De acordo com um estudo da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as perdas na produção de alimentos devido a doenças vegetais podem chegar a 30%, sendo os fungos os principais causadores. É neste cenário que entram os fungicidas, compostos químicos que atuam na prevenção e controle dessas doenças nas lavouras. No entanto, escolher a opção certa pode ser uma tarefa desafiadora. Neste artigo, vamos apresentar algumas dicas importantes para ajudá-lo a escolher o fungicida ideal para suas plantas.
Para fazer a escolha mais assertiva, é importante
levar em consideração diversos fatores, como o tipo de cultura que será
tratada, o estágio de desenvolvimento da planta, as condições climáticas, os
patógenos presentes, a gravidade da infecção, entre outros. O primeiro passo é
entender as principais doenças que afetam a cultura que será cultivada, isso
permitirá a escolha do produto que seja eficaz contra a doença específica que
está afetando as plantas em questão.
Existem várias doenças fúngicas que afetam as
culturas no Brasil. Dentre elas, podemos destacar a ferrugem asiática da soja (Phakopsora
pachyrhizi), mancha branca do milho (Phaeosphaeria maydis),
mancha de alternária no algodoeiro (Alternaria macrospora), podridão
vermelha da cana (Colletotrichum falcatum) e tantas outras.Uma vez
identificadas as doenças que ameaçam a cultura, é imprescindível possuir
conhecimento técnico para a escolha dos produtos mais adequados, os quais
poderão atuar prevenindo ou controlando os patógenos.
Mas, como escolher a opção certa de moléculas para
proteger suas plantações? A resposta envolve entender os mecanismos dos
diferentes fungicidas e suas especificidades, atentando-se a forma como eles
atuam para inibir o crescimento e desenvolvimento do patógeno. Os fungicidas
podem ser divididos em dois grupos principais: os de contato, os quais
permanecem na superfície da planta, e os sistêmicos, os quais são absorvidos e
distribuídos por todo o seu sistema vegetal. É importante entender essas
diferenças para escolher a opção mais adequada.
Fungicidas de contato
Os fungicidas de contato, também conhecidos como
tópicos ou imóveis, apresentam ação protetora, sendo usados na prevenção contra
novas infecções por fungos. Eles são aplicados diretamente nas partes da planta
que precisam ser protegidas, criando uma camada protetora que impede a entrada
dos fungos no tecido vegetal. São recomendados na prevenção contra uma ampla
variedade de doenças em plantas, como ferrugem, míldio, podridão, entre outras.
Os principais produtos classificados como de
contato são os cúpricos, a base de enxofre ou estanho, assim como os
ditiocarbamatos, folpete, clorotalonil e outros. É importante ressaltar que os
fungicidas de contato não são eficazes contra todas as doenças fúngicas,
variando em relação a espécie e estádio de infecção do fungo, tendo também
influência em sua efetividade pelas condições ambientais.
Fungicidas sistêmicos e
mesostêmicos
Os fungicidas sistêmicos e mesostêmicos possuem
alguma mobilidade dentro da planta, e atuam de diversas formas para proteger as
culturas contra doenças fúngicas. Os sistêmicos são absorvidos e distribuídos
por toda a planta através de seu sistema vascular, o que os torna mais eficazes
no combate a infecções internas e mais generalizadas. Os mesositêmicos também
possuem mobilidade na planta, contudo de forma mais limitada, sendo distribuído
apenas dentro do mesmo órgão vegetal, tendo pouca ou nenhuma distribuição pelo
sistema vascular.
Entre os principais grupos de fungicidas que
possuem alguma mobilidade na planta podemos citar os benzimidazóis e
tiofanatos, triazóis, novas carboxamidas como o bixafen, estrobilurinas e
outros. Além disso, é importante ressaltar que estes fungicidas apresentam
diferentes níveis de seletividade, ou seja, alguns podem afetar apenas
determinados grupos de fungos, enquanto outros podem afetar um amplo espectro
de micro-organismos. Por isso, é fundamental buscar informações das
recomendações de cada produto formulado, consultando a bula e suas indicações
para cada cultura, a fim de garantir a máxima eficácia do tratamento.
