De
“Abracadabra” a “Alakazan”, a plataforma de idiomas Preply revela de onde vêm as
palavras mágicas presentes nos nossos livros, filmes e séries de TV
“Abracadabra!”. “Alakazan!”. “Sim Salabim!”. Seja ao erguer uma varinha de condão ou usar o famoso pó de pirlimpimpim, é provável que você já tenha ouvido (e repetido!) algumas dessas palavras mágicas sendo ditas por bruxinhos e feiticeiros nas histórias infantis por aí. Não é por acaso: entre brincadeiras escolares e performances teatrais, ao longo dos anos, diversos encantamentos se mantiveram presentes em nosso imaginário popular, fascinando gerações de crianças e adultos ao redor do mundo — embora seus significados, para boa parte das pessoas, ainda sejam um mistério.
Mas, afinal, de onde vêm e o que de fato significam os feitiços que vez ou outra ganham vida nas histórias de bruxos como a saga “Harry Potter” e “Sabrina, Aprendiz de Feiticeira”? Para compreender suas origens históricas e diferentes usos, neste Halloween, a plataforma de idiomas Preply traz curiosidades linguísticas sobre encantamentos emblemáticos… e que costumam ser repetidos de forma semelhante nas mais diferentes línguas ao redor do mundo!
Como num passe de mágica: a origem da palavra “Abracadabra”
Quando o assunto são as referências do mundo mágico, mesmo os menos familiarizados com certas expressões certamente conhecem a palavra “Abracadabra”, um verdadeiro símbolo do dicionário bruxês e a inspiração para filmes como o clássico “Abracadabra” (1993) e a canção de mesmo nome da banda estadunidense Steve Miller Band.
Isso porque, embora não possua um efeito universal dentro de todas as narrativas místicas, estamos falando do maior clichê reproduzido por magos poderosos, que geralmente a proferem para realizar encantamentos como curar feridas e enfermidades, transformar pessoas em animais e até mesmo criar fogo a partir do nada. Já fora das telas, sobretudo durante shows de mágica e peças teatrais, também não é incomum ouvi-la da boca de ilusionistas, que reforçam a sensação de “verdade” em suas performances com a suposta energia de tais palavras.
O que a sonoridade da frase esconde é o fato de que, mesmo soando como um amontoado de sílabas sem sentido, sua origem pode ser explicada a partir de idiomas reais, com expressões que possivelmente originaram a versão que chegou até nós.
A hipótese mais provável, nesse sentido, é a de que “Abracadabra” tenha vindo do hebraico “Ebrah k'dabri” (“Eu criarei enquanto falo”) ou “Avra gavra” (“Eu criarei o homem”), com sentidos que convergem para a ideia de que “as palavras têm poder”. Não é à toa que, durante o século III, essa máxima foi bastante usada como um encantamento ou amuleto para proteção contra doenças e males — sendo até mesmo prescrita por médicos da época.
“Alakazan”, “Sim Salabim” e outros feitiços favoritos das bruxas
Diferentemente da palavra “Abracadabra”, que remonta de forma direta a certos dizeres hebraicos, nem todos os ditos mágicos parecem guardar relações lógicas com as frases que os originaram.
Esse é o caso do velho conhecido “Alakazan”, por exemplo, elemento indispensável nas apresentações teatrais e que costuma ser atrelado por etimologistas à expressão árabe “Al qasam” (القَسَم) — que significa nada mais, nada menos do que “juramento”. Entre aqueles que não concordam, por sua vez, o consenso é o de que se trata de uma palavra inventada e sem sentido exato, tal qual o também famoso “Sim Salabim”.
E quanto a “Hocus Pocus”, feitiço que já se tornou música, filme e até mesmo uma marca? Em meio a suas inúmeras teorias, a mais comum (e nem por isso menos controversa) é a de que, na verdade, trata-se de uma variação da frase em latim “Hoc est corpus meum” (“Este é o meu corpo”). Algo soa familiar? Pois saiba que, sim, você não se confundiu: é exatamente o que dizem os padres católicos durante a celebração da Santa Missa, sobretudo durante o momento de consagração do pão e do vinho.
