Das primeiras
discussões, a partir de 2018, até o presente, o Open Finance já pode ser
considerado um sucesso no Brasil. Disto não tenhamos dúvida. A democratização
das transações por meio do PIX é algo notável e que mostra como o país é um dos
pioneiros no uso compartilhado de informações de clientes (sempre com
consentimento), favorecendo serviços e produtos desenvolvidos de maneira
personalizada. Mas só estamos arranhando a superfície do enorme potencial que,
com a Inteligência Artificial (IA), será liberado nos próximos anos.
Digo isso diante
de um cenário que, segundo algumas pesquisas divulgadas recentemente, ainda indicam uma baixa adesão ao Open Finance no país. Em comum entre cada
um desses levantamentos está o fato de pessoas físicas e jurídicas ainda
enxergarem pouco ou nenhum benefício direto e claro para, de fato, compartilhar
os seus dados. Entendo bem esse sentimento: se não entendo o benefício de algo,
dificilmente vou aderir. O meu pai mesmo, apesar de saber o quanto uso a
tecnologia a meu favor nesta área, ainda vai ao banco.
A rápida e
crescente adoção da IA no ambiente tecnológico e financeiro pode ser justamente
o “motor” que o Open Finance precisa para se expandir de fato no Brasil.
Instituições financeiras e consultores deixaram de lado a ótica sonhadora que
norteou o processo de desenvolvimento do compartilhamento de dados, preferindo
métricas e metas mais próximas ao chão do que lançar mão de nomenclaturas
complexas para ofertas e propostas que o principal interessado, o consumidor
final, não entende. Não é possível se iludir: é esperado ter medo de ceder as
suas informações.
Ao ter mais e mais
capacidade de lidar com grandes volumes de informação, a IA pode auxiliar no
desenvolvimento de soluções e ofertas mais traduzidas, ou até minimalistas no
sentido de atender a um determinado público-alvo. Estamos falando de análises
mais rápidas e precisas que, por exemplo, possam gerar possibilidade de crédito
para bons pagadores com vantagens, ou processos de autenticações modernos e
super seguros quando da compra e venda de carros e imóveis, tudo online e em
tempo real. São apenas dois simples exemplos que podem alavancar não só o Open
Finance, mas todo o universo Open que está chegando (Open Insurance e Open
Investment, mais precisamente).
Assim como
mostraram as pesquisas que mencionei anteriormente, parte da culpa passa pelas
próprias instituições financeiras, que nem sempre conseguiram oferecer e
informar os seus clientes sobre mais de 45 serviços integrados ao Open Finance
oferecidos pelos bancos associados, como agregadores financeiros, iniciação de
pagamentos e serviços voltados para cashback. Já de olho em 2024, o momento
é de traduzir e simplificar por objetivos de curto prazo mais claros e críveis.
Neste sentido, ter uma estratégia como embarcar soluções de IA em projetos a
favor de novos produtos personalizados é essencial.
Em suma, não basta
mais tentar associar Open Finance a crédito, como tentou-se no início. O
benefício deve ser demonstrado de diferentes formas, de tal forma que cada
cliente, individualmente, enxergue como poderá contratar um seguro mais barato
(e mais aderente a sua real necessidade) ao compartilhar os seus dados, ou como
ceder informações financeiras pessoais pode lhe render vantagens em compras no
varejo ou quem sabe, até sugestões de viagens/compras que são tão sua cara que
parece alguém leu sua mente.
São ganhos factíveis que podem ser obtidos por meio deste enriquecimento de dados, que só é possível dado ao Open Finance potencializado com insights obtidos através do uso de Inteligencia Articial. As vantagens que já vemos e ainda enxergaremos no nosso dia a dia são inúmeras. Resta a nós, que atuamos nos bastidores, agir de maneira mais estratégica e clara para que milhões de brasileiros sintam a sua vida impactada pelo Open Finance. Se você aprova o PIX, não subestime o que vem por aí.
Sérgio
Favarin - VP of Capital Markets & Financial Services da GFT Technologies no
Brasil, tendo atuado diretamente junto a Federação Brasileira de Bancos
(Febraban) e Banco Central nas duas primeiras fases do projeto de Open Banking.
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