Os mecanismos de ação
Como visto anteriormente, um fungicida pode ser
móvel ou imóvel dentro da planta, e cada molécula química possui um mecanismo
de ação, atuando de diferentes formas contra o patógeno. O Comitê de Ação de
Resistência de Fungos a Fungicidas (FRAC) agrupa os produtos nos seguintes
mecanismos de ação:
- Síntese
de ácido nucléico;
- Mitose
e divisão celular;
- Respiração;
- Síntese
de aminoácidos e proteínas;
- Transdução
de sinal;
- Síntese
de lipídio e integridade da membrana;
- Biossíntese
de esterol nas membranas;
- Biossíntese
de parede celular;
- Síntese
de membrana na parede celular;
- Ação
multissítio;
- Indução
de defesa da planta hospedeira;
- Não
classificados.
Mecanismo de ação desconhecido
Cada um destes grupos é ainda classificado em
sub-grupos, especificando ainda mais o modo de ação. Entender onde o produto
atua na estrutura do patógeno é essencial no manejo contra a resistência, visto
que muitos produtos comerciais possuem nomes diferentes, mas atuam na mesma
estrutura do fungo. A repetição da forma de ataque ao patógeno pode culminar na
resistência do mesmo ao produto, o qual poderá perder sua eficácia e limitará
as opções futuras do produtor para proteger sua lavoura.
Neste sentido, é recomendado ao produtor que
observe na bula a indicação de atuação do composto, e realize a rotação dos
mecanismos de ação dos fungicidas, buscando aplicar em sua área produtos que
atuem de diferentes formas contra os fungos. Uma estratégia que tem sido muito
indicada no manejo antirresistência, é a incorporação nas aplicações de
misturas com produtos de mecanismo multissítio. Isto se deve aos produtos com
esta classificação atuarem em diferentes pontos metabólicos do fungo,
dificultando assim o desenvolvimento de resistência pelo mesmo. Dentro dos
multissítios podemos citar o mancozeb, clorotalonil, cúpricos e a base de
enxofre.
Segurança na aplicação
Outro fator importante a ser considerado ao
escolher um fungicida é a sua toxicidade. Alguns fungicidas podem ser tóxicos
para os seres humanos e animais, prejudicando o meio ambiente. Portanto, é
importante avaliar e dar preferência a um fungicida que seja mais seguro para o
uso em suas plantações. Antes de comprar um fungicida, verifique a
classificação toxicológica. Fungicidas com classificação toxicológica de classe
III e IV são considerados menos tóxicos para o meio ambiente, enquanto os fungicidas
com classificação de classe I e II são considerados com maior periculosidade
pelo IBAMA. Sempre busque a orientação de um agrônomo e esteja atento às
recomendações contidas na bula do produto formulado.
Os fungicidas são produtos que passam por vários
testes antes de sua liberação para uso, sendo considerados seguros. Contudo,
deve-se estar atento ao período de carência, que é o tempo necessário entre a
aplicação do fungicida no campo e a colheita dos alimentos. Esse período varia
de acordo com o produto e deve ser respeitado para garantir a segurança dos
consumidores.
Para garantir a eficácia dos fungicidas, é
essencial seguir as recomendações de dosagem e aplicação recomendadas pelos
fabricantes. Além disso, é importante adotar boas práticas agrícolas, como a
rotação de culturas e o uso de variedades resistentes a doenças, para reduzir a
dependência do uso de produtos químicos.
Por fim, o monitoramento da lavoura é uma prática
essencial para a otimização da produção, visto que é chave para a identificação
inicial de doenças, assim como possibilita avaliar a eficiência dos produtos e
manejos adotados na lavoura. Existem no mercado diversas ferramentas que podem
ajudar a proporcionar mais eficiência nessa árdua tarefa. Entre elas destaca-se
o Sistema Integrado de Monitoramento Agrícola (SIMA), que busca facilitar o
gerenciamento do cultivo, proporcionando a adoção de decisões mais assertivas
no campo.
A ferramenta funciona de forma muito simples. Basta
baixar o aplicativo que é gratuito e fazer o cadastramento e pronto. A partir
daí entra a inteligência da ferramenta. A solução acessível a todos os
públicos, desde pequenos e médios produtores, até grandes grupos, consultores
individuais, agroindústrias, cooperativas ou rede de distribuição de insumos,
permite controle total da lavoura de forma remota. Uma plataforma simples,
completa e inteligente que possibilita localizar e georreferenciar dados de
campo além de ter imagens de satélites você pode monitorar pragas, doenças e
daninhas.
Maurício
Varela - Engenheiro
Agrônomo e Co-Founder da agtech SIMA
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