O encantamento “Shazam”, por sua vez, não é um caso à parte apenas por ter se tornado o grito de guerra de diversos super-heróis, mas também pela origem histórica peculiar. Afinal, diferente dos demais feitiços, essa não é uma palavra derivada de línguas ancestrais, mas o resultado da junção da primeira letra do nome de grandes figuras míticas: Salomão (S), Hércules (H), Atlas (A), Zeus (Z), Aquiles (A) e Mercúrio (M), o que explicaria a concessão de habilidades extraordinárias a quem a exclama.
Com “Abre-te, Sésamo” (em francês "Sésame, ouvre-toi" e, em árabe, "افتح يا سمسم"), expressão mágica que abre a caverna de “Ali Baba e os quarenta ladrões”, o mistério está menos ligado à sua gênese e mais ao entendimento da frase, à primeira vista confusa mesmo estando em português. Quem seria Sésamo? Ou melhor, o que seria Sésamo?
Uma breve atualização do português europeu clássico é capaz de resolver um pouco as coisas, já que “Abre-te, Sésamo” pode ser reescrita no nosso idioma como “Se abra assim como um Sésamo” — nome alternativo para o que aqui chamamos de “gergelim”. A ordem mística, portanto, traça uma analogia entre a função do feitiço (abrir cavernas) e o desabrochar das sementes da planta, que vai se abrindo bem aos poucos até liberá-las completamente.
As magias do universo “Harry Potter” explicadas
Que o universo da saga “Harry Potter” é permeado por referências não é novidade para ninguém, certo? O que muitas pessoas não sabem é que JK Rowling, a autora da série de livros do bruxinho mais famoso do mundo, realizou um intenso trabalho de pesquisa para chegar aos nomes dos feitiços presentes nas sete obras, recorrendo a misturas entre termos reais e inventados.
Prova disso é o fato de boa parte dos encantamentos conjurados por Harry, Rony e Hermione serem facilmente explicados com uma imersão básica em línguas como o latim, hebraico e aramaico. Um bom exemplo é a famosa Maldição da Morte “Avada Kedavra”, que, mesmo lembrando a expressão “Abracadabra” em um primeiro momento, na realidade vem do aramaico "Adhadda kedhabhra" ("Destrua-se" ou "Que seja destruído").
Agora, você se lembra da cena em que a bruxinha Hermione ensina seus amigos a pronunciarem o feitiço “Wingardium Leviosa”, que faz com que os objetos levitem com a ajuda da varinha? Trata-se de mais um caso onde o efeito do encantamento é indicado por sua própria etimologia, visto que, aqui, temos a junção dos termos “wings”, que em inglês significa “asa”, “arduus” (cuja tradução do latim seria algo como “íngreme” ou “rígido”) e “levo” (“levantar” em latim).
A inspiração no latim, aliás, reaparece em várias outras terminologias da saga, entre elas os icônicos “Lumos”, “Nox”, “Expelliarmus”, “Expecto Patronum” e, ainda, “Petrificus Totalus” — cuja estrutura possui uma lógica similar à da magia de levitação. É que, dessa vez, compõem a palavra tanto o idioma grego quanto o latim: do primeiro, a expressão “petrus” (“pedra”) e, do segundo, “ficus” (“fazer”) e “totalus” (“total”).
Seriam as histórias contadas por cada um desses feitiços, afinal, um dos segredos para a longevidade da obra, que segue encantando gerações de leitores tantos anos após seu lançamento? É muito provável que sim. Afinal, o uso criativo de idiomas reais dá aos fãs a sensação de que a magia está ancorada de alguma forma nas nossas próprias vidas — um exemplo brilhante de como a ficção pode ser enriquecida com elementos do mundo real.
Preply
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