Surgimento de distúrbios neurológicos e doenças autoimunes indicam a necessidade do explante
Desde 2018, os números de explante de prótese mamária crescem no Brasil. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, naquele ano, 14,6 mil cirurgias de retirada de silicone foram realizadas. Em 2019, o índice pulou para 19,4 mil, e em 2020, chegou aos 25 mil.
De fato, o explante de silicone virou tendência, principalmente
após diagnósticos de doenças causadas pela prótese. Mas, como saber se há
necessidade da retirada? Quem tira as dúvidas é Luís Felipe Maatz, cirurgião
plástico, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, membro da Sociedade Brasileira de
Cirurgia Plástica (SBCP) e especialista em Reconstrução Mamária pelo Hospital
Sírio-Libanês.
Em quais situações é recomendado o explante de silicone?
Alguns sintomas podem indicar essa possível necessidade:
Critérios maiores:
Exposição a um estímulo externo, como infecções, antes das
manifestações clínicas abaixo
- Mialgia, miosite ou fraqueza muscular
- Artralgia e/ou artrite
- Fadiga crônica, sono não repousante ou distúrbios do sono
- Manifestações neurológicas, especialmente associadas com
desmielinização (Muitos nervos são revestidos de mielina. Quando está
desgastada ou danificada, os nervos podem se deteriorar, causando problemas no
cérebro. Danos à mielina ao redor dos nervos são chamados de desmielinização)
- Alteração cognitiva, perda de memória
- Febre, boca seca
Critérios menores:
- Aparecimento de autoanticorpos
- Síndrome do cólon irritável
- Surgimento de uma doença autoimune, como esclerose múltipla ou
esclerose sistêmica
“Por isso, a avaliação é fundamental para exclusão de outras
doenças que podem causar os mesmos sintomas. A cirurgia de retirada das
próteses pode ser considerada como opção, em conformidade com o desejo da
paciente e seu entendimento de que os sintomas poderão, eventualmente,
continuar. Mas há muitos relatos de pacientes que foram submetidas ao explante
e tiveram melhora ou resolução de sintomas”, diz Luís Felipe Maatz.
Como é feito o diagnóstico das doenças causadas pelo
silicone?
Para o diagnóstico, são necessários pelo menos a presença de dois
critérios maiores e dois menores (citados acima).
Qual a probabilidade de uma mulher com prótese ter algum
tipo de complicação?
Os riscos dessa cirurgia geralmente são baixos e podem ser
classificados em ordinários (relacionados a todo procedimento cirúrgico, como
hematoma, infecção, abertura de pontos, cicatrizes inestéticas, alterações de
sensibilidade, dores no local operado, aparecimento de estrias) e específicos
(relacionados ao implante em si, como contratura capsular, ruptura da prótese e
o chamado tumor anaplásico de células gigantes, um raro linfoma que pode se
desenvolver na cápsula que se forma ao redor de próteses).
“Vale lembrar que as contraindicações para o implante são
basicamente as mesmas para qualquer outra cirurgia plástica (como doenças
sistêmicas descompensadas ou contraindicações a anestesia), além daquelas
relacionadas às mamas, como período de amamentação atual ou recente e algumas
doenças mamárias ativas”, reforça Luís Maatz.
O que pode ocorrer depois do explante?
Após o explante, em praticamente todos os casos há necessidade de
realização de uma mastopexia (retirada de pele e reposicionamento dos tecidos
mamários) para o melhor resultado estético. Assim, caso a cirurgia anterior
tenha sido apenas de colocação das próteses, haverá cicatrizes maiores do que a
da cirurgia anterior de aumento mamário. O período pós-operatório será um pouco
mais prolongado e com mais cuidados em relação ao processo de cicatrização.
Não trocar a prótese pode implicar no aparecimento das
complicações?
Segundo o especialista, não há mais a necessidade de troca das próteses a cada dez anos, como preconizado nas primeiras gerações de implantes. Nos casos em que havia manifestações clínicas, a mais comum era a migração de partículas do silício e até os linfonodos axilares, que podiam se tornar doloridos, endurecidos e inflamados.
Atualmente, o silicone possui alta coesividade e sua superfície externa é mais resistente. Isso possibilita que seu formato permaneça estável e, em caso de ruptura, limita o extravasamento do gel.
“Mesmo assim, a paciente deve retornar anualmente ao seu cirurgião
plástico para realizar exames de imagem conforme a necessidade. Com a evolução
das próteses e melhora da sua qualidade ao longo dos anos, o chamado ‘bleeding’
é um fenômeno que teve sua incidência diminuída drasticamente”, finaliza Luís
Felipe Maatz.
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