A médica Sabrina Chagas, da Oncologia D’Or, afirma que 20% das mulheres com a doença se divorciam ou são abandonadas durante o tratamento.
Em
2023, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima que 74 mil novos casos de
câncer de mama serão diagnosticados no País. Entre as grandes consequências
deste tipo de câncer está o impacto na vida sexual da mulher e do casal. A
quimioterapia, por exemplo, provoca a queda do cabelo da paciente e pode
induzir à menopausa, o que diminui a libido, altera o humor e contribui para o
ressecamento vaginal. A retirada total ou parcial dos seios, símbolos da
feminilidade, é um forte golpe na autoestima. A mulher se olha no espelho e não
se reconhece.
“Estudos
internacionais apontam que 20% das mulheres são abandonadas ou se divorciam
durante o tratamento”, constata a oncologista Sabrina Chagas, da Oncologia
D’Or. A Sociedade Brasileira de Mastologia divulgou uma pesquisa apontando que
no País essa proporção chega a 70%. Pesquisadores da Universidade da Flórida1,
nos Estados Unidos, estudaram os fatores que influenciam na dissolução
conjugal. Os casais entrevistados afirmaram que, após o diagnóstico, tiveram
conversas mais abertas e conflitos frequentes, passando a se sentir estranhos
uns para com os outros.
Vencendo um tabu
Na
sociedade brasileira, o sexo ainda é um tabu. “Não raro as mulheres não
conhecem seus corpos, não conversam sobre sexo com seus parceiros e parceiras.
E, durante um tratamento oncológico, esse tema fica mais difícil de ser
abordado”, observa a médica Sabrina Chagas.
Além
do parceiro, a paciente precisa conversar também com o seu médico. Pesquisa2
recente revela que, embora mais de 70% das mulheres com câncer mama tenham
disfunção sexual, a maioria nunca discutiu o tema com o seu oncologista.
“Muitas evitam falar sobre o assunto porque acham que é besteira trazer isso
numa consulta, o que não é porque a sexualidade está ligada ao seu bem-estar”,
esclarece a médica.
Para a oncologista, é importante o casal desmitificar a questão da
sexualidade no câncer de mama. Muitas vezes, o homem sente saudades do contato
íntimo do casal, mas não fala nada para a companheira. Por outro lado, a mulher
acredita que, por ter feito uma cirurgia na mama, o companheiro perdeu o desejo
por ela. Nessas horas, o diálogo franco é o melhor caminho. Quando necessário,
os dois podem procurar terapeutas de casais.
Ao enfrentar a doença, a mulher e seu companheiro devem tentar manter
a vida social que tinha antes do diagnóstico, porque essa rotina reforça o elo
entre o casal e contribui para o bem-estar físico e emocional da paciente.
Alimentação saudável e atividade física também são essenciais para melhorar os
sintomas da doença.
Em seu artigo Melhorando as
conversas entre médico e paciente sobre os efeitos colaterais da terapia
endócrina do câncer de mama2, publicada mês passado na revista ASCO Daily News, a médica
oncologista Laila S. Agrawal, do Norton Cancer Institute, nos Estados Unidos
aconselha seus colegas a indicarem óleos hidratantes para as mulheres lidarem
com o ressecamento vaginal. Outras opções são a fisioterapia pélvica e
procedimentos íntimos a laser.
Muitos medicamentos comumente prescritos após o
câncer de mama, incluindo terapia endócrina, antidepressivos, analgésicos,
ansiolíticos e antieméticos, podem diminuir a libido, que pode afetar 50% a 70%
das sobreviventes da doença3. No seu artigo, a oncologista
norte-americana Laila
S. Agrawal recomenda aos médicos oferecerem às
suas pacientes aconselhamento em consultório, foco sensorial, atenção plena,
terapia cognitivo-comportamental e encaminhamento para conselheiros
psicossociais ou terapeutas sexuais2.
Oncologia D'Or
Referências
1.Wiesemann, Gayle et al. Changes in Marital Status after Receiving the Diagnosis of Breast Versus Prostate Cancer: A Population-based Study. Plastic and Reconstructive Surgery - Global Open 10(10S):p 133-134, 2022.
2. Laila Agrawal. Improving Physician–Patient Conversations on Sexual Side Effects of Endocrine Therapy in Breast Cancer. ASCO Daily News. September 20, 2023.
3. Barton DL, Pugh SL, Ganz PA, et al. Randomized controlled phase II evaluation of two dose levels of bupropion versus placebo for sexual desire in female cancer survivors: NRG-CC004. J Clin Oncol. 2022;40(4):324-334.
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