Atitudes radicais,
situações extremas e violências podem ser decorrentes de ausência de escuta e
acolhimento de emoções, sentimentos e angústiasPixabay
Ataques violentos em escolas envolvendo crianças e
adolescentes tumultuaram as mídias nos últimos dias. Na última segunda-feira,
dia 27/03, numa escola estadual na zona sul de São Paulo, um aluno de 13 anos
atacou diversas pessoas com uma faca e uma professora de 71 anos foi a óbito.
No mesmo dia, ao menos três crianças e três adultos foram mortos em um ataque a
tiros em uma escola na cidade de Nashville, no estado americano do Tennessee.
Em 28/03, um aluno de 15 anos foi detido em uma escola no Rio de Janeiro após
tentar esfaquear colegas.
A partir desses graves e lamentáveis
acontecimentos, infelizmente podemos perceber como essas crianças foram e estão
sendo expostas a uma violência gigantesca. Não só as vítimas, mas os agressores
certamente estiveram em contato com situações, falas, contextos, ambiente e
práticas agressivas que estimulam a violência.
Tudo isso nos leva a refletir em como as nossas
crianças têm sido educadas, protegidas e orientadas. O que leva crianças e
adolescentes a terem atitudes tão radicais e extremas como essas? Quais são
suas vivências? Em quais realidades estão inseridos? Claro que nada é
justificável, porém é importante pensar em como esse sentimento de ódio e essa
prática violenta nasceu e foi alimentada, para que saibamos cuidar das nossas
crianças antes que elas alcancem esse nível de agressividade e estejam
vulneráveis a cometer crimes.
Quando situações extremas como essas ocorrem
geralmente representam o estopim de algo muito profundo que foi semeado por
muito tempo e não se limita às atitudes das crianças que cometeram os atos. Por
essa razão, é extremamente importante que pais e familiares estejam atentos aos
menores detalhes, sinais de alerta e situações nas quais as crianças estão
expostas, seja dentro do convívio familiar, da escola, em brincadeiras com
amigos, etc.
As crianças e adolescentes precisam ter um espaço
de escuta pelos pais, se sentir à vontade para expressar sentimentos e contar o
que os angustia dentro dos ambientes em que estão inseridos.
No consultório, com certa frequência, atendo
crianças que têm problemas de expressar suas emoções e possuem uma grande
desregulação. Não sabem lidar com frustrações, desentendimentos, perdas e muito
menos com a raiva. Todos esses sentimentos e comportamentos precisam ser trabalhados,
ouvidos e desenvolvidos, para que os frutos não sejam amargos e penosos, assim
como ocorreu nessas escolas. Nesses momentos, o papel do terapeuta é
fundamental, não só em tratar das crianças, mas também em orientar os
responsáveis. Além disso, todas as pessoas que presenciaram situações de
violência também precisam de um acompanhamento psicológico e muito respaldo
nesse momento tão delicado. Quando essas vivências não são bem tratadas, podem
exercer consequências preocupantes na vida das crianças vítimas de tamanha
catástrofe e destruição.
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