleitorais desde então, nas quais a maioria dos votantes vinha
dizendo não a Massa, deixando-o em segundo lugar. Entretanto, seja por
eleitores novos, política hereditária ou identidade peronista, é possível
observar que a população argentina está mudando de ideia dramaticamente,
dividindo-se em dois polos e, pela maioria, optando por um candidato mais
conhecido – Massa, que tem um pouco mais de duas décadas de política; enquanto
Milei desenvolveu uma carreira como economista corporativo e entrou
praticamente agora no ramo. Igualmente, é inegável que Milei vem captando a
atenção na Argentina e no exterior pelo seu belicoso estilo político, o qual
gerou comparações com Donald Trump e com o ex-presidente do Brasil, Jair
Bolsonaro.
Após o resultado de domingo, o dólar blue, cotação
não oficial da moeda estadunidense que se vende na rua, fora da fiscalização do
Banco Central, deu um grande salto na cotação, superando os 1.000 pesos
argentinos pela 1.ª vez na história. Ainda assim, os vizinhos votaram em Massa.
Há quem acredite que muito do voto na situação foi uma reação a falas recentes
de Milei, em especial contra o auxílio social do qual depende cerca de metade
da população argentina.
Entre o novo e incerto – bem incerto – e o velho e
conhecido peronismo, o primeiro turno argentino mostrou que uma população
empobrecida e necessitada acaba preferindo a segurança dos erros do presente.
Agora, ambos os candidatos irão disputar a presidência no segundo turno, que
ocorrerá no dia 19 de novembro. Até lá haverá uma intensa campanha eleitoral, e
ambos os candidatos buscarão os 6.267.152 milhões votos da terceira colocada,
Patrícia Bullrich. Se antes a vitória de Milei parecia inevitável, agora segue
incerta a disputa pela Casa Rosada.
João Alfredo Lopes Nyegray - doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior e do Observatório Global da Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray
Victoria Rabel - aluna do curso de Comércio Exterior e membro do Observatório Global da Universidade Positivo (UP).
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